Apesar de os assaltos serem recorrentes, é como se não existissem para o governo. Há um ano, o Correio divulgou uma série de matérias contando o drama dos estudantes. Naquela época, os diretores das escolas confirmaram que os jovens eram vítimas frequentes de assaltos no percurso entre os pontos de ônibus e as instituições de ensino. De lá para cá, nada mudou.
O subsecretário de Operações de Segurança Pública, coronel Adauto Gama, argumenta que, se os crimes contra os jovens são recorrentes, não são de conhecimento dos órgãos de segurança. ;Se eles são assaltados, não estão registrando a ocorrência. Sem isso, a Polícia Militar não tem como saber onde são os locais críticos para planejar ações estratégicas;, explica. Ele lembra ainda que, nos últimos anos, o número de escolas no Distrito Federal aumentou muito, mas o efetivo do Batalhão Escolar não cresceu na mesma proporção.
Os estudantes reclamam que a presença dos policiais nas áreas entre a escola e os pontos de ônibus ; onde eles mais são vítimas ; é muito rara. No entanto, o coronel Gama garante que a Polícia Militar não está de braços cruzados, nem a Secretaria de Segurança Pública. ;Infelizmente, trabalhamos com a política do cobertor curto. Não temos efetivo suficiente. Então, remanejamos as guarnições para atender áreas críticas. Assim que essas regiões ficam calmas e descobrimos que a bandidagem migrou para outro local, mandos a equipe para lá.;
Informática
A possibilidade de registro de ocorrência pela própria escola ainda é uma meta para a Secretaria de Segurança Pública. O sistema só não foi implantado ainda por incompatibilidade de programas de informática do governo e o existente nas escolas. ;Estamos investindo no desenvolvimento de um programa que seja compatível. Isso demanda tempo e recursos. Mas, enquanto não colocamos em prática, as vítimas precisam registrar ocorrência nas delegacias;, recomenda. A Secretaria de Segurança garante que o Batalhão Escolar tem feito várias operações nas imediações das escolas. O balanço vai ser divulgado no fim do ano.
Com a experiência de quem já foi secretário de Segurança do DF e do Rio de Janeiro, o professor de direito da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Aguiar dá razão aos órgãos de segurança. ;Se a autoridade policial não fica sabendo do crime, não tem muito o que fazer;, diz. Mas também não é o caso de atribuir às vítimas toda a responsabilidade. ;Existe um círculo de descrença e apatia muito sério. Ou esperamos que Estado faça alguma coisa ou não acreditamos no Estado e não fazemos nada para que o governo se movimente.; O caminho, segundo Aguiar, é o envolvimento da comunidade e o fortalecimento dos conselhos comunitários de segurança.
Comandante do Batalhão Escolar, o coronel Marcos de Araújo ressalta que as ocorrências de assalto são fora do perímetro escolar, área de atuação da corporação. Segundo ele, há duas semanas, policiais com roupas de civis identificaram e prenderam em flagrante seis homens que agiam na Asa Sul ; um deles era menor. Segundo ele, os jovens devem evitar ostentar objetos que atraem a deliquência e andar sempre em grupos. ;Essas medidas são paliativas. Os alunos têm que parar de se colocar na situação de vitimização e evitar essas áreas de risco. Isso (os assaltos) não é segredo, sabemos que existe, mas é importante que eles colaborem com a própria segurança;, adverte.
;Saímos em seis pessoas . A gente ia para a 110 Norte. Dois caras chegaram de repente e disseram: /;Passa o celular e não dá um pio, senão quebro vocês/;. Eles levaram o celular de todo mundo e um relógio. Pedimos ajuda para o porteiro do prédio mais próximo;, conta Lucas. ;Depois do susto, a gente foi conversar. Um amigo nosso disse que viu os mesmos caras quando a gente estava na 310 Norte. Achamos que estavam nos seguindo. É muito assustador. Mas isso não aconteceria se tivesse policiamento nas ruas. Os bandidos só se atrevem a fazer o que fazem porque não tem polícia;, avalia Pedro.
Lucas e Pedro têm 14 anos
;Fui assaltado três vezes este ano. Sempre no entorno da escola. Duas vezes, foi de manhã, e, uma vez, na hora do almoço. Na primeira vez, fui cercado por oito garotos. Eles me xingaram e me chamaram de playboy. Só que eu não tinha nada de valor comigo. Eles insistiram muito e foi muito tenso. Na outra vez, eram quatro meninos. Foi nas 700 Norte, perto das casas. Um deles tinha um canivete. Eu disse que não tinha nada. Um veio me revistar e achou R$ 2 e levou. Na terceira vez, o assalto foi de manhã. Estava na 704 Norte, chegando na escola. Desconfiei de dois garotos. Mas tinha muita gente e achei que não me assaltariam. Fui ameaçado com um caco de vidro e levaram meu celular. Uma mulher gritou e um homem saiu correndo atrás deles. A polícia encontrou e recuperei meu telefone. Mas o medo fica.;
Igor, 15 anos.
;Era perto do meio-dia. Eu saí da escola e ia encontrar a minha tia na igreja. Mas andei meio quarteirão e fui assaltado. O menino caminhava no sentido contrário ao que eu ia. No começo, não desconfiei. Mas depois mudei de lado na calçada e ele mudou também. Quando caiu a ficha, já era tarde demais para escapar. Ele falou /;passa o celular, senão tu morre/;. Entreguei o telefone e ele sumiu. Aqui, direto a gente ouve um ou outro dizendo que foi assaltado. Os moleques esperam a gente de manhã, na hora do almoço ou de tarde. Tem que ficar esperto, olhar para os lados. Mas não adianta nada. Se eles chegarem, você vai fazer o quê? Não tem o que fazer. É entregar tudo e pronto.;
Marcos, 13 anos.
- Registre ocorrência, ainda que nenhum objetotenha sido levado.
- Conte para os amigos onde e quando foi assaltado para que eles evitem o local.
- Evite levar objetos de valor como celular, MP3 e qualquer aparelho eletrônico.
- O percurso entre a escola e a casa (ou ponto de ônibus) deve ser feito em grupos grandes.
- Fique atento às pessoas em volta. Evite lugares pouco iluminados e com muitas árvores.
- Antes de entrar em passarelas ou túneis, verifique o local e mude o caminho caso perceba pessoas suspeitas.
- Os pais ou responsáveis devem verificar o que os filhos carregam nas mochilas e ficar atentos ao comportamento dos jovens. Nervosismo, roupas rasgadas ou sujas podem ser sinais de que foram vítimas de agressões.
Fonte: Polícia Militar e direção das escolas