Cidades

Gás natural não atrai consumidores no DF

Além do preço do metro cúbico ser o mais alto do país, o GNV esbarra na pouca oferta e no elevado custo para a adaptação de veículos

postado em 06/11/2009 08:10
Walmir Severeni diz que o preço de instalação do sistema é alto, mas compensa pela economiaDois anos após Brasília aderir ao sistema de gás natural veicular (GNV), esse mercado ainda encontra dificuldades para deslanchar. Apenas dois postos vendem o combustível limpo (1)na capital federal: um no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) e outro na Candangolândia. Ambos pertencem à Rede Gasol. Além da pouca oferta, o preço do metro cúbico ; R$ 1,99 ; repassado aos motoristas é o mais caro do país, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

O custo de instalação também dificulta o avanço. Há três oficinas credenciadas no Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) e, portanto, autorizadas para instalar o sistema (2); na Estrutural, no Guará e em Águas Claras. Nelas, o preço varia de R$ 2 mil a R$ 5 mil, a depender do modelo, ano e motor do veículo. De acordo com o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran), até outubro último havia 1.457 veículos adaptados para receber gás natural no DF.

Apesar dos entraves, o diretor administrativo-financeiro da Companhia Brasiliense de Gás (Cebgás), André Macedo, avaliou os dois primeiros anos como positivos para o mercado. Segundo ele, os dois postos têm vendido, em média, somando as 20 bombas disponíveis, 10 mil m; por dia. A previsão inicial era comercializar 45 mil m; diariamente só no primeiro posto, o do SIA, que começou a funcionar em novembro de 2007. Nos primeiros meses, eram vendidos apenas 1 mil m; por dia. O segundo posto foi inaugurado em dezembro do ano passado, um mês após o valor do m; aumentar R$ 0,20.

Um terceiro posto deve começar a vender gás natural no fim da Asa Norte até abril de 2010, de acordo com Macedo. ;Temos percebido uma grande demanda. No início (em 2007), existia um cenário de crise, mas agora é diferente. Está sobrando gás;, comentou o diretor da Cebgás, a distribuidora do DF. Brasília começou a vender gás natural no mesmo mês em que o governo federal orientou aos motoristas a não adotarem o novo sistema, por conta da crise na Bolívia.

O gás que chega a Brasília sai de Paulínia, no interior de São Paulo. Como não há gasodutos na região da capital federal, o combustível é transportado em caminhões, o que encarece o produto. ;O gás natural só vai pegar por aqui depois da construção de um gasoduto;, sustentou o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis Automotivos e de Lubrificantes do Distrito Federal (Sinpetro), José Carlos Ulhôa. Ele lembrou que o governo local abriu mão de boa parte do ICMS do gás, para tentar barateá-lo.

Economia
Hoje, o metro cúbico do gás custa, no DF, o mesmo que o litro do álcool. No entanto, rende o dobro. Um metro cúbico faz o carro rodar, em média, 14km. Em alguns casos, até 20km. Já um litro do álcool garante autonomia, em média, para 7km. Os carros adaptados ao gás em Brasília são, em sua maioria, de empresas ou taxistas. ;É uma ótima economia. Cerca de 5% da nossa frota já abastece com gás natural;, disse a presidente do Sindicato dos Condutores Autônomos de Táxi (Sindicavir-DF), Maria do Bonfim.

Taxista há 17 anos, Marcos Antônio Silva, 35, passou a economizar R$ 750 por mês com combustível desde que comprou um Fiat Siena pronto para receber gás natural. Antes, ele gastava, em média, R$ 50 por dia com gasolina. Com o novo carro, passou a desembolsar a metade, R$ 25. ;O valor do metro cúbico não é barato aqui em Brasília, mas, mesmo assim, a economia é grande;, afirmou Silva, que, por pagar menos que os concorrentes, pode rodar mais à procura de passageiros.

A economia do gás natural, no entanto, ainda não é capaz de estimular tanto o mercado. Lucilene Sousa, consultora técnica de uma das lojas autorizadas a instalar o sistema no DF, conta que a curiosidade dos clientes é grande, mas o número de négocios fechados deixa a desejar. ;Mês passado, adaptamos apenas um carro;, revelou. Desde o início do ano, 60 carros foram adaptados na loja, bem menos que os 200 do ano passado. ;Interesse até existe, mas as instalações ainda são poucas, o mercado não está bom;, concluiu.

No Rio de Janeiro, cidade do militar Sandro José Marques, 39 anos, há 91 postos que vendem gás natural. O metro cúbico custa na capital fluminense, de acordo com a ANP, R$ 1,41, R$ 0,58 mais barato do que no DF. Quando se mudou para Brasília, um ano atrás, Marques se espantou com a nova realidade de preço e de quantidade de postos. ;Tenho que percorrer 20km para abastecer. Espero realmente que a capital federal evolua em relação a isso;, disse ele, enquanto abastecia no posto do SIA.

A gerente do estabelecimento, Eziane Neves de Almeida, disse que muitos dos carros que abastecem com gás natural são de outros estados, como o Rio de Janeiro. ;Mas muita gente daqui também tem percebido as vantagens;, ponderou. O bombeiro Walmir Severino, 34, é um deles. ;O custo da instalação é alto (ele pagou R$ 3,4 mil), o preço do metro cúbico também, mas vale a pena. Passei a economizar cerca de R$ 300 por mês;, calculou o dono de um Fiat Doblo.

1 - Lixo orgânico
O gás natural veicular não é derivado de petróleo, pode ser extraído do processamento do lixo orgânico em usinas. Por isso, emissões de gases poluentes, como o monóxido de carbono (CO) e o óxido de nitrogênio (NOx), sofrem reduções significativas, o que melhora a qualidade do ar. O uso do gás em veículo particular foi liberado no Brasil em 12 de janeiro de 1996, por meio do Decreto n; 1.787.

2 - Adaptação
Alguns modelos já saem de fábrica com a opção do gás natural, mas é possível adaptar qualquer outro veículo ao sistema. Para tanto, é instalado um conjunto de reservatórios, além de uma rede de tubos de alta e baixa pressão, dispositivo regulador de pressão, válvula para o abastecimento, chave comutadora para alternância entre combustíveis e indicadores e leitores do sistema.

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