Cidades

Com dívidas de R$ 800 mil, Pestalozzi pede apoio

Juliana Boechat
postado em 02/11/2009 08:44
Todos os dias, por volta das 8h15, dois ônibus brancos passam pelo portão da Sociedade Pestalozzi de Brasília, às margens da Avenida das Nações. Deles, descem diariamente cerca de 130 alunos portadores de necessidades especiais e 25 funcionários responsáveis pelo cuidado dessas pessoas. Alguns moram com a família. Outros, em abrigos do governo. Todos eles, no entanto, passam o dia no mesmo lugar, em oficinas de artesanato, recreação, dança, reciclagem, alimentação e em aulas sobre a rotina do dia a dia. Por volta das 16h45, os ônibus levam os alunos e professores de volta para casa. A Pestalozzi se mantém viva graças a doações. Mas o local não passa por uma reforma há anos, os professores não recebem salário, a piscina foi desativada e contas de luz, gás e água estão atrasadas. São quase R$ 800 mil de dívidas acumuladas durante administrações passadas.A professora de artes Rosa Nere adotou a aluna Regina Reis há cinco anos: %u201CEstou me preparando psicologicamente para me aposentar%u201D

A situação chamou a atenção do Ministério Público Federal, que, em 2005, interveio na forma de administrar o instituto. Até o ano passado, a instituição acompanhou os trabalhos da Pestalozzi para garantir que nenhuma outra irregularidade fosse cometida. Há um ano e meio, os pais dos alunos elegeram Marluzia Maria de Lima, 63 anos, como a nova diretora. Desde então, ela tenta limpar o nome da instituição, quitar as dívidas e manter o nobre trabalho todos os dias. Ela e a filha, economista, correm atrás de documentos e certidões necessárias para regularizar a situação da sociedade e, então, reatar os convênios com o governo, que ajudavam a manter a boa qualidade da Pestalozzi. Com um filho portador de deficiência mental, Marluzia acompanha o trabalho da instituição há 19 anos.

No grande terreno às margens da Avenida das Nações, a Pestalozzi conta com uma estrutura imensa para realizar os trabalhos diariamente. ;Os alunos não vivem apenas de comida. Precisamos de mais dinheiro para manter as oficinas e a infraestrutura do lugar;, reclamou a diretora. Há seis casas, onde são ministradas as aulas e onde funcionam as clínicas de fisioterapia, de psicologia e fonoaudiologia. Os alunos são divididos em pequenos grupos ; de oito nas turmas de deficiência mental e três nas de deficiência múltipla. Nas de deficiência simples, os inscritos aprendem a pintar, escrever, desenhar, dançar, etc. Os casos mais complexos incluem aprender a dar nó em cadarço, a se vestir e a resolver algumas atividades diárias sem a ajuda dos outros. ;Você se apega a essas pessoas e tem vontade de continuar ajudando. Não se tem ideia de como é até passar alguns dias aqui dentro;, diz a diretora.

Amizades
A professora de artes Rosa Nere Santos, 58 anos, não tem coragem de se aposentar. ;Estou me preparando psicologicamente para isso;, confessa. Depois de 10 anos no local, se afeiçoou aos alunos e aprendeu a gostar do trabalho. Responsável por uma turma de deficiências múltiplas, Rosa ensina diariamente higienização, formas, conceitos e o básico da rotina. Se envolveu de tal forma com a Pestalozzi que adotou uma das alunas há cinco anos. A mais nova filha, Regina Reis, 38 anos, vivia em um abrigo do governo e passava o dia na sociedade participando das oficinas. Quando elas se conheceram, foi amor à primeira vista. Em pouco tempo, Regina chamava Rosa de mãe. E Rosa levava a então aluna para passar aniversários em casa, tudo com autorização do abrigo. Hoje, ambas moram com mais duas filhas de Rosa.

Regina participa da oficina de culinária. E, em casa, coloca em prática o aprendizado da Pestalozzi. Ajuda a lavar louça, a cozinhar o almoço e ainda consegue fazer algumas receitas de surpresa para a família. Também participa com vontade das atividades de artes, de pintura e dança. ;Sou feliz aqui;, conta. Ela se lembra com saudade dos amigos que tinha no abrigo onde vivia. ;Eu ajudava a cuidar de alguns amigos. Gosto muito de todo mundo e todo mundo gosta de mim também.; Com problemas no sistema digestivo, Regina costuma ser a última a sair do refeitório. Sempre acompanhada, agradece o carinho que recebe da mãe todos os dias. ;Eu te amo, mãe;, repete.

Participe e contribua
Cerca de 80 pessoas estão na lista de espera para se matricular na Sociedade Pestalozzi. Alunos de escolas públicas e abrigos do governo podem ser encaminhados à instituição. Eles passam por avaliação para saber se se encaixam no perfil do trabalho. Se houver vaga e a pessoa for aprovada, a família pode efetuar a matrícula e receber os benefícios do local enquanto quiser. Quem deseja conhecer o trabalho da instituição, fazer uma doação ou ainda tentar efetuar alguma matrícula pode ligar no 3226-0101. A Pestalozzi fica no Setor de Clubes Sul, Trecho 3.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação