Cidades

Polícia enfatiza a necessidade de ter cautela para evitar injustiças

Renato Alves, Guilherme Goulart
postado em 21/10/2009 08:24
Policiais mantêm 15 pessoas sob investigação no caso Villela. Apesar de conservar as identidades sob sigilo, os investigadores fizeram a lista com base nos mais de 100 depoimentos prestados desde o início das diligências. Figuram nela funcionários e ex-empregados dos Villela, além de conhecidos próximos do casal de advogados assassinado em 28 de agosto. O Correio levantou ainda que os suspeitos estão ligados a várias linhas de apuração. Entre elas, latrocínio (roubo com morte) e crime encomendado.

A tese que ganhou força nos últimos dias é de um roubo meticulosamente arquitetado por conta da quantidade de dinheiro e joias guardados no apartamento 601/602 do Bloco C da 113 Sul (não se sabe se as mortes estavam no plano original ou se ocorreram em virtude das circunstâncias). A estimativa policial é de que os criminosos fugiram com cerca de R$ 700 mil em objetos de valor e dólares. Encontraram o material em um fundo falso no closet. Em virtude disso, acredita-se que os assassinos contaram com informações privilegiadas para planejar e executar o plano. Teriam tido, então, ajuda de prestadores de serviço, como pedreiros e marceneiros.

Por causa da ausência de marcas de arrombamento, quem entrou no apartamento estava com as chaves ou teve o acesso permitido por um dos moradores. Levanta-se a hipótese de que a empregada abriu a porta a um ex-funcionário ao reconhecer a voz dele do outro lado. Ao deixar o local do crime, os criminosos trancaram o imóvel dos Villela. Deram duas voltas na chave, mesmo a porta de serviço possuindo uma fechadura que não permite a abertura pelo lado de fora.

À polícia, moradores e porteiros do Bloco C disseram não terem visto qualquer movimento estranho na noite de 28 de agosto. Os agentes ouviram uma testemunha que mora em um prédio vizinho. Além disso, câmeras de vídeo desse edifício registraram imagens de dois homens correndo, vindo da direção do Bloco C, mas a baixa qualidade da gravação impossibilitou a identificação. A polícia tem praticamente como certo que uma pessoa entrou no apartamento entre a data do crime e a descoberta dos corpos, ocorrida em 31 de agosto. Seria a responsável pela limpeza dos rastros da violência. Mas também ninguém a viu entrar ou sair.[SAIBAMAIS]

O imóvel contava ainda com sistema de alarme monitorado. Uma vez acionado, permitiria a detecção de qualquer tentativa de invasão no ambiente por meio de sensores. No entanto, a empresa de segurança privada contratada pela família reiterou que ;embora estivesse tecnicamente em seu perfeito estado de funcionamento, o mesmo não estava ativado quando da ocorrência do crime;. O diretor da Polícia Civil do Distrito Federal, Cléber Monteiro, chegou a afirmou que o sistema não estava em operação no lar dos Villela havia três meses.

Sem pressão
O delegado André Victor do Espírito Santo, diretor do Departamento de Polícia Circunscricional (DPC) e auxiliar no inquérito do caso Villela, disse ontem ao Correio que os quase dois meses de investigação não representam pressão para os responsáveis pelo inquérito. Segundo ele, os agentes trabalham ininterruptamente, mas com cautela para não errarem. ;O tempo não nos incomoda. Claro que gostaríamos que o crime fosse resolvido de imediato, em um flagrante, por exemplo. Mas a gente não pode deixar se influenciar pela cobrança para não cometer injustiças;, afirmou.

André Victor garantiu que a polícia faz de tudo para não expor colaboradores, testemunhas e suspeitos. Acrescentou que ninguém prestou depoimento na delegacia da Asa Sul aleatoriamente. Mesmo quem teve de prestar esclarecimentos do caso por mais de uma vez, como no caso de familiares das vítimas, funcionários do Bloco C da 113 Sul e ex-empregados do casal de advogados. ;Nenhum depoimento foi feito desnecessariamente. Todos são aproveitados, até para uma futura exclusão;, argumentou o titular do DPC.

O trabalho dos investigadores da 1; DP na apuração do triplo homicídio conta com o apoio da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). ;Essa demora passa para a sociedade uma sensação de ineficiência e impunidade. Mas, quanto mais difícil uma investigação, mais cautela tem que haver para não haver injustiça;, declarou o presidente da entidade, Mozart Valadares Pires. ;É um crime recheado de muita perversidade, crueldade. Por isso, choca a todos;, completou. A AMB acompanha o desenrolar do caso desde o início das investigações.


Pistas a partir dos esboços


A polícia deve tornar público em breve os desenhos das joias roubadas pelos responsáveis pela barbárie na 113 Sul. Os esboços foram feitos por um familiar dos Villela, que os entregou à delegada-chefe da 1; DP, Martha Vargas, no último sábado. Faltam, no entanto, alguns detalhes para a divulgação. A intenção da polícia é fazer com que os desenhos mostrados pela imprensa auxiliem a investigação. Informações dadas pela população podem ajudar na identificação de possíveis receptadores dos objetos de valor. O telefone do Disque-Denúncia é o 197.


Análise da notícia
Respostas necessárias


A Polícia Civil do DF investiga o crime da 113 Sul há 50 dias. Em uma das quadras mais nobres da Asa Sul, onde moram três ministros do governo Lula, três pessoas morreram a facadas numa sexta-feira à noite. Ninguém ouviu nada. Ninguém viu nada. Quase dois meses depois, sobram perguntas.

Latrocínio? Crime por encomenda? Em qualquer roda de bate-papo, os brasilienses têm uma teoria sobre o triplo assassinato. Mas o que diz oficialmente a Polícia Civil? Nada. E aí está o problema. Crimes sem solução ocorrem em todo o mundo. Não são raras as investigações que duram meses. O sigilo é fundamental para o bom trabalho policial, mas a falta de informações claras e oficiais abre brechas para especulações e lança suspeitas sobre quem nem sequer é investigado.

A demora também favorece os criminosos, que ganham tempo. Não estão prontos nem mesmo os laudos que poderiam apontar indícios deixados na cena do crime. Faltam laudos, sobram depoimentos e suspeitos. Já foram coletados mais de 100 testemunhos. E o círculo de suspeitos chega a 15 pessoas. Parece pouco para uma polícia bem equipada e com status de ser uma das mais eficientes do país. Os moradores da capital cobram respostas, nem que seja para admitir que a apuração do crime está bem longe do fim.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação