Adriana Bernardes
postado em 29/10/2009 08:08
O rigor da lei seca já não está sendo suficiente para reduzir as mortes no trânsito do Distrito Federal. Nos dois primeiros meses de vigor da nova legislação ; julho e agosto do ano passado;, o número de pessoas que perderam a vida nas pistas caiu 18,9% e 16,6%, respectivamente. Doze meses depois do impacto inicial da lei, em julho e agosto de 2009, o total de mortes por acidentes voltou a subir. O aumento foi de 6,6% e 5%, respectivamente, em relação ao mesmo período do ano passado (veja quadro). Para o Departamento de Trânsito (Detran), estatisticamente, o crescimento não é significativo. O órgão de trânsito reforça que a legislação é uma forte aliada para salvar vidas.Apesar do recente aumento, os números de mortes e acidentes fatais ainda estão abaixo daqueles registrados há dois anos, quando não existia a lei seca. Foram 32 óbitos em julho e 42 em agosto desse ano contra 37 e 48 nos mesmos meses de 2007. Já em 2008, quando começou a vigorar a nova legislação, o número de pessoas que perderam a vida no trânsito fechou em 30 e 40 no período analisado. Especialistas ouvidos pelo Correio explicam que as estatísticas de trânsito são diretamente influenciadas por diversos fatores. Entre eles, o tamanho da frota de veículos e a sua composição; a fiscalização, o fluxo e a fluidez nas pistas; além da velocidade praticada pelos motoristas e a qualidade das vias ; entendida como textura do asfalto, sinalização e redutores de velocidade em pontos críticos, por exemplo.
Para as amigas Ana Cláudia Borges, 38 anos, economista, e Míriam Vargas, 39, designer, falta fiscalização. ;A lei mudou o comportamento das pessoas. Eu e meu marido já deixamos de sair. Ainda corremos o risco. Só que agora os nossos filhos de 7 e 9 anos ficam preocupados. Eles dizem /`vocês estão bebendo, como é que vão voltar para casa dirigindo?/`;, relata Ana. ;Espero que daqui a 10 anos, eles tenham uma postura mais responsável quando saírem com os amigos deles;, finaliza. A lei não mudou a rotina de Míriam, que bebe raramente. Mas, entre os conhecidos dela, sim. ;Vejo-os decidindo quem vai dirigir. Mas também já vi gente pedindo para o amigo ir na frente e avisar se há blitzes. É preciso fiscalizar mais;, defende.
Já o bancário Roberto Luís Mamedes, 40 anos, considera a lei e a fiscalização rígidas demais com motoristas que, como ele, ;bebem pouco; antes de pegar o volante. Ele admite que, às vezes, ainda arrisca dirigir depois de ter bebido, apesar de raro. ;Mas sei que além de evitar acidentes, a lei seca também diminui essas bagunças e brigas durante as madrugadas;, acredita.
Aumento da frota
Gerente de Fiscalização do Detran, Silvain Fonseca ressalta que as análises devem levar em conta dois fatores importantes: o crescimento da frota e do número de condutores. Todo mês, entram em circulação cerca de 8 mil veículos no DF e pelo menos 6 mil novas carteiras de habilitação são entregues mensalmente. Com mais carros e motoristas nas ruas, o risco de acidentes aumenta.
Fonseca alerta que muitos condutores ainda apostam na impunidade e dirigem depois de ter ingerido bebida alcoólica. A desobediência à lei seca, porém, não é a única causa de acidentes e mortes. Um fator importante é a composição da frota. No DF, 10% dos veículos são motocicletas, responsáveis por praticamente metade dos acidentes (com ou sem mortes). ;Além de fiscalizar o cumprimento da lei seca, estamos com todas as atenções voltadas para os motociclistas. Inibir o envolvimento deles com acidentes é a chave para fecharmos o ano com dados semelhantes aos de 2006;, citou Fonseca. O ano de 2006 foi o que teve o menor número de mortes do trânsito: 414 no total.
O que diz a lei
A Lei Federal n; 11.705/08, a lei seca, entrou em vigor em 20 de junho do ano passado. Ela proibiu o motorista de dirigir alcoolizado. Quem é pego com qualquer concentração de álcool no organismo é punido com multa de R$ 957 e suspensão do direito de dirigir por um ano. E se o teste do bafômetro acusar níveis iguais ou superiores a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar expelido pelos pulmões, a pessoa é presa e tem que pagar fiança para ser liberada. O valor varia de R$ 600 a R$ 2 mil. Neste caso, é aberto processo criminal por dirigir alcoolizado (Artigo 306).