Cidades

Polícia Civil de Luziânia continua caça aos militares acusados de tortura

Adriana Bernardes
postado em 08/10/2009 08:57
A Polícia Civil de Luziânia (GO) acredita que os três policiais da Força Nacional de Segurança (FNS) acusados de agredir dois jovens da cidade serão identificados até esta sexta-feira (9/10). Os investigadores ouviram a primeira testemunha do caso ontem. Trata-se de um homem (a identidade não foi revelada) que levou a viatura da Força Nacional até o bar onde as vítimas estavam. Além disso, os agentes já estão com a escala de plantão dos militares da Força Nacional. E devem receber hoje o mapa com o horário e a relação das viaturas que saíram do batalhão na noite do último sábado, quando teria ocorrido o crime.

<i>Corte no pulso esquerdo de uma das vítimas: agressões e ameaças</i>Os amigos Pedro*, 17 anos, e João*, 23, acusam integrantes da FNS de tê-los torturado na noite do último sábado. Conforme o Correio publicou com exclusividade na terça-feira, eles disseram que foram abordados na porta de um bar pelos policiais da Força. Os agentes teriam começado a agredi-los quando encontraram munições. Os jovens foram então levados a um matagal, onde foram obrigadas a tirar a roupa e engatinhar. Eles teriam sido ameaçados de morte caso não contassem onde guardavam uma arma. ;Eles enfiaram um pedaço de pau lá (no ânus). Depois pegaram um faca na viatura e cortaram o meu braço. Antes de irem embora, me amarraram no pé de uma árvore;, relata João, que levou um corte no pulso esquerdo. Ele tem manchas roxas pelo corpo, assim como Pedro. O mais novo, porém, não sofreu violência sexual.

A testemunha ouvida ontem pela polícia disse ter recebido uma ligação por celular dizendo que havia uma pessoa armada no bar da mãe dele. ;Ele avistou uma viatura da Força Nacional e pediu ajuda. Os policiais lhe disseram que iriam até o bar, desde que ele os acompanhasse. Foi o que ele fez;, relatou o delegado titular da 2; Delegacia de Polícia de Luziânia, Rafael Pareja Camargo. No entanto, o homem disse que não viu as agressões dos policiais ; chutes e coronhadas que, segundo as vítimas, teriam sido praticadas ainda no bar. ;Ele disse que ficou longe e logo depois foi embora, mas confirmou que havia três policiais no carro;, acrescentou Camargo.

Denúncia atípica

A Secretaria Nacional de Segurança Pública, à qual o Departamento da Força Nacional é subordinado, informou que a Inspetoria da Força Nacional concluirá hoje o processo administrativo que apura se integrantes da corporação realmente agrediram os jovens. Ressaltou que esse tipo de denúncia é considerada atípica dentro da instituição e que o efetivo da Força Nacional, em Luziânia, está em treinamento constante e faz apenas a guarda da unidade, não policiamento ostensivo.

A lista dos policiais de plantão no último sábado reduz consideravelmente o número de militares suspeitos de terem participado da sessão de tortura. Segundo o delegado que apura o caso, 28 estavam em serviço. No entanto, 12 deles deram plantão no Gama e não estavam com viatura. Restam, portanto, 16. ;Assim que tivermos o mapa de saída das viaturas, cruzaremos as informações com o horário do fato e as características dos policiais e chegaremos aos autores;, comentou Camargo.

O ministro da Justiça, Tarso Genro, comentou as denúncias durante a cerimônia de formatura da turma do Batalhão Escolar de Pronto Emprego, ontem. Ele garantiu que se ficar provada a participação de militares da força no episódio, a punição será exemplar. ;Esses militares são os primeiros que mancham o prestígio da Força Nacional. Não prestam um desserviço apenas ao país ou ao agredir o Código Penal e o direito das pessoas, fazem movimento para destruir o conceito da força nacional.;

"Esses militares são os primeiros que mancham o prestígio da Força Nacional"
Tarso Genro, ministro da Justiça

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