Guilherme Goulart
postado em 07/11/2009 09:14
O promotor Maurício Miranda, do Tribunal do Júri de Brasília, requisitou no início da noite de ontem a troca de unidade policial para a conclusão do inquérito sobre o triplo homicídio da 113 Sul. Ele recebeu na quinta-feira o pedido da 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul), até agora responsável pelo caso, para prorrogar as investigações por mais 30 dias. Deu o prazo, mas com a ressalva de que a apuração seja passada para a Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), especializada em homicídios. Miranda disse ao Correio que tomou a decisão com base em regra da própria Polícia Civil. ;A Norma de Serviço n; 5 determina que, se não tiver autoria, o inquérito segue para a Corvida. É o caso. Também não vejo razão para fazer diferente do que faço em relação a outros homicídio. Existe aqui no DF uma unidade especializada para esse tipo de crime;, explicou o promotor. O entendimento dele depende agora da assinatura da presidência do Tribunal do Júri de Brasília. A confirmação deve sair na segunda-feira.
Miranda estudou os quatro volumes do inquérito aberto pela 1; DP, que é chefiada pela delegada Martha Vargas. Avaliou as principais linhas de investigação levantadas em 60 dias de apuração. Há as hipóteses de latrocínio (roubo com morte) ou crime por encomenda. Existe ainda a possibilidade de junção das duas.
Principais suspeitos
Se a investigação seguir para a Corvida, os policiais da unidade especializada deverão voltar suas atenções para os dois suspeitos presos na terça-feira, Alex Peterson Sores, 23 anos, e Rami Jalau Kaloult, 28. Os agentes da 1; DP chegaram a ambos por meio de denúncia anônima, de acordo com o delegado Cléber Monteiro, diretor-geral da Polícia Civil do DF. ;Recebemos uma informação que um grupo fazia uso de drogas em um imóvel da Vila São José e que, entre eles, havia gente envolvida no crime da 113 Sul;, explicou ontem, durante a entrevista coletiva para a apresentação do laudo do Instituto de Criminalística.
Segundo Monteiro, assim que viu os policiais, Alex fugiu. ;Flagrado fumando crack no banheiro, o Rami foi logo dizendo que o molho de chaves no local não era dele. A preocupação chamou a atenção dos policiais, que nem estavam atrás de alguma chave;, lembrou o diretor. A delegada Martha Vargas levou o molho de chaves à 1; DP. Policiais acabaram detendo Rami por uso de droga e encontraram Alex no Núcleo Bandeirante. Ambos foram levados ao distrito da Asa Sul.
Da delegacia, Martha seguiu ao apartamento dos Villela, onde constatou que uma das chaves abria a porta de serviço e a da despensa do imóvel. Indagado, Alex disse que as chaves pertenciam à serralharia onde trabalha. O dono da empresa, porém, afirmou que o molho de chaves havia sido furtado e desconhecia aquela que seria da residência no Bloco da 113 Sul.
Monteiro informou que Rami morou na 112 Sul. Filho de um dentista aposentado, ele foi acusado de ter aplicado o golpe ;boa noite, Cinderela; ; em que a vítima é dopada e roubada ; em uma moradora da 310 Sul. Já Alex acabou reconhecido por um dos porteiros do Bloco C da SQS 113, como um dos pedintes que circulam pela quadra.
O número
1 mês
Prazo extra pedido pela 1; DP para investigar o caso Villela. Os policiais apuram o crime há mais de 60 dias
Relação investigada
Há outro indício em investigação a respeito dos suspeitos detidos nesta semana. O Correio apurou que um deles teria mantido relacionamento com Francisca Nascimento da Silva, a empregada dos Villela morta com os patrões em 28 de agosto. Caso se consiga estabelecer o vínculo, pode estar aí a resposta para o fato de os dois presos estarem com a chave do apartamento.
Por volta das 17h de ontem, a delegada Martha Vargas saiu da 1; DP acompanhada do diretor do Departamento de Polícia Circunscricional (DPC), André Victor do Espírito Santo, e do delegado Wellington Barros para fazer mais uma diligência. Uma fonte informou que a equipe foi cumprir um mandado de apreensão na residência de Alex, em Vicente Pires. Segundo duas sobrinhas de Alex, Rami havia se mudado para lá havia poucos dias. Os policiais já tinham recolhido algumas ferramentas de trabalho da dupla, entre elas, facas e outros instrumentos pontiagudos.
O fato de os suspeitos trabalharem com luvas chamou a atenção dos investigadores. Na entrevista coletiva de ontem, nem policiais nem peritos do Instituto de Criminalística souberam explicar a ausência de impressões digitais de pessoas estranhas no apartamento dos Villela. Todos alegaram que as informações estão com a equipe do Instituto de Identificação da Polícia Civil, mas ninguém do órgão estava presente à coletiva.
Outros detidos
O diretor-geral da Polícia Civil, Cléber Monteiro, afirmou que os agentes da 1; DP não descartaram a participação de outros dois suspeitos presos há mais tempo. Monteiro, porém, afirmou que as duplas de detidos não têm relação entre si. Os primos D. e A. permanecem detidos há um mês e meio, mas por acusações de pistolagem e clonagem de veículos. Segundo a polícia, testemunhas viram a dupla, e um terceiro homem, na 513 Sul na noite dos três homicídios. Existe a suspeita de que D. tenha dirigido o carro usado na fuga dos assassinos e A. tenha esfaqueado as vítimas, mas até hoje não há provas para indiciá-los pelo triplo homicídio. Os dois são primos e integrariam, ainda de acordo com a polícia, o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa de São Paulo. D. também é acusado de ser um matador de aluguel. Quando foi preso, D. conduzia um Astra roubado. Havia sangue no veículos, mas os peritos verificavam que não pertencia às vítimas da 113 Sul.
Os investigadores apuram ainda uma possível relação entre o triplo homicídio e o assassinato de um casal em Santa Maria. Adolfo de Jesus Carvalho, 24, e Marcela Lorena do Nascimento, 18, acabaram executados um dia após o crime da SQS 113. Ainda não há provas de vínculo entre os dois casos(1), mas a 1; DP trabalha com a 33; DP (Santa Maria).
1- Repasse
Um dos elos entre os dois inquéritos é a proximidade das datas dos assassinatos, 28 de agosto, no caso Villela, e 30 de agosto, no dos jovens de Santa Maria. Há a suspeita de que Adolfo e Marcela tentaram vender ou repassar joias e dólares no fim de semana em que acabaram mortos.