A pequena Pirenópolis (GO) sonha grande. O município de 20 mil habitantes pretende ser subsede da Copa do Mundo de 2014. Famoso pelo casario colonial e as cachoeiras, ele quer receber uma das quatro seleções do grupo com jogos em Brasília. Para concretizar seu projeto, Pirenópolis vem batendo bola com a capital brasileira, uma das 12 sedes do maior evento de futebol. Distantes 140km, as duas cidades traçam roteiros turísticos juntas. A goiana investe em treinamento de pessoal e conta com recursos do governo federal para melhorar a infraestrutura e, principalmente, a hospedagem de estrangeiros.
Pirenópolis é um dos 65 destinos indutores brasileiros priorizados em programas do Ministério do Turismo. As cidades foram escolhidas com base em estudo da Fundação Getulio Vargas. ;São municípios com maior potencial turístico, capazes de impulsionar o setor em toda a região. Em Goiás, além de Pirenópolis, foram escolhidas Goiânia, Caldas Novas e a Cidade de Goiás;, explicou o ministro do Turismo, Luiz Barretto. O programa visa aprimorar os destinos para a Copa de 2014. ;Quem cumprir o dever de casa estará no roteiro oficial, oferecido por agências do Brasil e exterior;, ressaltou Barretto.
O ministro esteve em Pirenópolis quarta-feira última, quando a cidade comemorou 282 anos. Ele participou do lançamento do projeto Beira Rio e da inauguração de dois museus em prédios históricos recentemente restaurados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Só a montagem dos museus custou R$ 600 mil. O Beira Rio prevê a revitalização da orla do Rio das Almas, no centro da cidade. O projeto promete impulsionar o turismo local. Orçado em R$ 6,8 milhões, ele inclui obras de paisagismo, calçadas, ciclovias, equipamentos turísticos, iluminação e quiosques públicos.
Com o Beira Rio, Pirenópolis pretende incrementar o turismo na área urbana e diminuir o impacto ambiental com a crescente construção de pousadas, bares e restaurantes. ;A cidade foi criada a partir do Rio das Almas e agora estamos iniciando um projeto para que ele seja devolvido à população totalmente revitalizado;, afirmou Barretto. A primeira etapa do Beira Rio atingirá 1,3km da orla e deve ser concluída em três anos. ;É um projeto fundamentalmente ecológico, para o melhor usufruto da área;, explicou o arquiteto Sílvio Cavalcante, do Iphan. Não há rede de esgoto em Pirenópolis. A maioria das casas tem fossa.
Parceria
Do Governo do Distrito Federal (GDF), Pirenópolis busca ajuda na divulgação das suas atrações turísticas. ;Temos pensado roteiros integrados. Queremos mandar turistas daqui para Brasília nos fins de semana, quando temos ocupação máxima, e receber quem se hospeda lá a trabalho no meio da semana, na nossa baixa temporada;, contou o secretário de Turismo de Pirenópolis, Sérgio Rady. Panfletos com roteiros das duas cidades são oferecidos nos hotéis e centros de apoio ao turismo da capital, como o instalado no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek.
O presidente da Empresa Brasiliense de Turismo (Brasiliatur), João Oliveira, endossa as palavras do colega pirenopolino. ;Para que os turistas passem mais tempo em Brasília, onde temos excelente rede hoteleira, aeroporto e gastronomia, precisamos agregar roteiros próximos, como Pirenópolis, Chapada dos Veadeiros e mesmo o Mato Grosso do Sul, com o Pantanal;, comentou. Ele disse que, no caso de Pirenópolis, representantes da Brasiliatur e do município goiano têm se reunido regularmente para traçar as ações conjuntas.
A festa de 282 anos de Pirenópolis, na última quarta-feira, evidenciou o entrosamento entre as duas cidades. Por meio de um desfile cívico-militar, o município goiano celebrou os seus 50 anos de Brasília, a serem completados em 21 abril de 2010. O evento teve apoio da Empresa Brasiliense de Turismo (Brasiliatur), que ainda espalhou painéis com fotografias de monumentos do DF nos principais pontos de visitação de Pirenópolis. ;Essa parceria será ampliada. Mas, quanto à Copa, quem precisa correr atrás são os governos de Pirenópolis e de Goiás;, ponderou João Oliveira.
Potencial
Beira Rio - Projeto prevê a revitalização da orla do Rio das Almas, que passa pelo centro da cidade. Obras estão orçadas em R$ 6,8 milhões
Igreja Matriz - É um dos atrativos turísticos da cidade, que tem um expressivo acervo religioso preservado em seus museus
Parceria - Na festa dos seus 282 anos, o município antecipou as homenagens aos 50 anos de Brasília, ponto de origem da maioria dos seus visitantes
Faltam profissionais especializados
Os administradores pirenopolinos reconhecem alguns dos problemas no setor do turismo, que emprega, direta e indiretamente, 3,5 mil pessoas na cidade. ;A falta de qualificação profissional é a nossa maior preocupação. Por isso, desde o início de setembro, abrimos um curso para guias de turismo profissionais, pois só temos condutores de visitantes. Em parceria com o Senac, vamos começar mês que vem um curso de inglês, com 300 vagas;, contou Sérgio Rady.
Além da ausência de profissionais que falem uma língua estrangeira, os turistas encontram dificuldades para pagar suas contas em Pirenópolis, pois a maioria dos bares, restaurantes até pousadas não aceita cartões de crédito e débito. Também não emite nota fiscal, numa clara prova de sonegação fiscal. ;Esse é outro defeito que temos de resolver. Vamos fazer um trabalho de conscientização dos empresários e mostrar que eles e toda a cidade perdem com essa prática;, observou Rady.
Os moradores de Pirenópolis têm a oportunidade de fazer faculdade em uma instituição pública. A cidade conta com uma unidade da Universidade Estadual de Goiás (UEG), que oferece os cursos de tecnologia em gastronomia e tecnologia em gestão de turismo. Mas, quando buscam especialização, mais conhecimento ou emprego na área de estudo, alunos e professores da universidade goiana pegam a estrada em direção a Brasília.
As 110 pousadas da cidade goiana, principal destino turístico dos brasilienses nos fins de semana e feriados, não absorvem a mão de obra especializada formada no município. São raras as hospedagens com funcionários que têm carteira assinada e com alguma formação superior no setor. Com isso, os jovens que concluem um dos cursos da UEG despacham os currículos para hotéis, agências de viagem e órgãos públicos com sede na capital.
A rede hoteleira do DF é a terceira maior do país ;atrás de São Paulo e do Rio de Janeiro. Tem 15 mil leitos, segundo a Associação Brasileira da Indústria Hoteleira no DF (ABIHDF). Por outro lado, Brasília ajuda a manter as pousadas de Pirenópolis. Dos 150 mil turistas que visitam a cidade goiana todo ano, 70% moram no DF. Cada brasiliense gasta, em média, R$ 200 por dia de hospedagem no município vizinho. As 110 pousadas de Pirenópolis oferecem 2,7 mil leitos.
Exploração de minério
Com um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 100 milhões anuais, segundo dados da Secretaria de Planejamento do Estado de Goiás, Pirenópolis tem cerca de 65% de sua economia ligada à extração do quartzito. Há também, em menor escala, a exploração de calcáreos, pedras ornamentais, argila e areia. Atividades que degradam o meio ambiente, em especial a Serra dos Pireneus, cenário marcante do município. O turismo responde por 20%.