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Volume de água da Barragem do Descoberto diminuiu 18% em 25 anos

A represa é responsável por dois terços (65%) do abastecimento do Distrito Federal. Ocupação desordenada é um dos vilões

postado em 09/11/2009 08:18
Ano de 1974. De longe, era possível ver a imensidão e fartura de água da Barragem do Descoberto, responsável por dois terços (65%) do abastecimento do Distrito Federal. Naquele tempo, as construções começavam a surgir em grande escala e o verde das matas ciliares acabou sendo esmagado com a ocupação humana, fator que contribuiu para o assoreamento do lago e, consequentemente, a degradação ambiental. De lá para cá, o cenário mudou drasticamente. Em 25 anos, o volume de água caiu 18% e a vazão, que era de 6 mil metros cúbicos por segundo, baixou para 5,4 mil. A perda é de 600 litros por segundo ou 36 mil litros por minuto, 2,1 milhões de litros por hora e 51,8 bilhões ao ano. O líquido perdido diariamente é mais do que suficiente para abastecer toda Taguatinga, onde há mais de 300 mil habitantes.

Construções sem infraestrutura adequada próximas ao Lago do DescobertoA Barragem do Descoberto está localizada às margens da
BR-070 (rodovia que liga o Plano Piloto a Águas Lindas), a poucos metros da divisa do DF com Goiás. Inicialmente, a área inundada era de 14,8km;, mas hoje são 12,4km;. O maior problema fica na região de Águas Lindas, onde diversas moradias se fixaram nas últimas décadas sem que houvesse preocupação com infraestrutura. O resultado não poderia ser outro: durante o período de chuvas, com a perda de vegetação natural, o solo fica desprotegido e a água acaba escorrendo pela superfície em vez de se infiltrar na terra e abastecer o lençol freático. Além de provocar erosões, a força da água também carrega para dentro dos mananciais todo tipo de resíduos, como barro, areia e lixo, o que dificulta ainda mais o processo de vazão.

De acordo com o supervisor de meio ambiente da Companhia de Saneamento de Brasília (Caesb), Maurício Luduvice, o crescimento urbano desordenado em cidades próximas do manancial não é o único vilão da história, embora contribua significativamente para a escassez de água. ;Além dessa ocupação não planejada, temos também a questão da educação das pessoas. Muitas acham que lago é depósito de lixo. Temos de mudar essa consciência;, explicou, mencionando ainda fatores climáticos e geológicos que podem ter parcela de culpa na diminuição do volume da barragem.

A situação do manancial ainda passa despercebida pela maioria população. O comerciante Valdigne Ferreira, 53 anos, por exemplo, mora há três anos em uma região de chácaras de

Brazlândia, próximo à Barragem do Descoberto. Ele avalia que é importante o cuidado com o manancial, mas diz não ter notado a diminuição do volume de água no lago que abastece mais de um milhão de pessoas em Ceilândia, Taguatinga, Plano Piloto, Samambaia e Recanto das Emas. ;Na época da seca, é normal baixar um pouco, mas nunca vi faltar água na região;, disse.

Embora nem todos percebam, o Lago do Descoberto agoniza, como se a morte viesse lentamente, com o passar dos anos. Em razão desse risco, especialistas correm contra o tempo para evitar que o nível do reservatório baixe ainda mais e comece a afetar a distribuição de água nas cidades do DF. Para isso, o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), em parceria com a Agência Reguladora de Águas e Saneamento (Adasa), Caesb e outros órgãos de proteção ambiental trabalham para recompor a vegetação perdida, a fim de reduzir os impactos provocados pelas invasões. Um deles é o projeto de plantio de 130 mil mudas de espécies nativas ao longo da orla do lago e a realização de um trabalho de conscientização com os moradores e agricultores da região.

Santa Maria

A Barragem Santa Maria se encarrega de abastecer cerca de 27% da população de Brasília. Foi construída em 1961 com um espelho d;água de 6 km;. O manancial quase não perdeu em volume e extensão nos últimos anos, tendo atualmente 5,9 km;. Segundo o supervisor de Meio Ambiente da Caesb, Maurício Luduvice, o fato de estar localizado na área do Parque Nacional de Brasília torna o manancial mais protegido em razão da vegetação existente ao seu redor. Ele é responsável por garantir água a mais de 500 mil pessoas do DF. Na época da seca, uma das maiores preocupações é com o risco de queimadas que podem destruir a mata e prejudicar o lençol freático com o escoamento de água pelo solo no período de chuvas. Outra preocupação é o aterro sanitário da Vila Estrutural, o lixão. Estudos têm sido feitos para avaliar se o chorume estaria contaminando os lençóis freáticos próximos à bacia de Santa Maria, o que pode comprometer a qualidade da água.

O longo processo de destruição que atinge os mananciais hídricos do DF e o crescimento populacional têm feito a Caesb estudar como buscar água em locais mais distantes ou acessíveis. No mês passado, a companhia anunciou que, para 2011, o Lago Paranoá terá a função de fornecer água a 500 mil pessoas. Esta seria uma alternativa, diante do risco iminente de faltar água no DF, sobretudo no período de seca. O processo de buscar recursos hídricos em outros lugares deve afetar o bolso do brasiliense. ;À medida que a gente tem que pegar água mais longe, os custos aumentam e esse repasse é feito ao consumidor;, disse o superintendente de Recursos Hídricos da Adasa, Diógenes Mortari.

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