Cidades

Polícia admite que a apuração do triplo homicídio está em fase embrionária

postado em 22/10/2009 08:28 / atualizado em 19/10/2020 13:11

A cúpula da Polícia Civil se reuniu ontem à tarde para avaliar todas as informações que ajudem a elucidar o triplo assassinato na 113 Sul. Foi realizado um balanço interno do trabalho dos últimos 50 dias, desde que, em 31 de agosto, foram encontrados os corpos do casal de advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Mendes Villela, 69; e da principal empregada deles, Francisca Nascimento da Silva, 58. Os homicídios ocorreram em 28 de agosto e as vítimas levaram, ao todo, 73 facadas. No encontro esteve presente o secretário de Segurança, Valmir Lemos. A direção da polícia expôs as linhas de investigação e as perspectivas de desdobramento do caso, já que existe uma cobrança da sociedade para o rápido esclarecimento do crime.

Reportagem do Correio mostrou ontem que após 50 dias os homicídios continuam sem solução e que há mais dúvidas do que certezas no caso. Segundo a polícia, há várias dificuldades: trabalhar com diferentes linhas de investigação simultaneamente, ter 15 suspeitos, checar as informações fornecidas por meio do Disque-Denúncia e, principalmente, dificuldades em obter a quebra de sigilo telefônico. Parte do rastreamento de chamadas dos telefones das vítimas só chegou ontem à 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul). E as primeiras informações de ligações foram fornecidas pelas operadoras de celular há 15 dias.

O diretor-geral da Polícia Civil, delegado Cleber Monteiro, explicou que é natural a ansiedade pelo desfecho do caso, mas que o tempo de investigação ainda não pode ser considerado demorado. ;Devido à complexidade do crime, há muitas informações a serem investigadas;, comentou, após a reunião. Segundo o chefe do Departamento de Atividades Especiais (Depate), delegado Nugolli , a investigação pode ser considerada ;embrionária; se comparada às de outros casos que marcaram a história policial de Brasília. Citou, como exemplo, o assassinato de Elizabeth Lofrano em 1992, que demorou um ano para ser elucidado e apontou como autor o marido, José Carlos Alves do Santos (veja quadro abaixo).

Papel picotado


;Fui o primeiro a chegar ao local quando encontraram o corpo dela. Fui um dos responsáveis pelo caso. Passamos meses investigando mil coisas. E foi um pedacinho de papel picotado, em meio a tantas outras peças recolhidas na investigação, que elucidou o caso;, lembra Cleber Monteiro.

Segundo ele, a polícia vem trabalhando em linhas paralelas de investigação e não trocando de tese. O latrocínio, roubo com morte, é a principal delas. ;Pode ter ocorrido uma comunhão de interesses, entre gente que queria roubar e gente que queria matar;, aponta Monteiro. A Polícia Civil admite que a investigação pode durar até mais de 12 meses. Não descarta, porém, que uma informação-chave possa aparecer, e a autoria do crime seja desvendada nos próximos dias.

A demora na divulgação de laudos periciais é criticada por quem acompanha a investigação, como a Ordem dos Advogados do Brasil no DF. A entidade cobrou do secretário de Segurança e da cúpula da Polícia Civil pressa na conclusão dos exames das perícias feitas no apartamento 601/602 do Bloco C da 113 Sul, o cenário da tragédia. A polícia não tem muitas expectativas sobre esses resultados. Por exemplo, não haverá como responder se as vítimas foram sedadas antes de serem mortas. Isso devido ao tempo em que os corpos foram achados, passados três dias do crime.

Uma das explicações para o pouco sangue encontrado no local, já que foi grande o número de facadas é o fato de as vítimas estarem muito vestidas quando foram atacadas. Eles usavam vestimentas com tecidos firmes ; a empregada vestia cinta, José Guilherme Vilela, terno, e Maria Villela, uma blusa de babados. A roupa teria ajudado a comprimir o sangue. ;Os laudos sozinhos não vão responder as perguntas do crime. Servem como complemento, um aliado a outras informações de investigação;, diz Monteiro. A explicação para a demora do resultado dos laudos é que novos pedidos de informação surgem, e, por isso, os peritos voltam tantas vezes ao local do crime.A polícia divulgou novas fotos dos Villela: nas imagens, Maria usa algumas das joias roubadas do apartamento 601/602 do Bloco C da SQS 113

Prorrogação


Daqui a 10 dias vence o segundo prazo de conclusão para o inquérito e deverá ser pedida nova prorrogação. Não está decidido ainda se o caso será transferido para uma delegacia especializada, como é o trâmite, se até lá o crime não tiver sido esclarecido. ;Ainda estamos no prazo, elucidamos tantos casos complicados, vamos resolver esse. Queríamos esclarecer agora, mas seria um prazo recorde para a história policial;, destaca a delegada-chefe da 1;DP, Martha Vargas, encarregada da investigação. Ontem, pela primeira vez, a delegada convocou uma entrevista coletiva sobre o caso ; apresentou fotos e desenhos das joias roubadas do apartamento da SQS 113 (leia mais na próxima página).

