postado em 16/10/2009 09:00
Elas são cheirosas, coloridas, inspiradoras e até comestíveis. Com a chegada da primavera a maioria desabrocha e torna os espaços públicos mais alegres. Muitas estão nas estampas dos tecidos. Mas nunca foram usadas como peça de vestuário. O florista Carlos Weiss desafiou a lógica e transformou as flores em matéria-prima para modelos longos, que ganharam a passarela, ontem à noite, na Central Flores, instalada na Ceasa-DF. Foram três vestidos customizados, cada um reproduzindo um estilo diferente, mas que surpreenderam os quase 250 visitantes e convidados para o evento.Os modelos confeccionados só com flores esbanjaram mistura de cores. O primeiro, feito com gérberas, aster e plumas, destacava as cores azul, vermelha e branca em homenagem ao ano da França no Brasil. Foram 10 horas de trabalho para que ficasse pronto. O segundo modelo reunia diversos tons de verde, a fim de valorizar o paisagismo da capital federal. ;A arborização de Brasília é uma coisa impressionante. Os balões e os canteiros centrais são bem interessantes e tentei retratar isso no vestido;, explicou Weiss, que aproveitou da jurubeba, broto de aspargo e folhagem tropical para finalizar a obra.
O último, que exigiu 15 horas de intenso trabalho, foi confeccionado com folhas secas e frutos do cerrado. O material foi colhido no chão de algumas fazendas do Distrito Federal. ;A intenção é mostrar as belezas naturais do cerrado tão pouco valorizado;, explicou o florista, que elogiou a produção de flores no DF. ;O produto de Brasília é maravilhoso tanto em qualidade quanto em durabilidade. Fiquei impressionado com o potencial da cidade;, completou. Em média, cada vestido pesava 10 quilos, levados à passarela pelas modelos Tâmara Pratt, 18 anos, e Natália Mendes, 16 anos.
Valores
De acordo com a produtora de flores e uma das organizadoras do Brasília Fashion Flores, Márcia Roselis de Carvalho, essa é a primeira vez que ocorre um desfile desse tipo em Brasília. ;É inédito e criativo. Com esse desfile queremos agregar valor às flores da cidade;, disse. Segundo ela, a maioria dos produtos vendidos no DF não vem de fora. São produzidos na capital federal.
Antes do desfile, as modelos estavam apreensivas. Ao todo, 15 moças e rapazes vestidos de noivas, madrinhas e padrinhos brilharam na passarela na intenção de simular um casamento diferente. Tamara Pratt era uma das estreantes. Ela usou um dos vestidos mais pesados criado por Weiss, em homenagem ao cerrado. ;Achei muito interessante porque chamou bastante atenção;, disse. Na opinião de Naiara Martins, 16 anos, as peças além de bonitas passaram um conceito de preservação da natureza. ;Quando eu olho para os vestidos imagino uma floresta. O cerrado é tão bonito, mas, infelizmente, foi muito degradado nos últimos anos. Vale a pena chamar a atenção para isso;, comentou.
Devido ao sucesso do exótico desfile, os organizadores do evento prometem voltar ano que vem com peças ainda mais ousadas e criativas. Em comemoração ao aniversário de 50 anos de Brasília, a intenção é montar os vestidos de acordo com a arquitetura da cidade. Eles não adiantam como isso ocorrerá. Mas prometem surpreender na edição 2010 do Brasília Fashion Flores. ;Será um crime premeditado, com certeza;, brincou o designer floral Carlos Weiss.
Copa Floral
Ao lado do desfile, ocorreu também a Copa de Arte Floral. Cinco produtores de flores e designer florais, sendo três de Brasília, um de Palmas (TO) e outro de Mato Grosso apresentaram seus trabalhos na disputa pelo prêmio de melhor florista do país. Com o tema Bossa nova, eles tiveram de produzir arranjos em tempo estipulado pela organização. Foi levado em conta a originalidade do ornamento, a composição e a harmonia das cores escolhidas pelos participantes. A competição foi realizada pela Associação Brasiliense de Produtores de Flores e Plantas em parceria com a Academia Brasileira de Artistas Florais (Abaf).
Edson Miyahara, representante de Palmas, conseguiu, em 90 minutos, montar uma mesa de casamento com espécies exóticas como as helicônias sassy, antúrios e hortênsias. No vasos decorativos, ele colocou fotos de Tom Jobim e Helô Pinheiro, símbolos da bossa nova.