Adriana Bernardes
postado em 23/10/2009 08:59
Análise preliminar do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Civil aponta que o estudante César Oliveira Ferreira, 17 anos, tinha dentes saudáveis. É o que revelou ao Correio o delegado-chefe da 5; Delegacia de Polícia, Laércio Rosseto, que investiga o caso. A conclusão leva em conta as informações dos prontuários médicos do rapaz entregues ao IC na quarta-feira. No mesmo dia, os peritos examinaram César para reunir mais informações que esclareçam a conduta do cirurgião-dentista Wilson Oliveira Santos, que arrancou todos os dentes do jovem em 24 de setembro. A família diz que apenas dois deveriam ser extraídos.O delegado requisitou ao Hran que entregue todos os dentes do rapaz no prazo máximo de 24 horas. ;Tenho certeza de que ele tinha dente saudável. É como se eles fossem um órgão desse rapaz. Quero-os nas minhas mãos o quanto antes;, disse. Os laudos sobre o caso estão sendo elaborados pelo diretor do Instituto de Medicina Legal, Malthus Fonseca Galvão, e devem ser concluídos na próxima segunda-feira.[SAIBAMAIS]
Pelo menos sete pessoas foram ouvidas na 5; DP. O delegado não revelou o nome delas. Disse apenas que são integrantes da equipe que atendeu o estudante em 24 de setembro ou que tiveram contato com o rapaz antes, durante e depois do procedimento cirúrgico. São cirurgiões-dentistas, enfermeiros, um anestesista, estagiários e auxiliares de enfermagem. Os depoimentos começaram à tarde e só terminaram às 21h30.
Duas cirurgiãs-dentistas foram as primeiras a deixar a delegacia por volta das 16h. Elas não quiseram dar entrevista. No fim da tarde, outra mulher saiu apressada. Confirmou ter prestado esclarecimentos sobre o caso, mas que não daria entrevista ;porque não é hora de falar;. No entanto, o principal depoimento é o do cirurgião Wilson Santos. ;Não marquei data, mas ele sabe que tem que comparecer à delegacia. Fiz o primeiro contato hoje (ontem). Estou tratando o caso com urbanidade, mas se for preciso ser coercitivo, eu serei;, afirmou Rosseto.
O pedido do delegado para que a diretoria do Hran entregue os dentes do rapaz chegou à mesa do novo diretor do hospital, João Luiz Arantes (veja matéria ao lado), no início da noite de ontem. De acordo com João Arantes, o Coordenador da Odontologia do hospital, Samuel Junqueira, garantiu que os dentes do rapaz estão com o cirurgião Wilson Oliveira. ;Vou informar essa questão ao delegado bem cedo. Estamos à disposição da polícia para ajudar no que for preciso. Como assumi o cargo hoje, não posso dizer o que aconteceu. Mas os integrantes da nossa comissão já reuniram os documentos e vamos esclarecer isso o mais rápido possível;, garantiu.
Esperança
A família do estudante está otimista. Na noite de ontem, ele conversou com a reportagem por telefone. Contou que foi à escola visitar os colegas. ;Meus amigos perguntaram como estou. Disse que estou bem. Parece que eu vou ter meus dentinhos de novo. É esperar para ver o que vai acontecer;, disse o rapaz, antes de passar o telefone para a mãe.
Maria Aldenora Oliveira, mãe de César, está mais tranquila após receber garantias de que o filho terá o melhor tratamento. ;O astral dele está melhor. Ele está mais feliz. E isso é o que mais importa para mim;, comentou. Ela contou da surpresa em ver o governador José Roberto Arruda bater à sua porta na manhã de ontem. ;Ele chegou de repente. Garantiu que o César terá tudo de bom e de melhor;, disse.
