Cidades

Delegada responsável pelas investigações do caso Villela boicota Correio

Guilherme Goulart
postado em 01/11/2009 08:25

A delegada responsável pela apuração do triplo homicídio ocorrido na 113 Sul proibiu ontem a reportagem do Correio Braziliense de participar de uma entrevista concedida à imprensa. Martha Vargas, titular da 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul), também evitou que o jornalista de plantão na unidade policial tivesse acesso à garagem da DP, onde estão estacionados dois veículos apreendidos com um dos dois presos suspeitos de envolvimento no caso. A delegada só aceitou conversar com o repórter no fim da tarde, após intervenção das cúpulas da Polícia Civil e da Secretaria de Segurança Pública do DF.Os dois veículos Astra apreendidos pela polícia: vestígios de sangue

O mal-estar ocorreu no dia em que o inquérito completou dois meses. O casal de advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Mendes Villela, 69, e a principal empregada da família, Francisca Nascimento da Silva, 58, foram assassinados a facadas em 28 de agosto, mas os corpos só foram encontrados três dias depois, na segunda-feira, 31 de agosto. Desde então, o caso permanece sem solução. Dois suspeitos estão presos, mas a polícia não tem provas capazes de vinculá-los diretamente ao triplo homicídio. Testemunhas disseram que viram os dois, acompanhados de um terceiro, na 513 Sul na noite dos crimes.

Como publicou ontem o jornal, os investigadores ainda não têm uma única linha de investigação. Trabalham com as hipóteses de latrocínio (roubo com morte) e crime encomendado. Admitem ainda uma junção das duas possibilidades. Fontes policiais ouvidas pelo Correio afirmam que matadores receberam ordens para assassinar os Villela e, em troca do serviço, poderiam levar o que encontrassem de valioso no apartamento 601/602 do Bloco C ; o total recolhido pelos bandidos alcançou US$ 700 mil, entre joias e dólares descobertos em um fundo falso.

[SAIBAMAIS]Diante dessa indefinição, a delegada Martha Vargas vive a expectativa de permanecer à frente da investigação. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) define na terça-feira se aceita o pedido de prorrogação de 30 dias feito pela 1; DP. Existe a chance de o promotor Maurício Miranda, do Tribunal do Júri de Brasília, recomendar a troca de comando na apuração. Se isso ocorrer, o inquérito seguiria para a Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida). Na última sexta-feira, porém, o diretor-geral da Polícia Civil do DF, Cléber Monteiro, avaliou como um ;retrocesso; qualquer alteração.

Restrição
Martha Vargas chegou à 1; DP pouco depois das 15h. Além do repórter do Correio, equipes de outro jornal impresso e de duas televisões estavam de plantão no local. Sorridente, já no espaço onde se registram as ocorrências, a delegada disse que atenderia a imprensa, à exceção do Correio. ;Vou falar com vocês, sim. Podem entrar, vamos entrando;, convidou. Martha citou o nome de cada equipe, menos a do Correio. Quando os jornalistas passaram pela porta que separa a entrada da delegacia da área reservada, ela fechou a porta com firmeza, sem dar explicações.

A conversa com os demais jornalistas durou 30 minutos. Pouco antes das 16h, quando a coletiva havia terminado, uma terceira equipe de televisão chegou à delegacia. Foi autorizada a entrar para registrar imagens do carro apreendido pela polícia. Mais uma vez, a reportagem do Correio foi barrada, sem explicações. ;Ligue na Comunicação Social;, disse um dos agentes.

Após as duas negativas da delegada, a reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Polícia Civil e com a assessoria do secretário de Segurança, Valmir Lemos. Minutos depois, o próprio secretário telefonou para o repórter que estava de plantão na 1; DP. Somente durante esta conversa, a delegada Martha Vargas chamou o repórter e o recebeu no interior da 1; DP, onde conversou durante meia hora e então permitiu o acesso aos dois carros apreendidos.

Análise da notícia
Prejuízo à sociedade


Ao proibir a entrada da reportagem do Correio na 1; DP e permitir que outros veículos de comunicação tivessem acesso ao interior da delegacia ; onde seriam mostrados dois carros apreendidos durante as investigações do caso Villela ;, a delegada Martha Vargas não cerceou apenas o Correio, mas também os milhares de leitores do jornal, que cobram a solução do crime que chocou Brasília há dois meses.

É por meio do jornal que boa parte dos brasilienses fica a par do trabalho de investigação feito pela polícia, que é paga para zelar pela segurança pública e para solucionar crimes e prender bandidos. Ao cercear o jornal, a polícia deixa de dar satisfação à sociedade como um todo, e não apenas aos jornalistas do Correio.


À espera do laudo

A delegada Martha Vargas apresentou ontem pela primeira vez os dois Astra apreendidos com D., um dos dois homens presos suspeitos de envolvimento no caso Villela. O veículo preto teria sido usado para levar os assassinos até a 113 Sul. O de cor prata, também encontrado com D., aparece no sistema da polícia como produto de roubo. Dentro do primeiro, peritos encontraram material biológico. São três manchas de sangue. O laudo, sob responsabilidade do Instituto de Pesquisa de DNA Forense (IPDA) da Polícia Civil do DF, deve ser divulgado oficialmente nesta semana.

O Correio, no entanto, adiantou na última sexta-feira que o material biológico não pertencia a nenhuma das três vítimas da 113 Sul. Martha questionou a veracidade da informação. ;A verdade é que o laudo ainda não saiu. Mesmo que o sangue não seja dos Vilella, nos interessa, porque pode ter uma relação direta ou indireta com o crime. E, mesmo que não tenha, existe um crime. De qualquer modo, é sangue, é humano. Sendo sangue humano, nos interessa. Alguém foi ferido ou morto naquele carro;, afirmou. Ontem, a reportagem voltou a ouvir a fonte responsável pela informação do resultado preliminar do laudo. Ela repetiu que o sangue encontrado no veículo não bate com as sequências genéticas do casal Villela e de Francisca.

Mal-estar

Apesar disso, a delegada tentou minimizar o mal-estar provocado ao barrar a entrada da reportagem na delegacia. ;Achei que não quisessem saber, porque o Correio já divulgou o resultado. Pensei que para vocês o laudo já estava concluído. Então, de que adiantaria passar essas informações?;, tentou justificar.

Ao longo da entrevista exclusiva de 30 minutos, Martha também falou da investigação. Disse que oito delegados colhem depoimentos diariamente. ;É injusto dizer que não estamos trabalhando. Não falo por mim, falo pela minha equipe. A gente está trabalhando dia e noite. Muita gente não quer depor na delegacia para não se expor. Tem muita gente com medo. Todo mundo morre de medo dessa história;, afirmou. Segundo a delegada, ;a história não está longe do fim;.

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