postado em 23/09/2009 09:32
Edson Luís Renato Alves
e Ary Filgueira
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) já dá como certo que o triplo assassinato da 113 Sul, ocorrido em 28 de agosto, foi contratado. ;Sabemos que existe um mandante e um assassino;, admitiu ontem à noite uma fonte policial envolvida nas investigações. O trabalho de apuração é comandado pela chefe da 1; Delegacia (Asa Sul), delegada Martha Vargas. A fonte, porém não detalhou se os agentes já têm o nome do suposto mandante. A tese de crime por encomenda ganhou força há cerca de duas semanas, em detrimento da hipótese de latrocínio comum (roubo com morte).
Agora, os policiais apostam suas fichas na perícia para identificar o executor dos homicídios. No entanto, tudo indica que o cenário do crime, o apartamento 601/602 do Bloco C, foi limpo antes da descoberta dos corpos, três dias após as vítimas morrerem esfaqueadas. Apesar das 12 visitas ao imóvel, os peritos não conseguiram encontrar marcas de dedos suspeitas e nítidas, diferentemente do que havia sido revelado por fontes ligadas à investigação. Os policiais detectaram apenas fragmentos de impressões. Há 15 dias, com ajuda de sofisticados programas de computador (leia Para saber mais), técnicos tentam reconstruir as digitais daqueles que seriam os assassinos.
Mas os peritos também enfrentam obstáculos nesse trabalho, por isso não há prazo para sua conclusão nem a certeza de identificar um suspeito. Os fragmentos estão em péssimo estado: manchados e sujos de produtos como gordura. Para os investigadores, mais um sinal de que o autor (ou autores) do crime fez uma faxina no apartamento após matar os advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Mendes Villela, 69, e a empregada do casal, Francisca Nascimento da Silva, 58. Os advogados eram donos do imóvel de 330 metros quadrados, onde Francisca trabalhava de segunda a sábado.
Faca
A forma como os executores agiram no apartamento da família Villela não [SAIBAMAIS]deixa dúvidas entre os investigadores de que os criminosos queriam se certificar de que o casal de advogados e a doméstica estavam mortos. ;Essa tendência é justificada pelo número de facadas desferidas nas vítimas;, explica um delegado ligado à cúpula da Polícia Civil. Segundo ele, somente a perícia da dinâmica do crime vai revelar, por exemplo, a sequência das mortes. Em princípio, policiais estimam que Francisca foi a primeira a ser golpeada, pois apenas o corpo dela tinha perfuração nas costas.
A polícia avalia ainda os motivos que levaram os criminosos a matar os Villela e Francisca com uma faca, e o porquê de tantas perfurações ; 73 ao todo. O número de golpes, acreditam os investigadores, pode revelar o estado emocional do criminoso (ou criminosos). ;Há a possibilidade de o autor ter desferido os golpes para se certificar de que as vítimas realmente iriam morrer, ou estava com muita raiva ou ainda nervoso;, diz a fonte da PCDF.
O uso de uma faca ainda pode ter sido uma estratégia do assassino para dar conotação diferente ao crime, como direcionar as investigações de homicídio para latrocínio, justamente para confundir a polícia. ;As pessoas falam que, se fosse essa a motivação, os executores utilizariam uma arma com silenciador, mas isso é pouco provável. A arma teria que ter adaptador, normalmente importado e de uso restrito;, observa a fonte. ;Tudo foi muito bem feito e com planejamento.;
PARA SABER MAIS
Tecnologia sofisticada
A Polícia Civil do Distrito Federal detém um dos mais modernos meios de identificação criminal do país. O Automatic Fingerprint Identification System (Afis) ; Sistema de Identificação Digital Automatizado ; é um banco de dados de impressões digitais interligado a outras secretarias de Segurança Pública do país e à Polícia Federal. Com ele, pode-se localizar uma pessoa até por meio de pequenos fragmentos de digitais. A PF tem hoje 800 mil pessoas cadastradas e as consultas estão disponíveis para as demais instituições policiais. No DF, o Afis foi instalado em 18 de agosto (10 dias antes do crime da 113 Sul) e este deverá ser o primeiro teste sobre seu funcionamento. Na primeira vez em que usou o mecanismo, em 2004, a PF localizou um criminoso em Alagoas a partir do fragmento de digital deixado no vidro de um carro roubado.