postado em 31/10/2009 08:37
O Teatro Nacional Cláudio Santoro está retomando a aparência original. As réplicas dos blocos de concreto projetados por Athos Bulcão (1)começaram a ser instaladas nas laterais do prédio. O trabalho segue até o fim de dezembro. A obra O sol faz a festa do artista plástico era composta por mais de 3 mil blocos de diferentes tamanhos, que criavam sombras distintas a cada hora do dia.
[SAIBAMAIS]Os novos blocos são mais leves e resistentes que os anteriores. As peças originais, que foram retiradas em 2008, tinham concreto e uma estrutura de ferro que não existe mais no mercado. A solução encontrada pelos técnicos para manter a qualidade e o visual dos blocos foi usar argamassa e fibra. "O painel vai ficar exatamente como era antes. Os blocos estão sendo reconstruídos da mesma forma", explicou o secretário adjunto de Obras, Jaime Alarcão.
Em junho de 2007, começou a obra de impermeabilização do teatro, que apresentava goteiras na área interna. Na época, acreditava-se que os blocos poderiam ser reaproveitados. Quando as peças foram retiradas, foi constatado que estavam completamente danificadas. A ferrugem corroeu os blocos de dentro para fora, e alguns já apresentavam rachaduras e aberturas. O problema vinha da água da chuva, que se acumulava no painel e enferrujava a trama de ferro das peças. A ferrugem se misturava à sujeira e escorria pela parede, manchando a fachada.
Os blocos estão sendo produzidos por uma empresa de Goiânia (GO) e instalados aos poucos. Os trabalhadores usam argamassa para fixá-los na parede. %u201CHoje, você consegue uma fixação tão ou mais resistente até do que se usar ferro ou aço. A durabilidade desse material é maior%u201D, afirmou o secretário adjunto. Segundo Alarcão, a expectativa é de que os blocos durem mais de 50 anos. "Toda vez que tivermos algum problema, temos a equipe de manutenção da Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova Capital), que pode atuar", completou.
Manutenção necessária
A secretária executiva da Fundação Athos Bulcão, Valéria Cabral, lembra que as laterais do teatro ficarão exatamente iguais à versão anterior. %u201CFoi feito um teste, um estudo de material. Depois que colocarem os blocos, eles vão pintar tudo por inteiro. Eles não correm o risco de mudar de cor%u201D, disse. O teatro passou por impermeabilização para evitar futuros problemas com a chuva, mas a manutenção será necessária nos próximos anos. "Eu acho que seria inteligente que as obras tivessem manutenção, principalmente porque refazer é muito caro", comentou Valéria.
O painel de Bulcão foi instalado em 1966 e passou mais de 40 anos sem manutenção - vez ou outra, ele era pintado para cobrir a sujeira. A lateral sul tem 1.693 blocos e a norte, 1.698 - totalizando 3.391 peças. A restauração da fachada está sendo feita pela Danluz Engenharia, vencedora da licitação, e vai custar R$ 1.335.000. A Secretaria de Obras e a Novacap supervisionam a obra, que tem apoio da Fundação Athos Bulcão e da Universidade de Brasília (UnB). Uma das dificuldades da revitalização foi fazer uma reprodução fiel dos blocos, desenhados por Athos em cinco modelos com medidas diferentes. Os moldes usados nos anos 1960 para confeccionar as peças não existem mais e foi preciso criar outros.
1 - Mestre
O artista plástico Athos Bulcão nasceu no Rio de Janeiro, em 1918. Ele trabalhou como assistente de Portinari no início da vida adulta e é o autor de diversas obras em Brasília. São projetos de Athos os azulejos do Mercado das Flores, da Rodoferroviária e da Igrejinha. Athos morreu na manhã de 31 de julho de 2008, aos 90 anos.