Cidades

Autor do triplo homicídio tinha informações das quais apenas alguém próximo dos Villela saberia

Renato Alves, Flávia Duarte
postado em 21/09/2009 08:38
Responsável pelas investigações sobre o triplo homicídio da 113 Sul, a delegada Martha Vargas afirmou, pela primeira vez, não ter dúvidas de que o assassino era conhecido das vítimas ou tinha informações privilegiadas passadas por alguém próximo a elas. A chefe da 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul) sustenta a suspeita com base no aparato de segurança instalado no cenário do crime. As câmeras do circuito de monitoramento do Bloco C filmam, mas não gravam, e o apartamento 601/602, onde policiais encontraram as três pessoas mortas, contava com uma placa de empresa de vigilância na entrada e um alarme desativado. Para a equipe que investiga o caso, um bandido comum, despreparado, não se arriscaria a entrar em um ambiente assim se não soubesse desses detalhes.

Martha Vargas deu as declarações no começo da noite de ontem, na 1; DP, onde disse ter passado a tarde analisando depoimentos e checando álibis de suspeitos. ;Não temos dúvida de que há alguém próximo da família ou dos seus empregados;, ressaltou, em rara entrevista sobre o andamento da apuração, mas sem detalhar o trabalho da sua equipe. Ela e os agentes da 1; DP vinham seguindo à risca a recomendação de não falar com a imprensa, passada pela direção da Polícia Civil do Distrito Federal. Hoje, a investigação entra em sua quarta semana. O casal de advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Villela, 69; e a empregada deles, Francisca Nascimento da Silva, 58, foram vistos com vida pela última vez no fim da tarde de 28 de agosto. Peritos acreditam que tenham sido assassinados na noite do mesmo dia, dentro do imóvel onde os Villela moravam e a funcionária deles passava a semana. Mas os corpos, com marcas de esfaqueamento(1), só foram encontrados na noite de 31 de agosto.[SAIBAMAIS]

Na próxima segunda-feira, a investigação completa um mês. Em casos de assassinatos no DF, quando a polícia da área onde ocorreu o crime não consegue levantar provas fortes que possam levar à prisão do suspeito em um prazo de 30 dias, o inquérito costuma seguir para a antiga Delegacia de Homicídios, hoje chamada de Coordenação de Investigação de Crimes contra a Vida (Corvida). Mas, no caso da 113 Sul, o diretor-geral da Polícia Civil, Cléber Monteiro, garantiu que nada muda no comando das apurações (Martha Vargas também tem o direito de pedir a prorrogação do inquérito). Ele já afirmou que a equipe da 1; DP tem contado com apoio de outras unidades ; como o Serviço da Inteligência ;, do Instituto de Criminalística (IC) e da própria direção da Polícia Civil.

À espera dos laudos
No entanto, após ao menos 12 perícias no Bloco C da 113 Sul e no apartamento 601/602, nenhuma prova irrefutável contra qualquer pessoa foi encontrada ; ou divulgada. No último dia 18, o Instituto de Identificação (II) conseguiu detectar, em objetos retirados do cenário dos assassinatos, impressões digitais estranhas aos moradores do imóvel. São de suspeitos, garantiu a delegada. Mas o laudo do IC, que poderia descrever como ocorreu o crime, ainda não ficou pronto, apesar de ter sido anunciado para a segunda-feira passada e, depois, sexta-feira.

;Só com o laudo é que poderemos montar uma estratégia de acusação;, ressaltou o criminalista Raul Livino, designado pela Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF) para acompanhar o caso que teve entre as vítimas dois dos integrantes da entidade. O crime, em princípio, não tem uma testemunha-chave, muito menos ocular. Por isso, as provas periciais são tão importantes para se apontar um suspeito e pedir a prisão dele.

No imóvel dos Villela estava instalado sistema de alarme por sensor que, uma vez acionado, permitiria a detecção de tentativas de intrusão no ambiente monitorado. No entanto, a empresa de segurança privada contratada pela família reiterou que, embora tecnicamente em estado perfeito, o alarme não estava ativado no dia do crime. Cléber Monteiro afirmou que o sistema não estava em operação na residência dos Villela havia três meses.


1 - Sem defesa
Os laudos do Instituto de Medicina Legal (IML) confirmaram que José Guilherme Villela, Maria Carvalho Villela e Francisca Nascimento da Silva morreram sem chance de se defenderem. Não apresentavam marcas de que foram amordaçados e amarrados nem ingeriram qualquer tipo de substância química. Mas a polícia desconfia que os três podem ter sido sedados com um produto volátil, como éter ; que é inalado e desaparece do organismo.

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