postado em 26/09/2009 08:03
Produtores do Distrito Federal forneceram 19,26% dos alimentos vendidos na Ceasa em agosto deste ano, o equivalente a 5.458.773kg de comida. Goiás e Bahia saíram na frente, com participação de 25,91% e 19,62%, respectivamente. O DF tem 19.192 propriedades rurais e é forte no cultivo de hortaliças e grãos. A unidade da federação é autossuficiente em inúmeras hortaliças, como abobrinha, alface, berinjela, cenoura, chuchu e mandioca. A produção desses alimentos em 2008 superou a demanda da população local ; o excesso é vendido para outros estados. O produtor José do Carmo, 54 anos, planta legumes e hortaliças há oito anos na Vargem Bonita, no Park Way. A colheita é acomodada em caixas de plástico e levada à Ceasa todas segundas e quintas-feira. Nos dois dias da semana, pequenos produtores do DF se reúnem em um galpão da feira para comercializar os alimentos. José leva alface, cebola, couve, brócolis, cenouras, rabanetes e outros vegetais ; tudo colhido na véspera. O produtor enche a Kombi durante a madrugada e sai de casa às 3h para ter a banca pronta às 5h30, quando chegam os primeiros clientes. ;Eles vêm com lanterna para escolher porque ainda está escuro. Até as 9h é quando eu vendo mais;, diz. José torce para os produtos acabarem até o meio-dia, quando ele tem que voltar para casa e começar a colheita.
O DF é a principal origem de vários alimentos vendidos na Ceasa. Em agosto, quase todas as berinjelas vendidas no espaço (93% do total) foram cultivadas nas proximidades de Brasília. É o mesmo caso das cenouras (86%) e das beterrabas (78%). No entanto, a falta de frutas equilibra a balança. De acordo com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater/DF), o déficit da produção de frutas é de 66%. Por aqui não há maçãs, por exemplo, e morangos e tangerinas só nascem em certos períodos do ano. Em agosto, as melancias da Ceasa vieram principalmente de Goiás (2,8 milhões de quilos) e de Tocantins (2,5 milhões de quilos). Os comerciantes buscaram mamão formosa na Bahia (7,6 milhões de quilos) e maracujá em Goiás (770 mil quilos).
A procedência dos alimentos varia de acordo com a época do ano. Durante a seca, os produtos do DF entram em alta. A baixa umidade e as temperaturas amenas do inverno favorecem o controle das pragas na lavoura e a colheita é abundante. ;Nós hoje produzimos a maioria das hortaliças e somos autossuficientes. Aqui você tem clima, solo, tecnologia e uma extensão rural que leva essa tecnologia ao produtor;, explica o gerente de desenvolvimento econômico da Emater, Renato Lima Dias. Ele lembra que, na época da inauguração de Brasília, imaginava-se que a região dependeria da produção de outros estados. A vinda da colônia japonesa ajudou a desenvolver as áreas rurais e, até 2006, a produção só cresceu.
De toda parte
O produtor José do Carmo nem imagina o destino das bananas, cenouras e rabanetes que colhe na Vargem Bonita. Em um bloco de papel, ele anota a placa do caminhão do cliente e leva os alimentos até o estacionamento. Por ali, há placas do DF, de cidades goianas do Entorno e até da Bahia. Compradores enfrentam centenas de quilômetros em rodovias para fazer economia em Brasília.
Uma vez por semana, o feirante Adaildo Nunes, 34 anos, percorre os 650km que separam a cidade de Santana, na Bahia, da capital federal. Ele garante que as 12 horas de viagem valem à pena. ;Os preços aqui são melhores. Compro cenoura, batata, maçã;, disse. Só com as maçãs, ele economiza R$ 4 em cada caixa de 100 unidades. Adaildo chega à Ceasa por volta das 4h e enche o caminhão com 12 toneladas de vegetais. Ele precisa pegar a estrada antes do meio dia para chegar a tempo em Santana. As compras feitas em Brasília são vendidas em uma feira da cidade baiana às sextas-feiras e aos sábados.
Os compradores vêm de Águas Lindas, Formosa, Valparaíso e outras cidades do Entorno para abastecer pequenos sacolões e armazéns de Goiás. O comerciante Raimundo Barbosa da Conceição, 50 anos, gasta R$ 400 de gasolina todo mês para buscar vegetais na Ceasa. Ele mora na Cidade Ocidental (GO) e vem a Brasília duas vezes por semana. Raimundo compra pelo menos uma tonelada de comida, entre cenoura, pimentão, abobrinha e verduras. Os alimentos seguem para as prateleiras do mercado que ele administra na cidade goiana. ;A oferta de lá é pouca, todo mundo vem comprar aqui;, afirmou. O que entra no mercado quinta-feira tem que ser vendido até domingo, quando o comerciante faz nova reposição.