Cidades

Boa forma é a lição de casa

Estudo de um professor de educação física revoluciona os hábitos alimentares dos alunos, que aprendem a ter responsabilidade sobre sua saúde e evitar a obesidade, tendência preocupante

postado em 24/10/2009 08:00

Carlos Alberto de Paula e Yorrana Emelyn de Oliveira: avaliação da composição corporal é educativaA falta de disposição de Yorrana Emelyn de Oliveira, 12 anos, para caminhar até a escola sumiu. As passadas se tornaram mais leves e o caminho até parece mais curto. O refrigerante e o salgado consumidos no lanche deram lugar às frutas. E essas pequenas mudanças na rotina da estudante do 6; ano (antiga 5; série) do Centro de Ensino Fundamental 7 de Sobradinho II se devem ao trabalho do professor de educação física Carlos Roberto de Paula, 53 anos. Ele fez um estudo para avaliar a composição corporal de 387 alunos da instituição de ensino onde leciona e orientar os participantes sobre alguns cuidados básicos com a saúde.

O idealizador do estudo reuniu meninos e meninas entre 10 e 18 anos de idade do CEF 7. Para realizar o trabalho, que teve início no primeiro bimestre deste ano, Carlos Roberto se apoiou em três parâmetros para definir se os alunos estavam ou não acima do peso. Por meio da combinação dos resultados da dobra cutânea ; método que utiliza um aparelho chamado adipômetro para medir a quantidade de gordura dos braços, costas e panturrilha ;, do Índice de Massa Corporal (IMC) ; resultado da divisão do peso pela altura ao quadrado ; e da medida de bioimpedância ; uma corrente elétrica inofensiva que indica a composição corporal ;, ele conseguiu determinar o percentual de gordura no corpo de cada voluntário.

Depois de concluídos os cálculos, o professor reuniu os alunos em grupos, de acordo com os valores obtidos. Dos 225 meninos que participaram do estudo, 65% deles, ou seja, 146 alunos, estão com o peso ideal. Aproximadamente 20% estão com sobrepeso, obesidade e obesidade severa, categorias criadas por Carlos Roberto. Entre as meninas, os números preocupam um pouco mais. Das 162 voluntárias, mais de 45% estão acima do peso adequado para a idade e altura. A pesquisa também foi realizada com os estudantes do Programa de Educação de Jovens e Adultos.

No estudo, há alunos que se encaixam nas categorias que vão da magreza excessiva até a obesidade severa. A menina Yorrana Emelyn tem 1,59m de altura e pesa 37,8kg. Ela está dentro do peso adequado. Mesmo assim, acredita que o trabalho do professor de educação física foi importante porque chamou a atenção dela para detalhes que passavam despercebidos. ;Achei muito legal porque aprendi a perceber se o que eu estou comendo faz bem para a minha saúde ou não;, revela. E afirma que agora fiscaliza todos em casa, inclusive a irmã de 9 anos.

E é essa atitude que o professor Carlos Roberto espera dos alunos, que eles repassem para a família o que aprenderam na escola. E Yorrana fez o dever de casa direitinho. O pai da estudante, o segurança Clayton Leon de Oliveira, 42 anos, conta que a alimentação e os hábitos da família também mudaram. ;Não levamos mais as meninas ao supermercado para comprar besteiras, e no fim de semana todo mundo quer sair para fazer esportes;, conta. Clayton acredita que a filha também está mais consciente. ;Ela não pede mais para beber refrigerantes. Percebo que ela está mais disposta e não reclama mais de dores;, orgulha-se.

Especialização
Carlos Roberto se especializou em fisiologia do exercício na Universidade de Brasília e não quis deixar de lado tudo que aprendera durante a pós-graduação. Os aparelhos que comprou para medir a composição corporal já estavam enferrujando. A vontade de mudar uma realidade preocupante nas escolas públicas do Distrito Federal levou o professor a fazer esse trabalho com os alunos. ;A questão da obesidade está em evidência e traz muitos prejuízos ao país, e o melhor lugar para trabalhar essa questão é na escola, com as crianças;, acredita. Ele pretende levar os resultados à Secretaria de Educação e estender o estudo a outras escolas.

É grande o esforço dele para conscientizar os estudantes desde cedo sobre a importância da prática da atividade física e de uma alimentação saudável, mas a estrutura dos colégios o preocupa. ;As escolas não oferecem estrutura física nem material para eu oferecer uma aula de educação física de qualidade;, avalia. Além da construção de novas quadras poliesportivas, o professor pede mudanças nas aulas de educação física. ;Elas devem ser no horário contrário à aula, para que o aluno não volte para a sala suado. Enquanto isso, a gente finge que dá aula e os alunos fingem que têm aula;, desanima.

Os dados levantados por Carlos Roberto não surpreendem a professora do Departamento de Nutrição da Universidade de Brasília Kênia Baiocchi. ;Essa realidade preocupa pela dimensão do problema e por acometer pessoas cada vez mais jovens;, diz. Ela afirma que as crianças e adolescentes de hoje vivem em um ambiente obesogênico, ou seja, há grande disponibilidade de comida. ;É possível encontrar alimentos muitos baratos cheios de açúcar, gordura e com baixo valor nutricional;, explica. Segundo Kênia, o sedentarismo também contribui para esse quadro desfavorável à saúde dos jovens. E a professora conclui: ;Precisamos trabalhar a prevenção desde a infância e o ambiente escolar é ideal para isso;, conclui.

Os índices

Alunos do ensino fundamental



162 meninas de 9 anos e 11 meses até 18 anos
  • Magreza acentuada ; não teve
  • Magreza ; 3,1% - 5 alunas
  • Peso adequado ; 50,62% - 82 alunas
  • Sobrepeso ; 23,5% - 38 alunas
  • Obesidade ; 20,4% - 33 alunas
  • Obesidade severa ; 2,5% - 4 alunas

226 meninos de 10 anos e 8 meses até 18 anos
  • Magreza acentuada ; 0,4% - 1 aluno
  • Magreza ; 8,4% - 19 alunos
  • Peso adequado ; 65% - 146 alunos
  • Sobrepeso ; 11,6% - 26 alunos
  • Obesidade ; 6,7% - 15 alunos
  • Obesidade severa ; 8,4% - 19 alunos

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