Cidades

Taxa de fecundidade no Distrito Federal despenca 30% em um ano

Em 2008, nasceram 30 mil crianças na capital federal, número mais baixo da década. Cada vez mais, casais optam por um só ou nenhum filho

Helena Mader
postado em 27/09/2009 07:16
A advogada Tatiana Santos de Aguiar, 35 anos, tem dois irmãos. Os pais do servidor público Antônio Roger Pereira de Aguiar, 37 anos, tiveram três filhos. Na contramão dessa vivência, o casal decidiu seguir por um outro caminho e planejou ao extremo a chegada do filho Guilherme, de um ano e meio. A vontade de ter apenas uma criança em casa era tão grande que Roger se submeteu a uma vasectomia duas semanas após o nascimento do garoto. ;Nunca pensamos em outra gravidez. Assim, podemos dar ao Guilherme toda a atenção e investirmos mais no futuro dele;, conta Tatiana.

Tatiana e Antônio planejaram a chegada de Guilherme e não poupam investimentos no único filhoA família Aguiar não é exceção. Casais com apenas um filho e até mesmo mulheres que optam por jamais engravidar são cada vez mais comuns. Essa nova mentalidade já é uma realidade em todo o Brasil e, principalmente, nos países de primeiro mundo. A novidade é que as taxas de fecundidade nunca foram tão baixas em Brasília. No ano passado, nasceram 30 mil crianças no Distrito Federal, número 30% inferior ao registrado em 2007. Essa taxa é a mais baixa da década. Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados foram coletados em 2008.

A cobrança por uma maior capacitação profissional e as exigências do mercado de trabalho levam as mulheres a adiar cada vez mais a gravidez. A vontade de fazer um investimento alto na educação das crianças também contribui para os casais terem menos filhos.

Grande festa
Os Aguiar, por exemplo, não poupam investimentos para o filho único. Guilherme tem quatro babás e dispõe de uma brinquedoteca em casa. O primeiro aniversário do menino foi celebrado com uma grande festa, que custou à família R$ 95 mil. ;Se tivéssemos mais de um filho, não poderíamos oferecer toda essa estrutura, que eu acho fundamental;, explica a advogada Tatiana. ;A vida é muito corrida, o pouco tempo que tenho quero dedicar integralmente a ele;, acrescenta Antônio Roger.

Hilton e Aparecida tiveram Felipe só depois de quitar o apartamentoO número de filhos por mulher também cai ano a ano (veja arte). Na década de 1960, cada família tinha cerca de seis filhos. Nos anos 1990, a média de filhos por família já era de 2,3. Hoje, no Distrito Federal, cada mulher tem, em média, 1,82 filho ; índice abaixo da média nacional, que é de 1,95.

Esses dados estão fortemente ligados a uma grande mudança cultural na sociedade. Há 50 anos, era raro encontrar uma mulher que adotasse métodos anticoncepcionais. Mas de lá para cá, mudaram a mentalidade e a realidade do país. Hoje, a presença feminina no mundo do trabalho é forte e, para investir na carreira e nos estudos, a maternidade ficou em segundo plano. De acordo com o IBGE, 57,1% das mulheres brasilienses estão no mercado de trabalho atualmente.

A estatística Tirza Aidar, que integra o Núcleo de Estudos de População da Unicamp, destaca que a redução da taxa de fecundidade foi muito rápida no Brasil. ;Aqui, esse fenômeno levou apenas 50 anos. Nos países de primeiro mundo, isso ocorreu de forma mais lenta, o processo durou quase dois séculos;, compara a especialista.

Tirza Aidar destaca uma consequência positiva na redução do número de crianças. ;Com isso, fica mais fácil investir numa maior qualidade da escolarização;, afirma a estatística. ;A quantidade de casais que não quer ter filhos também tem crescido. As pessoas têm optado por investir na carreira e, assim, adiam o início da vida reprodutiva;, conclui.

A preocupação com a vida profissional foi preponderante para o planejamento familiar da servidora pública Maria Aparecida de Sousa Mendes, 36 anos. Depois do casamento com o analista de informática Hilton Pinheiro Mendes Sobrinho, 38, ela decidiu primeiro quitar o apartamento, passar em um concurso público para, depois, pensar em engravidar e ter o único filho Felipe, hoje com 5 anos. ;Foi tudo programado. Eu e meu marido somos de famílias grandes, mas só tivemos um filho porque as coisas hoje são muito diferentes. Temos outras prioridades;, explica Maria Aparecida. A ideia de ter um segundo filho não foi para a frente porque agora é o marido, Hilton, que pensa em fazer concurso público.

Leia a íntegra da matéria na edição impressa do Correio Braziliense.

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