Cidades

Boêmios e notívagos brasilienses já não voltam de barriga vazia depois de uma noitada

Restaurantes, lanchonetes e pizzarias aderiram ao sistema 24 horas. Além de agradar aos consumidores, engordam o caixa

Luiz Calcagno, Mariana Flores
postado em 31/10/2009 08:10
Já está distante o tempo em que os notívagos e baladeiros não tinham opção para fazer uma refeição na madrugada brasiliense. Lanchonetes, pizzarias e até restaurantes esticaram o horário de funcionamento. Alguns só fecham as portas às 5h e há até os que não fecham nunca. Mesmo quando a noite já está virando dia, o movimento é grande e compensa os custos elevados, como, por exemplo, com adicional noturno de 20% para os funcionários. Em alguns estabelecimentos, o movimento durante as madrugadas chega a corresponder a 30% do faturamento mensal. De pizza a sanduíche, passando por temaki e pratos mais elaborados, as opções têm aumentado, apesar da Administração de Brasília ter limitado a emissão de alvarás para estabelecimentos que queiram funcionar nesses horários.

As possibilidades só não são maiores devido às limitações que os empresários enfrentam, segundo o presidente em exercício do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e similares de Brasília (Sindhobar), Nadim Hadad. ;Há uma demanda muito grande, de pessoas que saem ou trabalham à noite. A oferta só não é maior porque temos algumas barreiras. A dificuldade de transporte público para os funcionários é a principal delas. Tem empresário que constrói um alojamento para que seus funcionários possam pernoitar. É um absurdo termos que recorrer a isso;, afirma.

Apesar de ter 70 lojas na capital paulista, conhecida por ter a noite mais badalada do país, foi em Brasília que a versão 24 horas do Spoleto nasceu. Em outubro, o empresário Leandro Sousa Silva Barbosa abriu sua segunda franquia do grupo. As duas, uma na Asa Norte e outra no Sudoeste, nunca fecham as portas. O restaurante da Asa Norte, que já existe há quase dois anos, recebe, por noite, cerca de 300 clientes. ;Sexta e sábado são os dias que enche. Às vezes, às 5h está lotado;, conta. Leandro também é dono de duas franquias do Subway, localizadas ao lado de seus restaurantes. O Subway de sua propriedade no Sudoeste foi inaugurado há pouco mais de três meses. Mas a abertura do Spoleto não reduziu a clientela de sua primeira franquia. ;Pelo contrário, virou uma praça de alimentação;, conta.

Alternativas
Uma outra opção de jantar na madrugada é oferecida pelo sofisticado Da Noi, no hotel Golden Tulip Brasília Alvorada. O restaurante não fecha nunca. Mesmo quem não está hospedado pode pedir um prato às 4h. ;Servimos de filé au poivre a misto quente qualquer hora do dia ou da noite. Qualquer pessoa pode sair da balada e vir comer, jantar um pouco mais tarde, não atendemos só quem está no hotel;, avisa Cybelle Kumagai, sócia do chef Dudu Camargo no restaurante. Atualmente, o público noturno representa apenas 10% da demanda, mas a expectativa é que aumente.

Tradicional na noite da cidade, o Sky;s tem um público cativo. O número de funcionários que trabalham na lanchonete da 106 Sul é maior durante as noites de quinta a sábado do que durante o dia. Entre sete e oito pessoas se revezam até às 5h para produzir os mais de 250 sanduíches que são vendidos a cada noite. De cada R$ 100 que o dono Carlos Perez ganha, R$ 30 são conquistados à noite. ;Temos um público que vem sempre. São tantos anos que agora estamos atendendo os filhos dos nossos consumidores da década de 80. Já são duas gerações que comem de madrugada conosco;, conta o empresário, que tem a lanchonete há 24 anos.

Rapidez
O aumento da oferta não tirou clientes. ;Há mercado para todos;, afirma. Ali perto, na 403 Sul, nas noites de fim de semana, dezenas de pessoas se aglomeram na porta da Pizzaria Molho de Tomate para saborear fatias de pizza que podem custar até R$ 1. A pizzaria conta apenas com um balcão e fica aberta até 5h diariamente. É um dos lugares preferidos do servidor público George Rosa, 24 anos, morador do Park Way. ;Faço isso já tem muito tempo. Desde que comecei a sair à noite, após uma semana de trabalho, sempre me alimento depois. Nunca gasto muito. Procuro lugares baratos. O dinheiro eu guardei para a bebida, então, na hora de comer, fica entre R$ 5 e R$ 15;, conta.

Independentemente da opção, o importante é que seja rápido, diz o também servidor Rodrigo Bruno Ramos, 28, morador da Asa Norte. ;Sempre saio para comer depois da balada. Você sai de casa pensando na balada e na cerveja, depois é que bate a fome e você faz aquele lanche rápido. A ideia é comer e ir pra casa dormir.; Nesse quesito, o Mc Donald;s ganha pontos. O público da madrugada tornou-se o foco da rede desde março do ano passado. Das 22 lanchonetes existentes na cidade, 10 funcionam diariamente até às 5h da manhã ; apenas o drive thru. E duas horas depois já reabrem para servir o café da manhã.

Ganha pontos também quem ocupa um local estratégico. ;É preciso estar no lugar certo;, afirma o franqueado do Giraffas Germano Carbonell Zenkner, que abre de terça a domingo até 6h sua lanchonete localizada na 209 Norte. ;Tem que analisar bem para ver se o ponto tem perfil. Não são todos os locais que têm espaço para abrir de madrugada. Do contrário é temerário, porque o custo é muito alto e ainda tem risco. Tem que ser um ponto privilegiado que compense;, afirma o empresário que credita 20% de seu faturamento às vendas feitas durante a madrugada.

; Palavra de especialista
Sobrecarga no fígado

;O ideal é comer antes de sair, forrar o estômago antes de uma noitada para não precisar comer depois. Comer de madrugada, pouco antes de dormir, sobrecarrega o fígado e o aparelho digestivo. E, se for comer de madrugada, o ideal é priorizar alimentos ricos em água, como iogurte desnatado, suco de frutas natural, um caldo, desde que não seja gorduroso. Estes alimentos são de mais fácil digestão.;

Marta Evangelista de Araújo, nutricionista do Conselho Federal de Nutrição

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