postado em 16/10/2009 08:39
O início do período chuvoso é sinal de alerta para as equipes que combatem a proliferação do mosquito Aedes aegypti, o transmissor do vírus da dengue. A água depositada em pneus, vasos e outros recipientes que a mantenham limpa se torna berçário para o inseto. Até agora, a prevenção parece estar dando resultados: o número de casos confirmados diminuiu quase 30% em relação a outubro do ano passado. A conscientização da sociedade é a grande arma contra o avanço da doença, que já matou uma brasiliense em 2009.A vítima, cuja identidade não foi divulgada, é uma mulher que morava em São Sebastião, cidade onde os casos caíram pela metade em comparação com o ano passado. Ela desenvolveu dengue hemorrágica, a forma mais grave da doença. Em São Sebastião, já foram registrados outros nove casos em 2009.
Em todo o Distrito Federal, de janeiro a outubro, foram 1.497 suspeitas e 397 (26,5%) confirmações. Quase 70% dos casos confirmados são de pessoas que acreditam ter adquirido a doença no próprio DF. Comparado ao mesmo período de 2008, verifica-se uma redução de 53% dos casos notificados e de 29,1% dos confirmados, de acordo com dados da Secretaria de Saúde do DF.
Planaltina registrou o maior número de casos este ano: 122, seguido por Estrutural e Sobradinho, com 22 e 21, respectivamente. O local onde há o maior perigo de se contrair dengue no DF, porém, é a Estrutural, devido a uma equação que leva em conta o número de moradores e de casos. Não é difícil saber o motivo. Em um rápido passeio pela cidade, a equipe do Correio encontrou inúmeros recipientes capazes de armazenar água jogados pelas ruas. São pneus, garrafas, vasos, latas, tampas de caixa d;água e outros tipos de entulho, que permanecem à vista, apesar do esforço do governo para urbanizar o local ; todas as ruas estão sendo asfaltadas.
A situação assusta moradores, como a técnica em computação Angenira do Amaral, 28 anos. Ela já presenciou dois casos de dengue dentro de casa e não sabe o que fazer para se proteger. ;Lá em casa não tem água parada. Mas o que mais podemos fazer? Limpar a rua toda?;, questiona. ;Meu pai é velhinho já e pegou dengue ano passado. Quase morreu, coitado;, preocupa-se. ;Eu quero saber um jeito que eu possa cobrar do governo para que mate os mosquitos por aqui;, pede.
Há sete unidades do Núcleo de Controle de Invertebrados Transmissores de Doenças no DF. Elas são responsáveis por combater o mosquito nas 28 regiões administrativas, por meio da conscientização e do extermínio das larvas com veneno.
O Gerente de Controle de Vetores do DF, Rodrigo Mena, pede que as pessoas recebam bem os agentes. ;O trabalho mais importante é o de ensinar as pessoas a evitar a reprodução do mosquito. Por mais que matemos, há muitos lugares a que não chegamos;, afirma ele. ;O poder de evitar grande aumento de contágios é da população(1). E dá para sentir quando ela se conscientiza. Após grandes surtos, como o que ocorreu no Rio de Janeiro em 2008, a número de casos tende a cair nos anos seguintes porque as pessoas lembram mais;, explica.
A dona de casa Ercília Trindade, 62, também moradora da Estrutural, sempre recebe bem os agentes. ;Até ofereço água e biscoito;, diverte-se. ;Eu não sabia o que podia fazer ou não e acabei passando anos criando os mosquitos. Agora, sigo sempre todas as dicas (veja quadro) e mantenho minha casa livre. Graças a Deus, nunca peguei dengue;, comemora.
1 - Epidemia
Em 2008, foram registrados mais de 200 mil casos de dengue no estado do Rio de Janeiro, a maioria na capital. Foram pelo menos duas centenas de mortes, sendo mais de 30% de pessoas com menos de 15 anos de idade. O estado tem cerca de 6 milhões de habitantes.
Como se prevenir?
# O mosquito coloca seus ovos na água parada e limpa.
Por isso, siga estas recomendações:
# Não deixe água acumulada em vasos de plantas e xaxins.
# Coloque areia grossa nesses recipientes.
# Não abandone pneus velhos. Eles são o ;berçário; predileto do mosquito. Guarde em local protegido ou fure.
# Não deixe destampadas caixas d;água, poços, latões e filtros.
# Troque diariamente a água de bebedouros de animais.
# Jogue fora materiais que acumulem água, como copos e latas.
Proteja-se
Quem achar que sua vizinhança precisa de uma visita do Núcleo de Controle de Invertebrados Transmissores de Doenças no DF, pode entrar em contato com o órgão pelo telefone 3344-7404.
Saiba mais
100 milhões de vítimas no mundo
Causada por um arbovírus da família Flaviviridae, a dengue é uma das doências mais endêmicas do mundo, vitimando cerca de 100 milhões de pessoas por ano no planeta, de acordo com estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda segundo o órgão, a forma hemorrágica da doença ataca 500 mil pessoas por ano, com taxas de mortalidade de até 30%. As primeiras epidemias ocorreram no início do século 20 e hoje a dengue é endêmica no sudeste asiático. Nas Américas, o Brasil é campeão de casos (foram quase 400 mil em 2008), seguido pelo México. Em Brasília, os primeiros casos surgiram apenas em 1991. Foram 29 confirmações ; todas de pessoas que pegaram a doença em outros estados. As primeiras cinco transmissões locais aconteceram em 1997. Hoje, a média anual no DF é de 332 casos. A dengue é transmitida por meio da picada de uma fêmea do mosquito Aedes aegypti contaminada pelo vírus. O macho se alimenta apenas de seiva de plantas e não de sangue. Cada mosquito vive, em média, 45 dias e pode contaminar até 300 pessoas. Ele se alimenta durante o dia, é escuro, tem listras brancas e é menor que um pernilongo. O homem e alguns macacos são os únicos hospedeiros vertebrados do vírus. A doença, porém, só se manifesta em humanos.