No mapa do Distrito Federal, os distritais seguem à risca a divisão geográfica. Alguns deputados tomaram para si a missão de governar, pediram licença do mandato e atuam no Executivo como administradores regionais. Outros comandam por meio da indicação de aliados. Mas a maioria tem em comum o apego pelas cidades onde exercem influência. Não gostam de dividir terreno e consideram a presença dos colegas deputados em suas áreas politicamente demarcadas praticamente uma invasão de território.
Uma das áreas que melhor simboliza o rateamento territorial entre os distritais é Sobradinho. A cidade está dividida em três principais setores de influência. Sobradinho I foi entregue ao comando do deputado Raimundo Ribeiro (PSDB). Já a nomeação do administrador de Sobradinho II saiu a partir da indicação do suplente Raad Massouh (DEM). E quem domina politicamente o setor da Fercal (uma subdivisão de Sobradinho II) é Eliana Pedrosa (DEM). Ligados ao governo, os três distritais ainda dividem a base eleitoral na cidade com o deputado do PT, Paulo Tadeu, que exerce grande liderança no local.
Com vários deputados orbitando em torno de uma base muito próxima, as sobreposições são recorrentes. Único suplente com o privilégio de indicar um administrador, a jurisdição política de Raad termina onde começa a do vizinho Raimundo Ribeiro. ;Já aconteceu de eu participar de evento em Sobradinho I, estar em cima do palanque e simplesmente não ser anunciado publicamente. Mas considero que a minha liderança na região é maior do que esse tipo de atitude, moro na cidade desde os quatro anos e tive a maior votação da história no lugar;, destacou Raad, que dos 9.408 votos recebidos em 2006, 6.792 (72,1%) vieram de Sobradinho.
A história de Raimundo Ribeiro em Sobradinho não é tão antiga quanto a do colega com quem divide a base, mas o deputado se considera uma liderança legítima na região. ;Fui eleito com o grupo de Arruda e indiquei um administrador para Sobradinho I ligado ao governador. O critério da antiguidade não é o mais importante para avaliar quem exerce maior ou menor influência numa cidade, tem gente que passa uma vida inteira num determinado local e não faz nada por ele;, afirmou Ribeiro, que vive em Sobradinho desde 2002.
Foco de tensão
A poucos quilômetros de Taguatinga, um dos focos de tensão criados pela disputa de território eleitoral se resolveu recentemente com a criação da 30; Região Administrativa do DF, a de Vicente Pires. A mais nova cidade foi criada por iniciativa do Executivo e aprovada em votação pela Câmara Legislativa.
A medida redirecionou a área de atuação política do distrital Dr. Charles (PTB). Até então, o petebista trombava com o deputado Benedito Domingos (PP), que esteve à frente da administração de Taguatinga por dois anos e que agora mantém um aliado no comando da cidade. ;Construi uma liderança natural ao longo de 51 anos na cidade. Mas não me incomodo de dividir espaço. É como um filho da gente que nasce, cresce e decide se casar. Tem coisas que a gente não consegue evitar;, compara Benedito.
Palavras amigas à parte, o fato é que Dr. Charles se sentiu bem mais à vontade depois da criação de Vicente Pires, que delimitou melhor seu setor de influência. ;Não vou negar que aguardava por parte do governo a solução ou uma alternativa para que eu pudesse desenvolver meu trabalho. A criação de Vicente Pires distensionou a situação em Taguatinga;, avalia Dr. Charles.
Santa Maria é também um território dividido. O distrital Paulo Roriz (DEM) tem cargos na administração da cidade, onde exerce influência política. Oficialmente, o governo delegou a ele a gestão do lugar. Mas a despeito dos acordos formais, a inserção de Batista das Cooperativas (PRP) tem crescido na região. Os dois se apoiam na mesma bandeira, a da habitação. Uma evidência do loteamento político em Santa Maria está estampada no material de divulgação dos dois políticos, amplamente espalhado pela região.
Zonas de tensão
Conheça algumas das áreas disputadas pelos distritais
Sobradinho
É dividida entre os deputados Raimundo Ribeiro (PSDB), que exerce influência na região de Sobradinho I; Raad Massouh (DEM), com mais inserção em Sobradinho II, e Eliana Pedrosa (DEM), que detém o comando da Fercal, uma subdivisão de Sobradinho II. Além dos distritais que compõem a base do governo, o deputado Paulo Tadeu exerce grande liderança na região.
Taguatinga
Por dois anos, a cidade ficou sob a administração do deputado Benedito Domingos (PP), que saiu do comando recentemente, mas deixou um aliado no cargo. Há 51 anos, o distrital mora na mesma casa em Taguatinga e se sente um líder natural na região. Apesar da influência na administração, Benedito convive com a construção do patrimônio político de Dr. Charles, que se elegeu também com base nos votos obtidos na cidade. A tensão entre os dois políticos ficou menor com a criação da 30; Região Administrativa, de Vicente Pires. Com a medida, Dr. Charles tem feito um trabalho mais ostensivo na nova cidade.
Santa Maria
Os deputados Paulo Roriz (DEM) e Batista das Cooperativas (PRP) se sobrepõem na região. Oficialmente, Paulo Roriz recebeu do governo o aval para o comando da administração. Mas Batista tem aumentado a sua inserção na cidade, mesmo a contragosto do líder oficial, já que está interessado na mesma base eleitoral que o colega, o filão da moradia própria.
A divisão
Conheça as cidades de influência dos deputados que compõem a base do governo Arruda
Deputado Região Administrativa
Alírio Neto (PPS) Guará
Aylton Gomes (PMN) Planaltina
Batista das Cooperativas (PRP) Águas Claras
Benedito Domingos (PP) Taguatinga
Benício Tavares (PMDB) Ceilândia
Cristiano Araújo (PTB) Paranoá
Dr. Charles (PTB) Vicente Pires
Eliana Pedrosa (DEM) Fercal
Leonardo Prudente (DEM) Itapoã
Milton Barbosa (PSDB) Riacho Fundo
Paulo Roriz (DEM) Santa Maria
Raad Massouh (DEM) Sobradinho II
Raimundo Ribeiro (PSDB) Sobradinho I
Rogério Ulysses (PSB) São Sebastião
Rôney Nemer (PMDB) Recanto das Emas
Wilson Lima (PR) Gama
Consulta popular
; A Câmara Legislativa deve apreciar agora em novembro projeto que cria consulta popular para escolha dos administradores regionais. Na proposta, de autoria do presidente da Casa, Leonardo Prudente, os gestores serão escolhidos pela população, em eleição direta, entre seis nomes apresentados pelo governador. O texto já foi apreciado no aspecto da legalidade e da constitucionalidade. Agora, remetido ao plenário. Para entrar em vigor, depende ainda de sanção do governador José Roberto Arruda. O projeto cria ainda um conselho para fiscalizar a atuação dos administradores, com poder para cassar o mandato em caso de irregularidades.