postado em 25/09/2009 07:10
"O cerrado agora tem a mesma prioridade da Amazônia. Vamos frear o desmatamento.; O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse a frase logo após descer de um trator na área rural de Cristalina (GO), a 100km de Brasília. Ele acabara de acompanhar um servidor na derrubada de 19 fornos de uma carvoaria ilegal que funcionava ali desde 2005 e estava com a licença vencida havia dois anos. A ação é só o início dos esforços para reduzir drasticamente um desmatamento que chega a 20 mil quilômetros quadrados por ano e já destruiu metade do bioma típico do Planalto Central. Minc quer barrar o crédito governamental às cidades que mais desmatam e proibir a comercialização de carvão sem certificado de origem.
O ministro fez questão de acompanhar a fiscalização, que ontem contou com o apoio de 22 policiais militares ambientais de Goiás e servidores do próprio ministério e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). ;Quero ver com meus próprios olhos o trabalho e incentivar o pessoal que passa dificuldade para combater esses crimes ambientais;, disse Minc. A comitiva rumou para Cristalina bem cedo, por volta das 7h de ontem.
Apontado como o responsável pela irregularidade, Sebastião Pinto Brandão foi pego de surpresa pelos fiscais. De cabeça baixa, escutou o sermão do ministro. ;Desmatar plantas nativas é crime, assim como operar uma carvoaria sem licença. O senhor sabia disso?;, questionou Minc. ;O senhor será levado à delegacia de Cristalina e terá de responder por crime ambiental. Será multado e está sujeito à cadeia. Não pensou nisso antes?;, acrescentou, diante do silêncio do homem identificado como dono da Fazenda Buritizal, onde ocorreu o flagrante.
A fazenda já está bem devastada. Há pouca vegetação nativa nos 4km que separam a porteira da carvoaria irregular. Sobra pasto. Os fornos tinham capacidade para transformar em carvão dois hectares de mata virgem por semana. Neles, foram encontradas espécies como Sucupira, Pau Terra e Barbatimão.
Cobertura nativa
Para combater a destruição do cerrado, o Ministério do Meio Ambiente pretende colocar em prática ações já aplicadas na região Norte. A ideia é cortar o crédito para as 60 cidades que menos preservam a vegetação. ;Além disso, quero que o carvão só seja vendido para o consumidor com garantia de origem. Espero conseguir isso até o fim do ano;, adiantou Minc, que também prometeu instalar barreiras ambientais nas principais estradas do Centro-Oeste para conferir a documentação de cargas de madeira e carvão.
O cerrado já perdeu 48% de sua cobertura nativa. Hoje, o principal foco de preocupação dos órgãos ambientais é o oeste da Bahia, na divisa com Tocantins e Goiás. O problema ali é a expansão das plantações de soja mais do que o carvão ou a pecuária.
A operação em Cristalina foi a terceira realizada na região do cerrado. A primeira ocorreu no ano passado, justamente na Bahia. A segunda, há dois meses, em outras carvoarias de Goiás. Ontem, o dono da fazenda teve um trator apreendido e receberá multa ; o valor ainda foi definido.
Cadeia
Retirar a mata nativa é crime e pode render pena de até três anos de prisão, além de multa de R$ 50 mil a R$ 10 milhões. As punições estão previstas na Lei Federal n; 9.605/98, conhecida como Lei dos Crimes Ambientais, legislação que aproximou o Brasil do que há de mais avançado sobre o assunto no mundo.