As desigualdades sociais presentes no Distrito Federal são ainda mais acentuadas para o sexo feminino. As mulheres vivem o céu e o inferno no mercado de trabalho brasiliense. De um lado, estão mais ocupadas que as moradoras dos estados brasileiros e assumindo mais seus próprios lares. Mas, por outro lado, a taxa de desemprego delas, que é a segunda mais alta do país, não diminui no mesmo ritmo que a dos homens. Os salários diminuíram, ao contrário do verificado no contracheque dos profissionais do sexo oposto. A discrepância entre a renda masculina e a feminina é superior à média nacional e se acentuou nos últimos anos. O resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) referente a 2008, divulgada na sexta-feira última pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e considerada a principal radiografia da situação socioeconômica do país, mostra que ainda há muito a ser feito pela igualdade econômica entre mulheres e homens, principalmente no Distrito Federal.
Em nenhuma outra unidade da Federação, há tantas profissionais do sexo feminino como no DF. Para cada grupo de 100 pessoas empregadas na capital, 46 são mulheres, enquanto a média nacional é de 42. O Rio Grande do Sul é o segundo colocado, com duas profissionais a menos que o DF (veja quadro). Assim como são mais atuantes no mercado de trabalho, elas também são mais presentes na chefia dos lares. De cada 100 domicílios da cidade, 45 estão sob comando feminino. Antes, esse poder era menor. Elas eram responsáveis por 41% das famílias. O salto desde 2007 colocou as brasilienses bem à frente da média nacional, de 34,9%.
Mas ter mais autonomia é pesado. A baiana Dilma Ferreira de Souza, de 42 anos, moradora da Estrutural sabe bem qual é essa dimensão. Mãe de seis filhos, dos quais quatro moram com ela, é responsável sozinha pelo sustento da casa. O trabalho de ajudante de cozinha de um restaurante na Cidade Estrutural lhe garante, mensalmente, R$ 360. ;A gente compra o que dá para comprar, mas trabalho justamente para dar uma vida melhor aos meus filhos. Eu me considero uma gurerreira e me orgulho disso. Sou pai e mãe, ao mesmo tempo;, diz. Para ela, o fato de, hoje, mais mulheres chefiarem domicílios está relacionado à maior responsabilidade e determinação femininas. ;A mulher está tendo a decisão de não depender mais do homem. Isso prova que ela é capaz.;
Discrepância elevada
A cidade com a renda mais elevada do país é injusta com as mulheres. Assim como os homens, elas também ganham mais em comparação às trabalhadoras dos outros estados. Mas o ritmo de reajuste de salários não segue o mesmo dos homens.
Ao contrário. A renda média das mulheres brasilienses caiu 1,4% de 2007 para 2008, enquanto a dos homens teve um incremento de 1,9%, no mesmo período. Com isso, aumentou a discrepância entre o que é pago para cada sexo. Em 2007, as mulheres ganhavam o equivalente a 73% do salário deles. No ano passado, essa diferença ficou em 70,6%. A média nacional é de 71,5%, mas, em alguns estados, como no Amazonas, elas chegam a ganhar o equivalente a 98,6% da remuneração paga ao sexo oposto. ;Historicamente as mulheres têm salários menores. Esse deslocamento no último ano pode estar ligado a um aumento do número de mulheres ocupadas em posições com salários bem abaixo da média, como as domésticas e em serviços pessoais, ocupações que, normalmente, são mais desenvolvidas por elas;, analisa o economista Júlio Miragaya, integrante do Conselho Federal de Economia.
Para tentar igualar sua renda à do marido, a doméstica Fátima Amâncio, de 32 anos, tem que acumular três empregos. Mesmo assim, ela ainda ganha menos. Atualmente, ela trabalha em duas residências diferentes e vende roupas para tirar R$ 1 mil por mês. O companheiro recebe o dobro como terceirizado de uma empresa pública. ;Acho que não preciso ganhar mais que ele (marido). Mas a mulher também pode trabalhar e ter uma boa renda. Hoje, não falta emprego para nós;, acredita.
Mas conseguir uma vaga não está tão fácil, como diz Fátima. Além da queda salarial, as brasilienses enfrentaram problemas na hora de buscar um posto de trabalho. A redução da taxa de desemprego se estendeu a elas, mas não na mesma proporção. De 2007 para 2008, o nível de desocupação na cidade passou de 11,8% para 11,1%. No caso dos homens, a redução foi de 9,0% para 8,0%. Para as mulheres, diminuiu em ritmo mais lento ; de 14,9% para 14,4%.
A desempregada Maria do Carmo da Conceição, de 24 anos, sentiu essa dificuldade. Sem ocupação profissional há quase um ano, ela tem de sustentar o pequeno Pedro Henrique Alves da Conceição, de apenas dois anos e três meses de vida. Nesse caso, quem abastece as necessidades residenciais é o marido. Maria representa uma gama de mulheres que ainda encontra empecilho na hora de ser contratada. ;Acho que o homem ainda sai na frente e tem mais facilidade para arrumar um emprego. Eles têm maior força física e conseguem mais empregos nas áreas que exigem essa força;, avalia.