Os brasilienses estão pagando mais para abastecer seus carros. Em apenas sete dias, os preços do litro do álcool e da gasolina aumentaram em média R$ 0,13 e R$ 0,05. O valor médio cobrado no Distrito Federal, na semana passada, era de R$ 1,98 e R$ 2,73, respectivamente. E o incremento foi direto para o bolso dos donos de postos de combustíveis. Isso porque o reajuste não foi repasse de um aumento praticado pelas distribuidoras. Pelo contrário: elas cobraram menos pelos combustíveis na semana passada, de acordo com levantamento semanal feito pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e divulgado no fim de semana. Assim, a margem de lucro dos postos aumentou 43%, no caso do álcool; e 19%, no caso da gasolina. E o álcool perdeu competitividade. Pelos números da ANP, não é mais vantajoso abastecer com o combustível: a gasolina está mais rentável.
Nos 58 postos pesquisados, o preço do álcool variou de R$ 1,95 a R$ 1,99. Na semana anterior, era possível encontrar o mesmo combustível sendo vendido a R$ 1,78 e, no máximo, R$ 1,88. Os postos aumentaram o preço médio em 7% em apenas uma semana e engordaram seus caixas com o produto. Até 24 de outubro, as distribuidoras estavam vendendo por um valor médio de R$ 1,53. Na semana seguinte, reduziram em R$ 0,01, mesmo com o reajuste esperado em função de uma redução da produção de cana-de-açúcar por causa das chuvas e de um aumento da destinação do produto para o açúcar, bem cotado internacionalmente. Mas a redução não chegou às bombas. A margem de lucro dos proprietários de postos brasilienses saltou de R$ 0,32 para R$ 0,46 no período.
A queda do valor pago às distribuidoras foi ainda maior no caso da gasolina. Até o último dia 24, os empresários do DF pagavam R$ 2,26 por litro. Na semana passada, passaram a comprar por R$ 2,23. E, na contramão, começaram a cobrar mais dos clientes. O valor entre os dias 18 e 24 oscilava de R$ 2,64 a R$ 2,69. Na última semana, saltou para uma faixa entre R$ 2,71 e R$ 2,74. O caixa dos postos ficou mais gordo. O lucro médio passou de R$ 0,41 para R$ 0,49.
Para o técnico em telecomunicações Samuel Borba, 53 anos, nada justifica o ;aumento absurdo; do preço dos combustíveis. ;Onde estão as autoridades para tomar providências? O cartel é claro, os valores cobrados são muito altos e a gente não vê ninguém fazer nada. Estamos completamente desamparados;, desabafou enquanto abastecia em um posto na Asa Norte. O filho dele, Ageu Borba, 24, que também enchia o tanque, completou: ;Os preços estão em uma montanha-russa sem descida. Não vai demorar muito para a gente começar a pagar R$ 3 pelo litro de gasolina.;
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis Automotivos e de Lubrificantes do Distrito Federal (Sinpetro), José Carlos Ulhôa, disse que os números da ANP estão defasados e, portanto, não são confiáveis. ;Tenho notas fiscais que podem comprovar o que estou dizendo. Semana passada, recebemos um aumento de quatro centavos no álcool e já fui avisado de um aumento de mais dois centavos esta semana;, afirmou. ;Melhor do que questionar os dados da ANP é a gente apresentar, à luz da verdade, esses documentos;, completou, negando qualquer repasse indevido ao consumidor. Ulhôa sustenta que o reajuste da semana passada se deve à entressafra da cana-de-açúcar e que os postos estão apenas recalculando os preços com base no que é cobrado pelas distribuidoras.
Prefira a gasolina
Depois de semanas cotado como vantajoso, o álcool deixou de ser atraente para os proprietários de carros bicombustíveis da cidade. O reajuste médio de R$ 0,17 em cada litro o tirou do páreo. Pelos números da ANP, abastecer com o combustível não vale a pena em nenhum posto da cidade: em todos eles, o álcool ultrapassou o limite e está custando mais de 70% do valor da gasolina. Um tanque cheio com álcool dura 30% menos do que o que utiliza o combustível concorrente, por isso, para ser vantajoso, ele tem que custar menor de 70% do valor da gasolina.
Os especialistas reforçam que o consumidor pode usar o combustível que quiser e pode misturar um com o outro no mesmo tanque. Mas a tendência é de que o álcool volte a perder espaço no mercado. Atualmente, para cada litro comercializado do combustível, são vendidos três litros de gasolina. Mas a quantidade já foi menor. O volume vendido de álcool, de janeiro a agosto deste ano, é 40% superior ao do mesmo período de 2008. Nos primeiros oito meses de álcool, o comércio de gasolina caiu 3%.
O carro da administradora Edlamar Silva, 45, é flex (ou seja, o tanque aceita álcool e gasolina), mas ela não vê mais vantagem nisso. ;Não compensa abastecer com álcool. Até porque ele rende menos que a gasolina. Só valeria a pena se fosse muito mais barato;, comentou logo após encher o tanque de gasolina em um posto da Asa Norte. ;Acabei de chegar de São Paulo e, lá, o litro do álcool está custando R$ 1,73. Aqui em Brasília, tudo é mais caro, impressionante;, comparou.
Os combustíveis mais baratos, segundo a pesquisa da ANP, estão sendo vendidos no Guará e em Taguatinga. Mas é preciso pesquisar, porque em Taguatinga também há vários postos cobrando o preço mais caro do DF. Os estabelecimentos de Águas Claras, Candangolândia e do Setor Hoteleiro Norte praticam os valores mais salgados. O Distrito Federal tem a quarta gasolina mais cara do país. Apenas os estados do Acre, Amapá, Tocantins e Mato Grosso vendem mais caro. E é a sexta unidade da federação a cobrar mais pelo álcool ; ficam à frente Acre, Amapá, Pará, Rio Grande do Sul e Roraima.
Pesquisa
Com a realização de um levantamento semanal, a ANP acompanha o comportamento dos preços praticados por distribuidoras e postos revendedores de combustíveis. Na semana passada, foram pesquisados 58 postos em todo o Distrito Federal. Os dados podem ser acompanhados no endereço: http://www.anp.gov.br/preco.
Eu acho...
;Existe uma formação de cartel em Brasília. E nós somos reféns dele. Não tem jeito: eles (os donos de postos) estão visando o lucro. Infelizmente é isso. E os culpados somos nós que aceitamos essa situação porque ficamos obrigados a abastecer o carro;
José Odilson Santos, 45 anos, policial militar