Cidades

DF tem meio milhão de pessoas na classe média

Os salários pagos ao funcionalismo público estão entre os motivos que levaram à mudança da pirâmide social na capital

Mariana Flores
postado em 18/10/2009 09:10
O avanço dos últimos 15 anos se deu principalmente na faixa intermediária de renda. A classe média brasiliense representa 45,9% da população total da cidade. Em 1993, 38,7% dos moradores eram classificados dessa forma. Entre 1993 e 2008, meio milhão de brasilienses pularam a linha que divide a classe baixa da classe média. Atualmente, compõem a classe C, 1.159.434 pessoas que, somando os rendimentos de todos os membros da família, vivem com uma quantia entre R$ 1.115 e R$ 4.807 por mês. Em todo o país, 49,2% brasileiros recebem esse valor. O número brasiliense é menor porque na capital federal a quantidade de trabalhadores que ganham acima disso é maior. Os salários elevados do funcionalismo federal ajudam a explicar a média alta. Os dados são do estudo Consumidores, produtores e a nova classe média: miséria, desigualdade e determinantes das classes, elaborado pelo professor Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas (FGV), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciliar (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Antônia Romano, há dois meses empreendedora individual, sonha ampliar a venda de churrasquinhosCom o salto, essas pessoas passaram a consumir mais e movimentar a economia. É o caso da vendedora de churrasquinho Antônia Romano dos Santos, de 31 anos, que há dois meses virou empreendedora individual(1) e sonha chegar, em breve, a microempresária de outro ramo de atividade. Antônia deixou a função de doméstica e atendente há cinco anos, montou uma barraca em uma praça do Guará, onde ganha, por mês, cerca de R$ 1,5mil. Com essa renda, ela se sustenta e faz uma poupança com o intuito de ampliar o negócio no futuro. A moradora de uma quitinete no Guará quer profissionalizar ainda mais seu churrasquinho e, paralelamente, abrir uma loja de roupas. Para isso, boa parte da poupança está reservada para investir nos negócios e outra e é guardada com o objetivo comprar um automóvel, seu sonho de consumo. ;Já comprei mesa, cadeira, e outros equipamentos para o churrasquinho. Agora, quero comprar uma churrasqueira nova, e, um dia, abrir minha loja de roupas, que é o que eu gosto mesmo. Além disso tem o meu carro;.;, planeja.

Abertura econômica
O aumento da classe média teve início nos anos 90 e se intensificou a partir de 2003, segundo Neri. O estudo mostra que, em 2003, 20,4% dos brasilienses faziam parte da classe E e 21,0%, da classe D. A classe C era menor que a verificada hoje: 38,0% da população estava na faixa. ;A melhora da renda começou com a abertura econômica do país no início da década de 1990, o que fomentou a atividade econômica, além do aumento da oferta de linhas de crédito com a redução da inflação a partir de 1994, o que também deu um impulso à economia, principalmente porque beneficiou as classes média e baixa, que passaram a consumir;, afirma o economista Adolfo Fachsida, professor da Universidade Católica de Brasília (UCB).

Na década atual, o aumento de renda teve papel fundamental, segundo o economista Roberto Piscitelli, professor da Universidade de Brasília (UnB). ;Ajudaram a empurrar a base para cima a valorização do salário mínimo, as políticas compensatórias, com os benefícios sociais, o aumento da formalização no mercado de trabalho e as contratações de trabalhadores. Juntos, são fatores expansivos da economia que consolidam uma melhora da classe média;, afirma. (MF)


1- Autônomos
A lei que criou a figura do empreendedor individual entrou em vigor em julho deste ano e pode beneficiar 11 milhões de pessoas em todo o país, sendo mais de 170 mil no Distrito Federal. Podem aderir autônomos que ganhem até R$ 36 mil por ano e tenham apenas um funcionário. O custo para a formalização é de, no máximo, R$ 57,15 por mês. Mais de 150 profissões se enquadram.


O NÚMERO

Classes
669.390
Total de moradores do Distrito Federal na classe AB

1.159.434
Brasilienses compõem a classe C

459.732
Soma de pessoas que se enquadram na classe D

236.433
Total de crianças e adultos que estão na classe E, faixa mais pobre da população brasiliense

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