;O fato de não apresentarmos os culpados até agora não significa que a investigação não trouxe resultados. Ao investigarmos um suspeito e depois descartá-lo não deixa de ser um resultado;, explica o delegado André Victor do Espírito Santo, diretor do Departamento de Polícia Circunscricional (DPC). ;Precipitação leva inocentes à cadeia. O passado policial já nos mostrou que a pressa não é recomendável nesses casos;, argumenta Nugolli, citando o caso de um inocente que ficou preso três sob a acusação de estuprar uma estudante e matar o namorado dela em Florianópolis (SC).

Opinião do internauta

Leitores comentaram a reportagem sobre os 50 dias de investigação publicada ontem pelo Correio. Leia alguns trechos:

;Uma investigação não é um cálculo matemático, em que chegaremos a um resultado certo e sabido. Deixem a polícia trabalhar que mais cedo ou mais tarde se chega ao autor.;
Jackson Costa

;A porta do apartamento deveria ser aberta pela equipe dos bombeiros. Deveria ficar um policial preservando o local. Nada disso foi feito. As pessoas que praticaram o ato não são leigas no assunto. Bagunçaram as investigações. Ficou difícil.;
Paulo Guimarães

;Há muita gente assistindo a filmes policiais americanos e achando que a polícia técnica possui ;bolas de cristal israelenses; para a elucidação de crimes.;
Nercize Mota

;Muitos outros crimes aconteceram há 50 dias, outros há mais tempo do que isso, como o das três meninas assassinadas entre Ceilândia e Águas Lindas, e a mídia escrita e televisiva não dá a importância mínima a esses casos.;
Mario Serdan

;Vocês não acham que, se os assassinos só quisessem roubar, por que entrariam no apartamento no horário em que todos estivessem em casa? A resposta para esse crime está em quem se beneficiaria com a morte do casal.;
Silvia Lima

;Calma, 50 dias é pouco ; e o caso da Ana Lídia, em que até hoje ninguém foi preso? Há vários outros crimes com anos sem solução, se fosse só a empregada que tivesse morrido, a imprensa não estaria repercutindo o caso desta maneira, há muitos casos nas delegacias sem solução, que tal divulgar mais...;
Waldir Silva

;A polícia precisa quebrar o sigilo telefônico também da empregada, mas atenção, geralmente os empregados sabem demais.;
Albertina Araújo

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O tempo de cada investigação


Em 1992, Ana Elizabeth Lofrano foi morta a golpes de pedra e picareta. Depois de quase dois anos de investigação, o marido da vítima, o então assessor de Orçamento do Senado José Carlos Alves dos Santos (foto) foi denunciado como mandante do crime e daí se desvendou o escândalo dos Anões do Orçamento, esquema de desvio de dinheiro público.

Em 19 de janeiro deste ano, dois moradores de rua foram assasinados a tiros na Praça do Índio, na 703/704 Sul. Dois meses depois, para a polícia um tempo recorde, o crime acabou elucidado. O analista do Banco Central José Antonio Amaral (foto), que morava perto da praça, é acusado dos assassinatos. Está preso. A delegada Martha Vargas, da 1; DP, esteve à frente das investigações.

Em 15 de março de 2002, o desembargador aposentado Irajá Pimentel, 62 anos, foi alvo de uma tocaia próximo à 216 Sul, onde morava, quando fazia uma caminhada. Foi morto a tiros. O caso demorou um ano para ser esclarecido. Sete envolvidos foram apontados como autores do crime.[SAIBAMAIS]

Em maio de 2007, Isabela Tainara, de 14 anos, desapareceu quando saiu do curso de inglês no Sudoeste. Foi encontrada morta 45 dias depois em um matagal de Samambaia. Quando o caso estava às vésperas de completar um ano, o autor do crime foi apresentado pela Polícia Civil.

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