Quatro em cada 100 trabalhadores do Distrito Federal têm mais de um empregador ou exercem mais de uma ocupação profissional. Um total de 46 mil moradores da capital federal precisam dividir o tempo em, no mínimo, dois empregos. Em todo o país, são 4,4 milhões de pessoas, o equivalente a 4,83% do total de ocupados, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). O número de profissionais que enfrentam uma rotina dupla ou tripla no DF diminuiu em 3 mil trabalhadores de 2007 para 2008. A redução se deu principalmente entre os que têm maior escolaridade: 8 mil pessoas que estudaram por mais de 15 anos desistiram de manter um segundo emprego. Ainda assim, são a maioria. Representam 39% dos brasilienses que acumulam mais de uma atividade.No outro extremo, estão 30% que estudaram menos de 10 anos, ou seja, concluíram, no máximo, o ensino fundamental (veja quadro).
Independentemente do tempo de estudo, o motivo que leva os profissionais a acumularem duas ocupações é sempre o mesmo: aumentar a renda familiar. A diferença é para onde vai essa renda extra, explica o professor da Universidade Católica de Brasília (UCB) Adolfo Fachsida, especialista em mercado de trabalho. ;Quem tem mais escolaridade vê como uma maneira de melhorar a renda da família para proporcionar mais conforto, para fazer uma poupança ou para se manter atualizado.Quem tem menos qualificação precisa fazer isso para conseguir pagar as contas no fim do mês;, afirma.
Os dias da psicóloga Daniele de Araújo Lima, 29 anos, são bem corridos. Das 8h às 18h, ela ocupa um cargo público, para o qual foi aprovada em concurso. No horário do almoço, atende em seu consultório. E, à noite, dá aulas em cursos a distância da Universidade de Brasília (UnB). O acúmulo de três funções lhe tira praticamente todas as horas do dia. ;Essa rotina acaba atrapalhando minha vida pessoal. As pessoas reclamam, porque, quando não estou trabalhando, só quero descansar, dormir. Mas agora tem que ser assim. Ganho pouco em meu emprego principal, então preciso trabalhar mais para fazer uma poupança;, conta. Daniele tem livre das 22h às 8h para se dedicar a seus afazeres pessoais, inclusive dormir.
O morador de Samambaia Valmir Almeida da Silva, 33 anos, não pode se dar esse luxo de ter 10 horas de descanso. Em dias alternados, ele tem apenas duas horas livres para dormir. Valmir trabalha diariamente, das 12h às 18h, como responsável pelo monitoramento do sistema de TV interno do estacionamento de um shopping de Taguatinga. Em seguida, às 19h, precisa estar no Riacho Fundo para monitorar o sistema de alarme de uma empresa privada de segurança, onde fica até às 7h do dia seguinte. A jornada não para aí. Quando chega em casa, leva o filho para a escola e retorna, por volta das 8h, para sua residência e dorme até 10h. Aí, é hora de acordar e se preparar para retomar a rotina. No segundo emprego, Valmir
trabalha apenas em dias alternados. Mas quando estaria de folga, se dedica às aulas de graduação a distância. O esforço, segundo ele, se justifica para ficar livre dos R$ 400 de aluguel que paga pela casa em que mora com a mulher e o filho. ;Tenho um objetivo futuro de vida que é ter um emprego melhor e ter minha própria casa. Acho que vale a pena o sacrifício. Ainda falta muito, mas uma hora chego lá;, sonha.
O desgaste físico e psicológico é grande. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos do DF (ABRH-DF), Manoel Mendes de Oliveira, alguns empregadores não veem com bons olhos essa atuação profissional dividida. ;O empregador pode achar que ele não vai se dedicar direito ao trabalho. Além disso, é difícil manter qualidade de vida com dois empregos, o que é importante para a saúde e para o rendimento no trabalho;, afirma.
Capacidade
Mas a possibilidade de proibir o segundo emprego é errada, se for generalizada, na opinião do professor Adolfo Fachsida. A proibição não significa necessariamente que o desemprego será diminuído, mesmo numa cidade como o DF, que tem um dos índices mais altos do país. ;Se aquela pessoa consegue mais de um emprego é porque ela é capaz. O empregador quer contratá-la e pode ser que não queira abrir a vaga se for para outro profissional ou teme perder produtividade se mudar o funcionário. A velocidade de crescimento da economia diminui se você impede as pessoas mais capazes de trabalhar;, completa.
Os homens são os que mais se dividem em duas funções, assim como são maioria entre os ocupados. Representam 58% dos que são empregados em duas ou mais atividades e são 53,7% do total de pessoas com ocupação formal na capital federal. A maioria dos brasilienses com mais de um patrão estão entre 30 e 49 anos. Seis em cada 10 destes profissionais se enquadram nessa faixa etária. Outros 6 mil, ou 13% do total, passaram dos 50 anos. Treze mil, 28% do total, têm até 29 anos.
Análise
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) apresenta os principais indicadores socioeconômicos do país e é levantada anualmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados de 2008 foram divulgados em setembro.
Segundo maior desemprego
A taxa de desocupação no DF é a segunda mais alta do país, segundo a PNAD. De cada 100 pessoas economicamente ativas (PEA), 11,1% estão à procura de uma vaga. Apenas o Amapá tem um índice tão elevado ; 14,9% de desemprego. A taxa nacional
é de 7,1% da PEA.