Mariana Flores
postado em 22/09/2009 08:10
A classe alta de Brasília está encolhendo. A parcela dos moradores do Distrito Federal que ganha acima de cinco salários mínimos, ou seja, R$ 2.325, diminuiu 12,5% no ano passado. Cerca de 46,6 mil pessoas de 10 anos ou mais deixaram as classes média e alta. Em 2007, esse contingente representava 19,7% dos trabalhadores. Caiu para 17,2% em 2008, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (1)(Pnad) divulgada sexta-feira última pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A retração não foi verificada em âmbito nacional com tanta intensidade. A parcela dos mais ricos no país caiu de 6,94% para 6,27% do total de trabalhadores.Com a redução, a renda média do brasiliense não cresceu no mesmo ritmo do Brasil no período. De 2007 para 2008, aumentou apenas 0,37%, enquanto no restante do país o rendimento ficou 1,6% maior. Ainda assim, o morador do DF tem os maiores salários e ganha, em média, o dobro do restante do país ; R$ 2.117. A redução dos altos rendimentos é atribuída a um aumento do emprego em setores com piso inferiores. Destaque para a construção civil, que empregou 11,4 mil pessoas de um ano para o outro, mais de um terço do total que conseguiu uma vaga no período.
Com a redução do número de abastados na proporção de trabalhadores, aumentou o de pessoas que ganham menos de dois salários mínimos. Em 2007, esse grupo representava 31,13% dos trabalhadores, no ano passado, eram 33,45%. ;Ter criado emprego para quem ganha pouco, ou seja, tem menos qualificação, não é um fato ruim. Temos um desemprego muito grande na cidade e é preciso ocupar essas pessoas;, afirma o professor de economia da Universidade Católica de Brasília Adolfo Sachsida.
Setor público
Na opinião do economista Júlio Miragaya, integrante do Conselho Federal de Economia, a contratação de pessoas com renda mais baixa faz parte de um movimento cíclico do mercado de trabalho. ;Este dado não aponta que a renda de Brasília vai cair. O que houve é que, como nos últimos anos, foram contratados muitos servidores públicos, eles começaram a tomar posse e a movimentar a economia como um todo, consumindo mais, comprando imóveis, por exemplo. Com isso houve aumento do número de pessoas empregadas em outros setores, que exigem menor qualificação que o serviço público, que é o que puxa a renda média do DF para cima.;
O movimento mais acentuado da economia tem ajudado o pedreiro Erickson Augusto Bardi, de 34 anos, morador de Ceilândia. Autônomo, ele comemora um aquecimento do setor da construção civil. Atualmente está tirando por mês cerca de R$ 1,3 mil ; o equivalente a 2,7 salários mínimos, assim como 7,50% da população do DF. Em 2007, quando trabalhava com carteira assinada, não ganhava mais de dois salários mínimos, segundo ele. E a expectativa é melhorar nos próximos meses.
Apesar de ser a unidade da federação com maior quantidade de pessoas com renda elevada, os moradores perdem poder de compra com os custos muito altos. A servidora Natália Gimenez, de 22 anos, faz parte do seleto grupo de pessoas que ganham entre 10 e 20 salários mínimos ; 5,43% dos trabalhadores estão nessta faixa ;, mas reclama que não sobra muito dinheiro no fim do mês. Agora, ela consegue poupar 25% de seu salário para realizar o sonho da casa própria. Mas, só consegue por ser solteira e ainda morar na casa dos pais, no Lago Norte.
1 - Radiografia
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) apresenta os principais indicadores socioeconômicos do país e é levantada anualmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Na semana passada o órgão divulgou os dados referentes a 2008.
Pobres são mais 45 mil
Apesar de ter a renda média mais elevada do país, o D F abriga 14,35% de pessoas que vivem com menos de um salário mínimo, R$ 465. O segmento (24,93%) é o segundo menor do país, atrás apenas de São Paulo, com 13,55% da população nessa faixa. Segundo a Pnad, o contingente dos mais pobres aumentou em 45 mil, de 2007 para 2008, no DF.
Da população local com 10 anos ou mais (2,357 milhões), 3,37% vivem com metade de um salário mínimo. Outros 10,98% ganham entre meio e um salário mínimo. O vendedor autônomo Reginaldo Alves Silva, 33 anos, sustenta mulher e três filhos com apenas R$ 200 mensais. Esse valor é resultado da venda de doces, biscoitos, frutas e verduras em uma banca da Estrutural. Segundo Reginaldo, o dinheiro dá apenas para o básico. ;Dá só para comprar comida;.