postado em 26/10/2009 08:35
Brasília não entrou somente no roteiro do turista estrangeiro em viagem pelo Brasil. A cidade virou também opção de moradia para imigrantes internacionais. A quantidade de pessoas nascidas fora do país que vivem no Distrito Federal aumentou em 37% de 2007 para 2008 ; antes, eram 8 mil habitantes, agora são 11 mil, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (1)(Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).Os estrangeiros superam os obstáculos culturais e linguísticos em troca da qualidade de vida e das possibilidades de trabalho oferecidas por Brasília. É o caso do suíço Christian Rosselet, 37 anos, nove deles vividos na capital brasileira. O engenheiro eletricista decidiu deixar Zurique, na Suíça, no dia em que ele e a esposa receberam 12 envelopes de recusas de emprego. Christian estudou português por um ano e fez as malas. O casal passou dez meses na casa de parentes, no interior de São Paulo.
O engenheiro soube que a embaixada da Suíça em Brasília precisava de um zelador. Ele conseguiu o trabalho e, ao chegar à capital, sentiu-se em casa. ;Sou um brasileiro legítimo nascido no país errado;, brincou. O português de Christian é perfeito, mas sua nacionalidade não passa despercebida. Alfabetizado em alemão, ele mistura ;ja; (sim, em alemão) com gírias locais, como ;beleza; e ;o bicho pega;.
Chistian trabalha como terceirizado no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e cuida da parte elétrica do prédio. Ele se instalou no Gama e teve dois filhos brasilienses. O idioma oficial dentro de casa é o alemão, mas os hábitos são tipicamente candangos. ;Vamos muito ao parque da cidade, às vezes passeamos no Gama. Brasília é a minha cidade. Quero ficar aqui, a não ser que a vida imponha que eu volte;, completou.
O suíço foi cativado pela simpatia e hospitalidade do brasiliense. Essas características conquistam o interesse do estrangeiro, de acordo com a diretora do curso de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília (UCB), Tânia Manzur. ;É interessante observar que muitos estrangeiros se adaptam bem à cultura brasileira. Em parte porque, nessa questão da receptividade, muitos deles se sentem à vontade em Brasília. Aqui existe tolerância, acolhimento e interesse pelo estrangeiro;, comentou.
Os motivos que atraem moradores de outros países são variados. ;Nos anos 60 e 70, muitos viam a cidade como uma terra de oportunidades. Era território amplo para iniciar negócios;, disse. A região também é atraente para estudantes, missionários religiosos, prestadores de serviços, empregados de organizações internacionais e, claro, pessoas ligadas às embaixadas.
O Ministério da Justiça tem o registro de 911 mil estrangeiros que vivem no Brasil. O número aumentou com o Decreto n; 6.893, de julho deste ano, que concedeu residência provisória no país para todo imigrante ilegal que tenha entrado em território nacional até fevereiro deste ano. Com a publicação da norma, cerca de 20 mil pessoas já procuraram a Polícia Federal para se legalizar. A expectativa é de que mais 30 mil estrangeiros em situação irregular se registrem.
Interesse pelo português
O argentino Juan Pedro Rojas, 37 anos, queria estudar português quando se mudou para o Rio de Janeiro. Ele concluiu a faculdade do idioma na Argentina e decidiu se aprofundar nos estudos da língua. No Rio, ouviu falar que havia um curso na Universidade de Brasília (UnB), então, partiu para a capital. ;A primeira impressão de Brasília foi negativa. Não tem ninguém na rua, você fica meio perdido;, comentou.
Antes de se mudar, Juan não sabia o que encontraria por aqui. ;Fora do Brasil, as cidades mais conhecidas são Rio e São Paulo. Brasília era um mistério. Eu sabia que era um lugar quente, mas só descobri mesmo quando cheguei;, lembrou. Em dois anos, o argentino entrou no ritmo da cidade, fez amigos e se estabilizou. Hoje, ele dá aulas de espanhol na UnB e está acostumado ao clima. ;No primeiro ano, parecia que o corpo estava esperando que o tempo esfriasse. Agora, acho o clima de Brasília muito melhor;, afirmou. O professor enfrentava temperaturas abaixo de zero na cidade de origem, Concórdia.
Portugal é o país com o maior número de representantes no Brasil, de acordo com registros do Ministério da Justiça. Japão, Itália e Espanha vêm em seguida. Em 15; lugar está o Peru, terra natal de Rita Olvido Goyzueta Ballock, 51 anos. Em 1972, ela se mudou para o Rio de Janeiro acompanhando a irmã, casada com um brasileiro. A comunicação não era fácil no início. ;Entender o idioma português foi um pouco complicado, pois quando as pessoas falavam depressa, eu não conseguia entender absolutamente nada;, recordou. Ouvir com atenção as missas de domingo e as novelas da televisão ajudaram Rita a ganhar fluência na língua.
Nos anos seguintes, ela conheceu todas as regiões do Brasil. Passou por Bahia, Amazonas, São Paulo, Goiás, Rio Grande do Sul, entre outros estados. No entanto, Brasília foi a cidade escolhida para Rita criar raízes. ;Fiquei encantada com o novo conceito arquitetônico e urbanístico, com suas avenidas monumentais, raras esquinas e cruzamentos, a amplidão dos espaços urbanos, e a tranquilidade daqueles tempos;, disse. Na capital federal, ela se dedica à realização de projetos sociais.
A decisão de ficar veio em 1988, quando Rita recebeu a cidadania brasileira. Ela aprendeu o hino nacional, ganhou o direito a voto nas eleições brasileiras e virou fã de bossa nova e sertanejo. Sem falar nas comidas que passaram a fazer parte do cardápido, como feijoada, tutu, vatapá e camarão ensopado com chuchu. Voltar? A proposta não faz parte dos planos da peruana. ;Aos milhares de estrangeiros que também foram adotados por esta cidade, espero que seus sonhos se realizem. Brasília é uma cidade aberta àqueles que têm boa vontade e que fazem do trabalho digno e da solidariedade a motivação de viver;, completou.
1 - Nascidos no DF
Conforme o Correio publicou ontem, a quantidade de pessoas nascidas no DF está cada vez mais próxima do número de migrantes que moram na capital. Os brasilienses correspondem a 48,9% da população local, segunda a Pnad. Passaram de 1,204 milhão, em 2007, para 1,236 milhão no ano passado.
Maiores colônias estrangeiras no país
Portugal 276.703
Japão 92.483
Itália 70.292
Espanha 58.505
Argentina 39.232
Bolívia 35.092
Estados Unidos 29.130
Alemanha 28.942
China 28.526
Uruguai 28.115
Chile 25.166
Coreia 16.936
França 16.492
Líbano 14.067
Peru 11.314
Paraguai 11.229
Grã-Bretanha 10.064
Holanda 7.055
Polônia 6.194
Suíça 6.134
Fonte: Ministério da Justiça