Helena Mader
postado em 15/10/2009 08:09
Para garantir a utilização do Lago Paranoá como fonte de abastecimento de água, como o Correio revelou ontem, o governo terá que reduzir a capacidade de geração de energia elétrica da usina localizada no reservatório artificial. Sem isso, o nível de água ficaria muito baixo, prejudicando o uso do lago para esportes náuticos, por exemplo. Mas a Companhia Energética de Brasília (CEB) garante que a medida não vai comprometer a distribuição de eletricidade na cidade, já que o Distrito Federal passará a receber energia da usina de Corumbá III a partir do mês que vem.A produção de eletricidade no lago representa apenas 2% de todo o consumo no DF. A usina do Paranoá garante energia para parte das regiões dos lagos Sul e Norte, além de São Sebastião. Para fazer as turbinas girarem, é preciso uma quantidade muito grande de água. Por isso, é inviável manter toda a capacidade de geração de energia a partir do início da captação para o abastecimento. A redução da produção de eletricidade foi uma garantia que o GDF deu à Agência Nacional de Águas para outorga da retirada de água do reservatório.
O diretor da CEB Geração, Hamilton Naves, explica que a redução da capacidade de geração de energia a partir do Lago Paranoá não vai comprometer a distribuição nas residências do Distrito Federal. ;Certamente haveria um impacto negativo se não tivéssemos Corumbá III. Mas além dessa inauguração, prevista para novembro, o governo vai concluir também a subestação de Mangueiral. Por isso, essa redução na usina do Paranoá não terá efeitos significativos;, afirma o diretor. No lago, são produzidos cerca de 13 megawatts por hora. A demanda do Distrito Federal é de cerca de 800 megawatts por hora.
A utilização do Lago Paranoá para abastecimento de água vai beneficiar 600 mil pessoas, principalmente nas regiões leste e norte do DF. O grande crescimento populacional de cidades como Sobradinho e Planaltina fez com que a Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) buscasse novas fontes de abastecimento. Além dessas duas regiões, a Caesb levará água do lago para o Grande Colorado, Itapoã, Paranoá, Arapoanga e Mestre d;Armas. Também haverá redes de distribuição até a região do Setor Tororó.
Conclusão em 2011
A obra que vai propiciar o uso do Lago Paranoá será feita concomitantemente à construção do sistema de Corumbá Sul. ;Nosso objetivo é usar sistemas complementares, já que isso traz mais segurança ao abastecimento. Essa é também a forma mais barata de garantir água de qualidade a todos os brasilienses, com a garantia de que não haverá escassez;, disse ontem o presidente da Caesb, Fernando Leite. ;Se for viável, a captação é uma ideia mais econômica e saudável para a população do DF;, disse o governador José Roberto Arruda.
As obras do sistema de captação do Lago Paranoá custarão R$ 350 milhões e ficarão prontas em 2011. Hoje, a demanda por água nas residências, indústrias e comércios da capital federal é de 7 mil litros por segundo. A capacidade de produção e distribuição é de 8,5 mil litros por segundo. Em épocas de seca, o consumo fica muito próximo do limite. Com a construção do sistema de captação no espelho d;água, a capacidade de distribuição será ampliada em 2,8 mil litros por segundo. Com Corumbá Sul, serão mais 3,8 mil litros por segundo, a um custo de R$ 300 milhões. Atualmente, 65% da água consumida em Brasília vem do Lago do Descoberto, na região de Brazlândia. O restante é proveniente dos sistemas Santa Maria e Tororó. Os técnicos da Caesb analisaram várias possibilidades de captação antes de optar pelo lago. Uma das ideias era levar água de Corumbá Sul até a região norte da cidade.
Proposta aprovada
# A maioria dos leitores do Correio Braziliense aprova a captação de água do Paranoá pela Caesb. Em enquete realizada pelo site www.correiobraziliense.com.br, 58% dos votantes concordam com a utilização do lago para o abastecimento da população. Já os 42% restantes não gostam da ideia. Participe você também da votação. A enquete ficará no ar até o final da semana que vem.
Opinião do internauta
Leitores comentaram no site do Correio Braziliense a proposta da Caesb de captar água do Lago Paranoá para consumo doméstico. Confira algumas opiniões
Vinícius Medeiros
;Sou totalmente a favor, desde que a Caesb invista em tecnologia para tratar aquela água. Além disso é preciso melhorar o tratamento dos esgotos que lá desaguam, em especial da ETE Sul e do Riacho Fundo. Somos privilegiados de ter um lago para tratar e abastecer;
Carlos Republicano
;Brasília cresce em ritmo acelerado. Corumbá IV, além do Distrito Federal, abastecerá a região do Entorno. Assim, a solução é captar e tratar a água do Paranoá. Aliás, os rios que abastecem as barragens do Descoberto e Corumbá também são poluídos e, após o tratamento, a água torna-se potável;
Aurindo Silva
;Agora é que vou tomar apenas cerveja mesmo. Se na Água Mineral é constatado 0,2mg de cloriforme fecal, imaginem como seria na água do Lago Paranoá?;
Newton Mauro
;Como se utiliza uma água contaminada? Os córregos e nascentes que desaguam no Lago Paranoá estão assoreados, contaminados. Um exemplo é o Córrego Arniqueira, outro é o Vicente Pires e vejam o que aconteceu com o Riacho Fundo. É só dar uma volta em Brasília e perceber que está tudo secando;
Necessidade de monitoramento
O uso do Lago Paranoá para fornecimento de água trará consequências positivas para a população, como a melhoria na qualidade do reservatório artificial. Essa é a opinião de especialistas ouvidos pelo Correio. Eles acreditam que, para usar o espelho d;água, a Caesb terá que investir pesado em fiscalização e monitoramento. Quanto mais poluída estiver a água, mais a Caesb vai gastar para deixá-la potável e distribuí-la pelas residências de 600 mil pessoas.
O presidente da Caesb, Fernando Leite, garantiu ontem que a utilização não vai alterar o nível do lago, nem atrapalhar o uso do espelho d;água para atividades náuticas. ;A população pode ficar tranquila. As obras não vão gerar um aumento de tarifa, nem vão reduzir o volume do lago;, afirma Fernando Leite.
O professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília Sérgio Koide, especialista em recursos hídricos, explica que a retirada de água não vai reduzir o volume do reservatório porque quase 80% dela voltará em forma de esgoto tratado. ;Mas o aproveitamento de águas que recebem carga de esgoto requer um investimento maior. Além desse aspecto, o governo terá que analisar minuciosamente a presença de metais pesados, hormônios e micropoluentes;, explica. ;A única prejudicada será a CEB, que terá que reduzir a produção de energia;, acrescenta Koide.
O professor do Instituto de Geociências da UnB José Elói Campos, especialista em hidrogeologia, lembra que a utilização de água do lago é estudada desde os anos 1980. ;A captação deve ser feita na barragem, onde a água é de melhor qualidade. Isso terá uma vantagem ambiental, já que a Caesb terá que investir cada vez mais no tratamento da água do lago e será obrigada a combater duramente o lançamento de esgotos clandestinos;, conclui. (HM)