Guilherme Goulart
postado em 09/10/2009 08:27
As investigações do triplo homicídio ocorrido há pouco mais de um mês na 113 Sul ultrapassaram os limites do Distrito Federal. Duas equipes da 1; Delegacia de Polícia, na Asa Sul, passaram o dia de ontem em Goiânia (GO) em diligências para levantar mais informações sobre as mortes do casal de advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Mendes Villela, 69; e da principal empregada deles, Francisca Nascimento da Silva, 58. Também ontem, a polícia conseguiu na Justiça a prorrogação, por mais 30 dias, da prisão temporária(1) dos dois principais suspeitos de envolvimento no crime, identificados como D. e A.A extensão do prazo é baseada em crimes cometidos anteriormente pelos dois, mas também em indícios da participação deles no caso Villela. Além de ter rastreado uma ligação telefônica feita por D. na 113 Sul em 28 de agosto ; quando ocorreram os brutais assassinatos ;, a polícia ouviu uma testemunha que afirma ter visto D., A. e uma terceira pessoa conversando em um ponto de ônibus na 513 Sul na noite do crime. Os investigadores também encontraram vestígios de sangue no Astra apreendido com D. na semana passada. O veículo era roubado. O material biológico passa por perícia para saber se pertencia a alguma das três vítimas do triplo homicídio. O resultado pode sair hoje.
Agora, a polícia está atrás de um terceiro suspeito, que teria sido o responsável por limpar a cena do crime, o apartamento 601/601 do Bloco C da 113 Sul. Os corpos só foram encontrados em 31 de agosto, ou seja, houve tempo para uma faxina intensa. Quando a polícia chegou ao local, havia pouco sangue ; apesar de os três terem levado 73 facadas ao todo ; e praticamente não restavam impressões digitais nítidas, nem mesmo de quem ali morava. Segundo peritos que estiveram no imóvel, apenas uma pessoa com conhecimentos técnicos teria condições de eliminar tão bem os rastros, trabalho que não poderia ser realizado utilizando, por exemplo, apenas materiais comuns de limpeza, como álcool, detergente ou sabão. A falta de vestígios é o maior obstáculo às investigações. Já se passaram 40 dias da descobertas dos corpos e até agora os laudos não foram concluídos.
Avanço
Ontem, a Justiça concedeu um terceiro mandado de prisão contra um suspeito de envolvimento no caso, mas até as 21h ninguém havia sido detido. No início da noite, as duas equipes de investigadores voltaram de Goiânia sem ter efetuado qualquer prisão. No entanto, de acordo com uma fonte da polícia, as diligências representaram um grande avanço nas investigações.
Os suspeitos D. e A. permanecerão presos pelo menos nos próximos 30 dias. O Tribunal do Júri de Brasília aceitou ontem o pedido de prorrogação das duas prisões. D., que segundo a polícia seria um matador de aluguel, está detido desde a terça-feira da semana passada. Ele teria dirigido o carro usado na fuga dos assassinos. A. foi preso no último sábado, e sua restrição de liberdade venceria ontem. Contra ele pesa a suspeita de ser o responsável pelos golpes de faca dados contra as três vítimas. Os dois são primos e integrariam, segundo a polícia, o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa de São Paulo.
A polícia acredita que D. faz parte de um grupo de extermínio com ações voltadas para a Região Nordeste. Ele mora no Riacho Fundo com a mulher e a filha dela. Em conversa com o Correio, a companheira dele admitiu que D. esteve no Plano Piloto no mesmo dia das mortes. Mas negou que ele tenha qualquer participação na tragédia.
1- Crueldade
Em geral, a prisão temporária vale por cinco dias, prazo prorrogável por igual período. No caso de crimes hediondos, pode se estender até 30 dias, com renovação por mais um mês. A Lei Federal n; 8.072/90 considera hediondos: homicídio cometido por grupos de extermínio, homicídio qualificado, latrocínio, extorsão mediante sequestro e na forma qualificada, estupro, epidemia com resultado morte, falsificação ou alteração de produto destinado a fins medicinais e genocídio.
Últimas movimentações
Terça-feira, 29 de setembro
A polícia faz a primeira prisão por conta do triplo homicídio registrado na 113 Sul em 28 de agosto. Um homem identificado como D. e acusado de ser um matador de aluguel acaba detido com um Astra roubado. O suspeito esteve na quadra dos Villela no dia dos assassinatos, o que foi comprovado a partir da quebra de sigilo telefônico das pessoas que receberam ou originaram chamadas de aparelho celular feitas na área. No carro onde D. estava, foi coletado material biológico que seguiu para análise.
