Cidades

Brasiliense sofre com apagões em série

O SIA é atualmente a região mais atingida, o que provoca a reclamação dos empresários

Helena Mader
postado em 28/10/2009 07:59
A chegada da temporada de chuvas agrava ainda mais um problema antigo do Distrito Federal: as falhas no sistema de distribuição de energia elétrica. Com uma rede defasada e carente de modernização, qualquer raio é suficiente para deixar várias regiões às escuras. O alvo mais recente desse gargalo é o Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA). Desde a semana passada, foram registrados vários apagões, que trouxeram prejuízos milionários aos empresários. Os problemas técnicos da Companhia Energética de Brasília (CEB) podem custar caro à empresa. Este ano, só até abril, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) multou a empresa em R$ 4 milhões por problemas como o descumprimento de metas.

Luza ficou sem luz: A CEB reconhece os problemas do sistema e garante que já está investindo alto para melhorar a situação. Só em 2010, serão inauguradas duas novas subestações, que devem aliviar um pouco os cortes de energia. A situação atual da rede elétrica da capital federal é fruto de décadas de descaso e baixos investimentos dos governos passados. Aparelhos como transformadores estão obsoletos: muitos são os mesmos desde a época da construção de Brasília. A utilização de redes subterrâneas é a melhor opção para evitar eventos como raios e quedas de galhos. Mas, como os cabos em grande parte da cidade são velhos, é demorado e complicado sanar problemas pontuais quando há interrupção dos serviços.

Com o crescimento rápido da cidade e com o surgimento de centenas de condomínios irregulares e de novos setores, seria preciso um investimento alto para que o sistema elétrico acompanhasse o ritmo de aumento populacional. De acordo com a CEB, era necessário destinar pelo menos R$ 120 milhões todos os anos para adequar as redes à nova realidade urbana. ;Mas, na última década, houve ano em que a CEB investiu menos de R$ 20 milhões. A falta de investimentos acabou represada, causando os problemas que enfrentamos atualmente;, justifica o diretor de Operação e Manutenção da CEB, Hamilton Naves.

Curto prazo
Enquanto os gastos com a ampliação da rede de distribuição foram ínfimos nas últimas décadas, a CEB focou seus investimentos na geração de energia. Para garantir luz para todos os brasilienses, foram gastos R$ 600 milhões com Corumbá IV. A CEB também ajudou a financiar parte dos R$ 340 milhões necessários para colocar em funcionamento a usina de Corumbá III, que no mês que vem começa a fornecer energia para Brasília.

O diretor da CEB Hamilton Naves lembra que é impossível mudar a situação do sistema a curto prazo. ;Obras de grande porte demoram pelo menos três anos e os resultados delas não são imediatos. Depois, ainda é preciso fazer o remanejamento das linhas de distribuição;, destaca Hamilton. ;Tivemos que reverter uma situação de endividamento da empresa e recuperar o sistema dos investimentos que deixaram de ser feitos. Nos últimos três anos, investimos mais de R$ 120 milhões por ano;, acrescenta o diretor.

Duas das principais obras inauguradas pelo atual governo para tentar reverter o caos no sistema elétrico foram as subestações do Sudoeste e de Águas Claras. Os dois bairros, ambos criados há mais de 15 anos, ainda dependiam de cidades vizinhas para garantir luz aos seus moradores. Com as inaugurações, foi possível tirar a sobrecarga das subestações de Taguatinga e de Brasília.

[SAIBAMAIS]Outra novidade que vai contribuir para a melhoria dos serviços prestados pela CEB é a construção da subestação de Mangueiral, próximo a São Sebastião. Prevista para ser inaugurada no mês que vem, ela vai garantir energia para a região dos condomínios do Jardim Botânico e do São Bartolomeu, justamente novas ocupações que surgiram sem a devida ampliação do sistema de distribuição.

Quem é atingido diretamente pelos cortes recorrentes de luz tem dificuldades para compreender as cifras e os dados divulgados pela CEB. No SIA, a revolta com relação aos apagões é grande. Ontem de manhã, enquanto a reportagem do Correio entrevistava empresários e funcionários do setor, a luz acabou mais uma vez. ;Não dá para fazer nenhuma venda, porque é impossível emitir até nota fiscal. É revoltante, porque os funcionários ficam parados e os prejuízos são grandes;, reclama a comerciante Luza Rodrigues, que trabalha na Quadra 5 do SIA.

; O que já foi feito

Confira os investimentos realizados pela CEB

; Inauguração da subestação de Águas Claras, que tirou a sobrecarga sobre o sistema de Taguatinga;
; Construção da subestação de Mangueiral, que será inaugurada no mês que vem. A obra vai aliviar as subestações do Lago Sul e de São Sebastião, além de garantir energia para a região dos condomínios do Jardim Botânico e do São Bartolomeu;
; Investimentos para melhoria das subestações de Planaltina e Sobradinho, com a compra de equipamentos;
; Ampliação da capacidade da subestação do Gama.

Previsão para os próximos anos

; Compactação da rede elétrica aérea, para deixá-la mais moderna e menos suscetível à queda de galhos ou de raios.
; Construção da subestação do Vale do Amanhecer com dois transformadores, prevista para janeiro do ano que vem.
; Lançamento das obras da subestação de São José, na região rural do PAD-DF, próximo à saída para Unaí. A inauguração deve ocorrer no segundo semestre do ano que vem.
; As subestações da Estrutural e do Núcleo Bandeirante estão entre os planos da CEB, mas ainda não há previsão de lançamento das obras.

; Análise da notícia
Herança do abandono

Cada vez que precisa acionar um interruptor ou ligar um eletrodoméstico na tomada, o brasiliense sofre os efeitos de anos e anos de descaso. No fim da década passada e no início desta, a CEB conviveu com baixos níveis de investimento. Por ano, a companhia aplicava entre R$ 20 milhões e R$ 40 milhões. O problema é que a maior parte desses recursos eram destinados à geração de energia, em detrimento da distribuição.O resultado não poderia ter sido outro.

A rede de distribuição de energia se tornou incompatível com o tamanho do Distrito Federal, e os apagões começaram a pipocar. Agora, a companhia tenta correr contra os anos de atraso. Entre 2007 e 2008, os investimentos somaram R$ 200 milhões. Até 2010, serão mais R$ 240 milhões. Resta saber se esse volume de recursos será suficiente para reduzir a onda de apagões.

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