O governador comentou a visita à família e a posse do novo diretor do Hran durante entrega de ambulâncias na unidade de saúde. ;Fiz uma visita, mais de soliedariedade. É uma família muito boa, pessoas muito humildes, trabalhadoras. Acredito que, no plano espiritual, uma criança especial é sempre colocada aos cuidados de uma mãe especial. Fiquei muito emocionado com o depoimento da mãe do menino;, disse. Segundo o governador, o Estado é responsável por reparar o dano feito, ;custe o que custar;, e também é responsável por investigar o caso e punir exemplarmente todos os responsáveis, sejam eles quem forem.;
Tristeza
Na tarde de ontem, o Correio conversou por telefone com a mulher do cirurgião-dentista. Ela pediu que seu nome não fosse publicado. Em tom de desabafo, disse que a família está muito abalada com tudo isso e, principalmente, pela forma como o caso tem sido tratado por alguns meios de comunicação. ;Só estão vendo um lado dessa história. Meu marido não é esse um monstro. É o melhor homem que eu conheço, bondoso, caridoso e quem o conhece sabe disso.;
Segundo a mulher de Wilson Oliveira, ele está muito triste com tudo isso e tem se consultado com psiquiatra para suportar o julgamento a que está sendo vítima. ;Ele não tem condições de dar entrevista. Está muito assustado com a imprensa. Mas, no momento certo, e nas instâncias certas, vamos esclarecer tudo isso;, encerrou. O cirurgião providenciou um advogado e deve comparecer à delegacia nos próximos dias.
Na segunda-feira, o Conselho Regional de Odontologia vai coordenar uma reunião com profissionais de diferentes áreas para discutir qual o melhor tratamento para o estudante. O presidente da entidade, Júlio Cesar, adiantou que todos os exames de risco de cirurgia terão de ser feitos, além de radiografias para descobrir se o rapaz ainda está em fase de crescimento. ;Os pais dele vão participar dessa reunião. Vamos dar todo o atendimento necessário para reparar esse dano;, assegurou.
Outra meta do CRO é concluir o processo ético aberto na última segunda-feira em seis meses, no máximo. ;Teremos de ouvir o médico, os colegas que trabalharam com ele no dia, o profissional que fazia o acompanhamento do estudante, enfim, vamos avaliar tudo criteriosamente para esclarecer o que houve;, disse.
Diretor é exonerado
Em meio à polêmica cirurgia que ganhou repercussão nacional, o governador José Roberto Arruda surpreendeu, ontem, ao exonerar o diretor do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), Adalberto Amorim. O médico e gestor público João Luiz Arantes foi o escolhido para assumir o posto. O secretário de Saúde, Augusto Carvalho, negou que a troca no comando da unidade tenha ocorrido em função do escândalo. Mas o fato é que, todas as vezes em que João Arantes assumiu um hospital do DF, a unidade de saúde passava por crise.
Foi o caso do Hospital Regional do Gama. Depois de uma auditoria interna em hospitais da rede pública, constatou-se que na unidade do Gama as consultas da cardiologia eram marcadas apenas uma vez por mês, no próprio local, o que gerava uma fila de cerca de 500 pessoas. O número de atestados médicos apresentados por servidores também era considerado alto. Depois, vieram os hospitais de Taguatinga e Ceilândia, que, segundo apontou a auditoria, tinha problemas com descumprimento de horário dos servidores
Atualmente, João Luiz ocupava o cargo de subsecretário de recursos humanos. Ao Correio, ele também negou qualquer relação entre a crise e a troca do posto. ;O doutor Adalberto Amorim vinha realizando um belíssimo trabalho. Ele tinha pedido para sair já faz um tempo;, garantiu. Segundo João Arantes, sua meta à frente do Hran é reduzir o tempo de permanência dos pacientes no leito e, assim, dminuir as filas no Pronto Socorro. ;Temos outros três pontos importantes: melhorar o acolhimento aos pacientes, otimizar recursos humanos e desenvolver uma política forte de valorização e auto-estima dos servidores;, citou.