Quarta-feira, 30 de setembro
A Justiça local autoriza a quebra dos sigilos telefônicos de parte dos familiares do casal de advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Mendes Villela, 69. A lista de chamadas recebidas e discadas pelas vítimas já estava em poder da polícia desde segunda-feira.
Quinta-feira, 1; de outubro
A descoberta dos corpos das três vítimas da 113 Sul completa 30 dias sem que a polícia tenha reunido provas suficientes para apontar os responsáveis pelos crimes. Detalhes dificultam a investigação. As câmeras de segurança do prédio não gravam. Também só se encontraram fragmentos de impressões digitais diferentes das dos moradores do local.
Sexta-feira, 2 de outubro
Os investigadores responsáveis pelo caso ganham mais 30 dias para concluir o inquérito responsável pela apuração do triplo homicídio. Haviam pedido dois meses, mas o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios entendeu que mais um mês é suficiente para encaminhar as linhas de investigação do caso: crime por encomenda e latrocínio (roubo com morte).
Sábado, 3 de outubro
Investigadores efetuam a segunda prisão no caso. Trata-se de um homem identificado como A., que seria amigo do suposto matador de aluguel D. e estaria com ele nas imediações da 113 Sul no dia do crime. Suspeita-se que D. tenha dirigido o carro até o local do crime e A tenha esfaqueado as três vítimas. Após conseguir um mandado judicial de busca e apreensão, os policiais liderados pela delegada Martha Vargas fazem uma busca na residência do acusado, no Riacho Fundo. Apreendem diversos objetos pessoais.
Domingo, 4 de outubro
A polícia apura se o suposto matador de aluguel D. telefonou, no dia dos assassinatos, para um homem que, no passado, teve um namoro com alguém da família Villela e, por isso, tinha uma relação conturbada com duas das vítimas.
Terça-feira, 6 de fevereiro
Policiais encontram na casa do suspeito A. uma lista com nomes de pessoas que seriam assassinadas por um grupo de extermínio. Eles vão à casa de uma dessas possíveis vítimas e lá prendem um pedreiro. Nada encontram, porém, que o ligue às mortes dos Villela e da principal empregada do casal. O rapaz é solto horas depois.
1; DP tem dia de calmaria
Com a delegada Martha Vargas em Goiânia, a quinta-feira foi pouco movimentada na delegacia da Asa Sul. Não houve depoimentos durante o dia. Apenas o namorado da neta do casal Villela, Carolina, compareceu novamente à unidade policial por volta das 16h20. Eduardo Lacerda ; que é policial federal e, em 31 de agosto, acompanhava a namorada na porta da casa dos avós dela quando um chaveiro abriu o imóvel onde os corpos estavam ; não prestou novo depoimento. Ele saiu do carro com um bloco de folhas de papel e voltou sem o documento. Como de costume, não falou com os jornalistas.
Na noite de quarta-feira, no entanto, alguns depoimentos se estenderam até a madrugada. Augusto Villela, filho do casal assassinado, e a neta Carolina chegaram à unidade policial por volta das 22h e só saíram às 2h10. O namorado dela, Eduardo Lacerda, também havia comparecido ao local, mas saiu mais cedo, às 23h20. Nenhum deles quis dar entrevistas.
A chefe da 1; DP encerrou os trabalhos por volta das 2h30. Disse que apenas Eduardo e Carolina prestaram novos esclarecimentos. Augusto apenas acompanhou a sobrinha, comentou a delegada. ;O depoimento deles ajuda e muito nas investigações. Alguns fatos ocorreram depois do depoimento anterior e têm certas coisas que não haviam sido ditas. Precisávamos esclarecer algumas delas;, explicou Martha Vargas.
Embora o laudo do Instituto de Criminalística (IC) não tenha sido concluído, a delegada confirmou que o criminoso limpou o apartamento 601/602 do Bloco C da 113 Sul após o triplo homicídio. Para ela, os assassinatos foram planejados e executados por um matador experiente. ;Não acredito que exista crime perfeito. Mas, se eu fosse o assassino, eu estaria bastante preocupado porque sou muito insistente;, afirmou.