Cidades

Projeto transforma crianças em autoras de estórias

Na imaginação infantil, não existem limites. Se depender de um programa especial desenvolido pelo Indi, as crianças devem continuar dando asas a suas fantasias e, de preferência, registrá-las em livros

Naira Trindade
postado em 03/10/2009 07:00
Aos três anos, Isabela Neves surpreende pela intimidade com o linguajar de um escritor. Natural: a pequena fantasiada de Chapeuzinho Vermelho ainda não sabe escrever. Mas a imaginação fértil a ajuda na adaptação de histórias, como a da personagem que ela resolveu incorporar na hora da entrevista. Com capa e gorro vermelhos, a pequena escritora da Editora Zebra, nome escolhido pela turma do maternal, Isabela recitava sobre o baile que Chapeuzinho Vermelho fez e sobre o príncipe que ela conheceu. Os leitores que conhecem a versão original sabem que a menina aterrorizada pelo lobo mau não viveu um conto de fadas. Mas a pequena , que é apaixonada pela Cinderela, faz questão de dar um final mais feliz à conturbada história da menina.

Os momentos de inspiração dos alunos do Instituto Natural de Desenvolvimento Infantil (Indi), no Lago Norte, são mais que simples redações. Ideias na cabeça, lápis e papel a postos. A criatividade e o pensamento livre se transformam em livros ilustrados com desenhos, recortes ou gravuras. Todos são ;publicados; pelas editoras fictícias criadas nas salas de aulas.

As criações dos quase 500 alunos estão espalhadas em todos os corredores da escola, prontas para o 25; Fest-Livro. O evento incentiva o hábito da leitura e da escrita e leva autores renomados para apresentar-se aos alunos de todas as séries. O convidado especial dessa edição é Ivan Zigg, que aproveita para lançar Só um minutinho. O livro conta a história do porquinho que pede sempre um pouco mais de tempo para fazer suas tarefas ou cumprir seus horários. O trabalho de percorrer escolas e ter contato com crianças e estudantes já é praxe para Ivan Zigg(1). Segundo ele, o circuito em escolas aproxima o autor do leitor. ;Ele é mais que uma divulgação do meu trabalho, é uma maneira de aproximar as crianças da leitura. Nessa escola, é perceptível a interação das crianças, dos familiares e dos professores com o projeto de leitura;, entusiasma-se o escritor e ilustrador carioca.

Ler, para os alunos do Indi, é um hábito diário. Mensalmente, os professores disponibilizam uma lista com 20 nomes de obras. Depois, os temas são discutidos em sala de aula e, em alguns casos, é pedida uma releitura em forma de livro. As alunas da 6; série Ana Gabriela Pereira de Vasconcelos, 12 anos, Bárbara Sales, 12, Nina Botelho Perez, 12, e Maria Eduarda Espíndola Mendes, 13, expuseram scrapbooks(2) e trabalhos textuais sobre O roque da cigarra, obra de Ivan Zigg.

Mesmo sendo o festival um evento literário, todas as disciplinas da escola interagem na produção de material. No trabalho de matemática, por exemplo, as formas geométricas dos prédios de Brasília ganharam destaque nos olhares dos alunos. Nas aulas de arte, a ideia era reproduzir, em uma plataforma com pregos e lã, os pontos turísticos do Distrito Federal. Apesar de nunca ter visitado o local que escolheu, Maria Eduarda, que mora na Asa Norte, inovou no desenho ao retratar o ícone que deu o nome à Praça do Relógio de Taguatinga. ;Eu queria fazer algo diferente do que todos estavam escolhendo;, contou a menina.

Na turma do 1; ano, os estudantes da Editora Ipê Luiz Felipe Silva Araújo, 6 anos, Luísa Ramos Maia, 7, Maria Luiza Almeida Valadão, 6, Navim Chandry Ruas, 7, e Gabriela Garoni Gomes, 6, apresentaram livros sobre monstros, castelos abandonados e meninas que cuidavam de cachorros. ;Eu gosto muito de animais, por isso escrevi A menina e a cadelinha;, conta Gabriela. Como todas as séries produzem materiais anualmente para o festival, cria-se um vínculo de interesse pela área literária. A aluna da 4; série do ensino fundamental Isabella Camarotti Rodrigues, 10, já publicou pelo menos sete livros nas editoras da escola. Só este ano, lançou quatro edições que tratam de histórias de ficção, terror, perfil e poemas. ;Meu sonho é ser escritora;, resume. E, com o incentivo dos amigos que leem suas histórias, ela deverá publicar, em uma editora real, as próximas obras escritas.


1- Artista premiado
Ivan Zigg é um artista polivalente. Compositor e cantor, trabalhou em teatro e ilustrou mais de cem livros infanto-juvenis. Ele ganhou o prêmio Jabuti de Melhor Ilustração para Livro Infantil em 2004.Também escreveu suas próprias histórias como O elefante caiu, Segredo e Só um minutinho.


2- Mensagens rápidas
Scrapbooks são cadernos de mensagens, normalmente utilizáveis por mais de uma pessoa, mais ou menos nos moldes do que há em sites de relacionamento como o Orkut. Cada um escreve sua impressão a respeito de diferentes temas, e todos podem ver as opiniões.


VEJA DE PERTO
O 25; Fest-Livro termina às 13h de hoje com a apresentação do autor Ivan Zigg. Os mais de mil trabalhos ficarão expostos durante a próxima semana nos corredores da escola, que fica no SHIN QI 03, Conjunto D, Área Especial.



Nessa escola, é perceptível a interação das crianças, dos familiares e dos professores com o projeto de leitura;
Ivan Zigg, artista convidado desta edição do 25; Fest-Livro, onde lançou Só um minutinho




O número
500

Número aproximado de alunos do Instituto Natural de Desenvolvimento Infantil (Indi), no Lago Norte

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