Cidades

Paulo Cabral fez sucesso também na política

postado em 20/09/2009 19:55
A morte do jornalista Paulo Cabral de Araújo pôs fim à trajetória de um homem que teve presença marcante nos acontecimentos sociais, políticos e econômicos do país nas últimas cinco décadas. Cearense de Guaiúba, ele optou pelo campo da comunicação ainda cedo. Tinha 9 anos de idade quando criou seu primeiro jornal, O Exemplo, editado pelo Centro Infantil de Cultura, de Fortaleza, e iniciou a carreira profissional aos 16, aprovado em concurso público da Ceará Rádio Clube. Seu notável desempenho na área o levaria, mais tarde, a exercer papel crucial na história dos Diários Associados, principalmente pela relação de confiança que estabeleceu com Assis Chateaubriand. Mas, apesar da dedicação ao jornalismo, Cabral acabaria por trilhar também os caminhos da política e a exercer a função de diretor de instituições financeiras.

Aos 28 anos, Paulo Cabral ainda era radialista na cidade de Fortaleza quando decidiu concorrer ao primeiro cargo público, o de prefeito da capital cearense. Eram as eleições de 1950 e havia pouco entusiasmo do eleitorado com os candidatos lançados ; o empresário Diogo Vital de Siqueira e o pouco expressivo Erestides Martins. Sem vivência política partidária e sem apoio dos partidos tradicionais, o radialista disparou na preferência do eleitorado e sua vitória foi a primeira manifestação, no estado, do poder da mídia. "Foi o rádio que abriu para mim as portas do pequeno sucesso que obtive na minha vida profissional e empresarial", declarou ele em entrevista à TV Senado, em 1999. Cabral foi prefeito de 1951 a 1955, emendando com um mandato de deputado estadual, de 1955 a 1959.

Voltaria a ocupar cargos públicos em duas ocasiões. Foi membro da comissão de supervisão dos Órgãos Autônomos do Ministério da Justiça, de 1959 a 1961, e secretário geral do Ministério da Justiça durante todo o governo do presidente Ernesto Geisel, de 1974 a 1979. Nesse meio tempo, enriqueceria seu currículo ocupando também postos no mercado financeiro, no início dos anos 1970, como diretor do Banco Bandeirantes do Comércio e presidente do Conselho de Administração da Cia. Bandeirantes de Crédito.

Mas foi no campo da comunicação que Paulo Cabral deu sua maior contribuição ao país, contracenando com figuras importantes da nossa história, como o próprio Chateaubriand ao presidente Fernando Henrique Cardoso. "Deus, que me tem dado tantos privilégios, conferiu-me também o de privar da amizade de Dr. Paulo Cabral e o de poder externar, no dia a dia da minha vida profissional e política, o meu respeito e a minha admiração por esse grande homem", disse o então senador José Roberto Arruda, em pronunciamento em plenário, em 1999, durante sessão solene em comemoração aos 75 anos dos Diários Associados.

No Planalto
Paulo Cabral passou a fazer parte dos Diários em 1944, quando Assis Chateaubriand comprou a Ceará Rádio Clube. Ocupou, no conglomerado, diferentes funções, como a de procurador-geral, assumida em 1979, a de assessor da presidência, a partir de 1985, e, pouco tempo depois, a de diretor-executivo do Correio Braziliense, que ocuparia até 2002. Nessa condição, esteve no Palácio do Planalto duas vezes a convite do então presidente Fernando Henrique, que quis parabenizá-lo, primeiro pelo prêmio World;s Best Design, recebido pelo Correio, e depois pelo apoio do jornal à implantação do Código de Trânsito Brasileiro.
[SAIBAMAIS]
Também foi na condição de representante dos Diários, que Paulo Cabral assumiu a presidência da Associação Nacional de Jornais (ANJ) por três mandatos consecutivos, a partir de 1994, quando encampou lutas como a de exigir dos governantes políticas educacionais para redução do analfabetismo e da evasão escolar e a de estimular nos jornais uma orientação editorial que contemplasse o público jovem. Na ocasião, previa: "O jornal de papel não desaparecerá, mas precisa utilizar as novas tecnologias para ampliar a prestação de serviços". Em 2000, Paulo Cabral de Araújo seria eleito também para o cargo de diretor da Sociedade Inetramericana de Imprensa (SIP), sendo então o único brasileiro na direção da entidade de defesa da liberdade de expressão, que reúne 1.300 jornais.

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