Rodolfo Borges
postado em 27/10/2009 07:55
Uma menina de 7 anos que teve os dois ouvidos operados, quando precisava de cirurgia em apenas um deles, pode precisar passar por um segundo procedimento para solucionar seu problema. A criança foi encaminhada ao Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), dia 16, para se corrigir uma má formação no seu ouvido direito. O médico responsável pelo procedimento, que admitiu não ter lido o prontuário da paciente antes de realizar a cirurgia, operou o ouvido esquerdo e, depois de perceber o equívoco, realizou a operação correta. Segundo a mãe da criança, contudo, mesmo a cirurgia certa não foi bem feita.A criança continua apresentando o mesmo problema. Se os antibióticos que está tomando não solucionarem as infecções, ela ; que, segundo a mãe, ficou traumatizada depois de passar por duas cirurgias em seguida ; terá de enfrentar uma nova operação. ;Quando o médico percebeu que tinha operado o ouvido errado, deu um sedativo na veia e correu com ela;, lembra a mãe, que processou o HRSM na última sexta-feira. Segundo a mulher, só depois de o caso ter sido comunicado à gerência do hospital é que o profissional responsável pelo erro foi demitido.
A pressa em reparar o erro pode ter levado o médico a não realizar a cirurgia da maneira correta. A menina ; que, 10 dias depois, ainda sente dores por causa das operações ; já havia passado pela mesma cirurgia no ouvido esquerdo há três anos. À época, o problema foi solucionado e ela passou a apresentar infecções apenas do lado direito. A nova intervenção no lado esquerdo não chegou a prejudicar a menina fisicamente, mas a mãe fez questão de entrar na Justiça contra o hospital. ;Foram eles que contrataram um açougueiro para trabalhar;, diz.
O médico não foi encontrado pela reportagem para comentar o ocorrido, mas a otorrinolaringologista Ana Maria de Freitas Machado, que trabalha no Hospital Regional da Asa Sul (Hras), diz que não faz sentido que o colega tenha realizado a cirurgia sem que houvesse pelo menos uma pequena sístole no ouvido esquerdo. ;Se ele operou, é porque tinha alguma coisa para retirar. Às vezes sobra um pequeno pedaço da sístole mesmo depois da operação;, comenta. Segundo ela, é normal que a sístole apareça novamente.
Demissão
Segundo o superintendente-executivo do HRSM, Ailton Ribeiro, foi aberta uma sindicância para apurar a responsabilidade do caso logo que a direção do hospital ficou sabendo do ocorrido. O fato de o médico ter admitido que não leu o prontuário antes da cirurgia contribuiu para a rápida decisão de demiti-lo. ;Houve um equívoco, e ele poderia ser evitado se houvessem sido observadas algumas diretrizes;, justificou Ribeiro. O médico, cujo nome não foi divulgado pelo hospital, trabalhava no HRSM desde o início de outubro, depois de ser aprovado em seleção por meio de concurso público.
O desligamento do cirurgião só pôde ocorrer de forma tão rápida porque o hospital é administrado pela Real Sociedade Espanhola de Beneficência desde abril. A parceria permite mais agilidade a uma estrutura que, apesar da intervenção de uma instituição particular, é pública. ;Essa é uma das vantagens desse tipo de administração. Não há tanta estabilidade ou obrigatoriedade de passar por desligamento prolongado;, destaca Ribeiro.
Mal congênito
Conhecida como sinus ou sístole pré-auricular, a má formação é congênita e expõe o ouvido do paciente constantemente a infecções. A menina que foi equivocadamente submetida a duas cirurgias no órgão já precisou fazer seis drenagens para extrair infecções.