Naira Trindade
postado em 29/09/2009 08:02
Em cima do palco, as rivalidades desaparecem. Crianças e adolescentes de diferentes idades ganham espaço para expor seus talentos. Os mais tímidos aprendem a se soltar. Os extrovertidos conquistam mais amigos pela espontaneidade. Os grupos rivais se unem para lutar a favor da paz e deixar o tema violência nas escolas fora da realidade deles. O Festival Cult da Paz, do Centro de Ensino Fundamental 1 da Estrutural, pretende acabar com brigas dentro das salas de aula e fazer da nova escola da Estrutural uma referência em educação. O festival começou ontem e segue até sexta-feira com programações culturais, como apresentação de músicas e corais, danças, desfiles e peças teatrais. Os atores principais desse evento são os 700 alunos de 5; a 8; séries da escola. Moradores da cidade campeã da década em mortes violentas no Distrito Federal ; conforme levantamento feito pela Polícia Civil em 2009, nos últimos 10 anos, houve 7,7 assassinatos para cada 10 mil habitantes na Estrutural ;, os estudantes querem mudar o conceito do local. ;Aqui, não mora só marginal e criminoso, não. Aqui, tem gente honesta, gente séria e trabalhadora;, observa a aluna da 6; série Paloma de Pádua Santos Oliveira, 13, sobre o histórico negativo que intitulou a cidade como perigosa.
A consciência de que o futuro melhor depende deles está na letra da música composta e cantada por Sarah de Almeida Breves, 14, aluna da 7; série do CEF 1. Vítima de bullying, a menina se inspirou no próprio sofrimento para caprichar em uma letra que incentiva a mudança do próximo. ;Esse é o lugar para a gente viver, vamos transformá-lo num lugar melhor. Juntos, faremos um novo mundo. Unidos, lutando pela paz. Vamos agir agora cuidando das nossas vidas, todas as pessoas precisam de paz. Homens e mulheres e também crianças necessitam disso para sobreviver. Brasil, um país seguro. Brasil, vamos pensar que depende de nós. Lutamos pela paz e para fazermos, todos juntos, um mundo melhor;, cantou a menina, diante dos 700 colegas do turno da manhã da escola.
A mudança de comportamento dos alunos ao serem transferidos do Guará para o novo centro de ensino da Estrutural foi uma das razões que motivou as professoras Nadjonei Castro, 40, e Márcia Diniz, 38, a implantarem projetos que melhorassem a convivência dos estudantes. ;Os alunos já estudavam juntos no Guará e, em abril, as turmas mudaram para a Estrutural. A diversidade (grupos rivais) dos alunos em sala de aula incitou as brigas. A medida foi tomada para que buscássemos juntos uma ação suficiente pela paz;, relatou a professora de história, autora do projeto Mude o rumo da história construindo paz.
Nas apresentações, os direitos dos idosos, mulheres, crianças e adolescentes foram debatidos por meio da dramaturgia. Os temas foram discutidos e ensaiados em sala de aula. Quem não encenou, desfilou. As gêmeas Gleiciane e Glaucicleide de Oliveira Gregório, 13, chamaram a atenção ao exibir sua beleza. Com olhos maquiados, cabelos soltos e saltos altos, elas desfilaram charme e elegância pela passarela improvisada no centro da quadra coberta. Ao lado delas, as modelos Poliana Aires Rodrigues dos Anjos, 12, Silvânia Gomes de Souza, 12, Paloma de Pádua dos Santos Oliveira, 13, Mariana Caroline de Jesus Gomes, 13, e Thainara da Silva Ribeiro, 11, alunas da 5; e 6; séries. ;Antes, se fizéssemos isso, seríamos vaiadas. Agora, fomos aplaudidas e nos sentimos melhores;, ponderou Mariana Caroline.
Valentões
Bullying é um termo inglês utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (bully, ou valentão) ou grupo de pessoas com o objetivo de intimidar, agredir ou perseguir colegas incapazes de se defender. Sarah já recebeu empurrões e xingamentos de colegas da escola. Ela alega que eles a acham metida, pelo jeito sério de ser.