Cidades

Okinawa Fest agita Vargem Bonita amanhã

Uma das maiores comunidades japonesas do Distrito Federal vive em vila pacata, formada por agricultores, e reúne hoje, em festa, conterrâneos que vivem em diversos lugares do mundo

postado em 02/10/2009 09:52
Embora o Japão esteja do outro lado do mundo, é possível acreditar que um pedaço de um de seus estados, a Ilha de Okinawa(1), veio parar no Distrito Federal. E instalou-se em Vargem Bonita, bairro próximo ao Park Way, que se concentra uma das maiores comunidades japonesas de Brasília. Em busca de manter as tradições vivas, eles montaram a Associação Okinawa de Brasília, que se reúne anualmente para o Okinawa Fest. Na ocasião, são servidas comidas típicas e há apresentações de música e dança. A terceira edição do evento ocorre amanhã, na Associação Nipo Brasileira de Vargem Bonita, em frente à Quadra 17 do Park Way, a partir das 18h. A entrada é franca.

Cristiane Hanashiro, presidenta da Associação Okinawa, com alguns participantes do eventoOs dois pratos mais tradicionais estão entre as maiores atrações da noite: o Okinawa sobá, feito de macarrão artesanal e carne de porco, e o Yagui jiru, sopa de carne de cabrito. Para fazer o Okinawa sobá são necessários dias de preparação. A massa usada é especial e vem de Campo Grande (MS). A carne de porco é selecionada para ter o mínimo de gordura, o que ajuda a manter a iguaria saudável. Acrescentam-se legumes, cebolinha e omelete em tirinhas e, logo depois, shoyu a gosto e pedaços de gengibre.

Já o Yagui jiru é um prato mais pesado, comparável à buchada de bode nordestina. ;Não confundam Okinawa sobá com yaksoba, não é a mesma coisa;, adverte a comerciante Cristiane Hanashiro, 32 anos, presidenta da Associação Okinawa de Brasília. Ela explica: ;O macarrão apropriado tem que ser comprado na véspera, para não estragar, e outro tipo não serve. Diferentemente do yakisoba, que é mais fácil de encontrar;, Vai ter também sushi e gyoza(2), entre outros. A tigela de sobá sai por R$ 15 e o preço dos demais pratos varia.

O avô de Cristiane, Setei Hanashiro, foi um dos pioneiros de Brasília e também um dos primeiros japoneses de Okinawa a chegar à cidade. Antes, ele vivia com a família em São Paulo, para onde se mudou à procura de trabalho. Quando soube da construção da nova capital, não pensou duas vezes em trocar de cidade. ;Minha família ajudou a trazer as tradições do nosso povo para o Brasil. Damos muito valor à união, ao respeito pelos mais velhos e às expressões de arte;, diz Cristiane.

Não só os moradores de Brasília vão participar da festa. Representantes de associações de japoneses em São Paulo devem enviar integrantes para performances culturais. A dança típica, o Odori, já tem até grupo especializado formado no DF, o Ryuryu Koku Matsuri Daiko, inspirado em outras companhias de dança de São Paulo e do próprio Japão. A música, conhecida como Taiko, é ritmada por tambores e gritos que libertam a energia dos artistas. A intenção é contagiar o público.

O caratê também estará bem-representado durante a festa. O mestre Takeo Hiyane, 73 anos, vai dar demonstrações do esporte. Foi Takeo quem trouxe essa arte marcial para o Brasil. Ele ensinava agentes da polícia aeronáutica a lutar, na época da ditadura. Hoje, ele vem ao Brasil somente a passeio em ocasiões especiais e é dono de 11 casas de ensino de massagem no Japão. ;Em Okinawa não é difícil encontrar pessoas com mais de 100 anos. O homem mais velho do mundo vive lá. O segredo é ginástica, caminhada e a nossa dieta;, revela Takeo, que aos 73 anos ainda sustenta uma estrutura física de musculatura forte e saudável. O filho de Takeo, o comerciante Luis Katio Hiyane, 44 anos, faz uma comparação para ilustrar o que essa ilha representa para o Japão. ;Dizem que Okinawa é a Bahia do Japão. O povo é alegre, gosta muito de música e dança. Além disso, a cidade vive de turismo. O Sobá é, para quem é de Okinawa, o que a feijoada representa para os brasileiros;, explica Luis.

Cultura preservada
Conservar a cultura de Okinawa e representá-la mundo afora é importante para nativos dessa terra e seus descendentes pelo que a cidade representou à época da Segunda Guerra Mundial. Okinawa era um ponto estratégico de guerra por estar localizado entre a China e Japão e ser conhecido como a porta de entrada da Ásia. Os habitantes do local tiveram de fugir do terror e se espalharam pelo mundo. Mas mantiveram os costumes. A cada cinco anos, ocorre o Encontro Mundial de Okinawa. Nele, por volta de 3 mil japoneses que VIVEM na África, México, Brasil, entre outros lugares, se juntam para celebrar as tradições. Cristiane cita um ditado popular de Okinawa para descrever a Okinawa Fest: ;Todos somos irmãos de coração quando nos encontramos;.

1-Ponto estratégico
Okinawa é um estado ao sul do Japão, formado por um conjunto de ilhas. A capital é Naha, na ilha de Honto. Os habitantes de Okinawa, embora sigam as tradições japonesas mais comuns, preservam seus próprios traços culturais. Esse foi um dos locais mais castigados pela Segunda Guerra Mundial, por ser um ponto geográfico estratégico para os ataques dos Estados Unidos. Ainda hoje há bases norte-americanas na região.

2- Pastelzinho nipônico
Gyoza é um tipo de pastel de origem oriental feito de carne de porco moída, farinha de trigo, repolho, nirá, óleo de gergelim, shoyu, gengibre e alho. Ele geralmente é servido como entrada. Mas pode ser saboreado frito, em sopas ou cozido.

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