Cidades

Lagoa Joaquim Medeiros e córrego Cascarra, em Planaltina, desapareceram

postado em 09/11/2009 08:29
Se os grandes mananciais do Distrito Federal já sentem os impactos da degradação ambiental, era de se esperar que os pequenos lagos, além de córregos e lagoas, estivessem em profunda agonia. ;Proibido pescar;, ;Proibido nadar;, informam duas placas colocadas às margens da DF-230, próximo ao Morro da Capelinha, em Planaltina. Quem olha para elas não entende bem o motivo das proibições. Afinal, onde está o reservatório em que as pessoas pescariam ou nadariam? O que sobrou dele foram apenas uma extensão de mato seco e algumas poças d;água vistas ao fundo da área. Quem olha não acredita que ali existiu uma lagoa chamada Joaquim Medeiros, cheia de peixes das mais variadas espécies e tamanhos. Tinha cará, traíra, bagre e até tartaruga. Há quem jure que existia por ali jacaré.

A professora Márcia Cristina junto à placa, única pista que existiu ali uma lagoa chamada Joaquim MedeirosA professora Márcia Cristina Pereira, 42 anos, lembra bem dos tempos em que saía de casa aos fins de semana só para apreciar a beleza da lagoa. ;À noite era um espetáculo. A gente levava violão, tapete e ficava sentado à beira do lago, admirando a lua;, conta. E foi assim durante muito tempo. Até cinco anos atrás, ainda era possível ver água no local, apesar do volume abaixo do normal. ;Era tudo verdinho ao redor. Todo mundo saía de casa para nadar e era aquela fila de carros;, lembra a professora, que, à época, cansou de ver carroceiros carregarem baldes de água do lago.

Outra que não esquece o passado valioso é a agricultora Lucimar Alves de Toledo, 38. Desde os 12 anos de idade, ela mora em uma chácara próxima à lagoa Joaquim Medeiros. Mudou-se do Gama com os pais e 13 irmãos. ;Eu vi esse lago quando ainda era cheio. Me entristece muito ver que ele secou e que tem gente que ainda por cima joga lixo nele;, contou. Além da ocupação e do despejo de lixo, outro motivo que pode ter levado a lagoa à morte seria a captação de água por parte dos agricultores para irrigação de plantações. ;Eles foram proibidos de utilizar água da lagoa para esse fim;, disse o administrador. A situação mostra que essa medida de nada adiantou.

Na estação Águas Emendadas, em Planaltina, o córrego Cascarra, que desembocava no córrego Fumal e abastecia a cidade, praticamente desapareceu. Em 1989, o córrego passou a ser fonte para captação de água da Caesb, em razão de contaminação por derramamento de defensivo agrícola na Barragem do Brejinho. Mas, há 12 anos, somente no período das chuvas o ex-córrego é caminho para filetes de água. Três buritis que caracterizam o solo encharcado morreram.

Segundo o coordenador da estação, Aylton Lopes Santos, a vazão era de aproximadamente 50 litros por segundo, mas hoje não chega a 5 litros. ;De maio a outubro, o córrego fica completamente seco. Somente no período de chuva é que surge um pouco de água. É triste ver essa situação porque afeta toda a biodiversidade existente;, explicou.

Para a coordenadora do Programa Adote uma Nascente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Vondete Maldaner, ainda não é possível explicar o que tem levado as lagoas e córregos a secarem. ;Estamos começando o monitoramento dos olhos d;água, mas em Planaltina temos percebido que a maior parte das nascentes têm reduzido o volume. Pode ser um fenômeno regional;, acredita. O fato de haver muitos produtores rurais pela região pode estar influenciando na diminuição da disponibilidade de água. Próximo à lagoa Joaquim Medeiros, por exemplo, os técnicos também acreditam que as inúmeras fundações de poços artesianos possam ter influenciado no processo de secagem.

Os tristes fins que tiveram a lagoa Joaquim Medeiros e o córrego Cascarra não eram previstos para tão cedo. Especialistas apontam que a retirada de água para irrigação da agricultura, a instalação de poços artesianos, o uso doméstico e industrial são alguns dos motivos que levam um lago a secar. Para o superintendente de Recursos Hídricos da a Agência Reguladora de Águas e Saneamento (Adasa), Diógenes Mortari, multar quem desrespeita o meio ambiente e o uso indiscriminado da água não adianta. ;É preciso mudar a cultura instalada nos dias de hoje. O ser humano tem que entender que está fazendo mal não somente para a natureza, mas para ele também;, avalia.

Para janeiro de 2010, a Adasa pretende começar a implantar 128 estações de monitoramento das águas pluviais, lagoas, rios e córregos espalhados pelo DF. Ainda não existe, porém, um levantamento de quantos são e onde estão localizados. O programa está em fase de licitação e está orçado em R$ 1,5 milhão. Com ele, a intenção é criar uma rede de observação dos recursos hídricos disponíveis para identificar eventuais irregulares no volume da água ainda no início. ;Ver uma nascente brotar é algo que não tem preço;, disse Diógenes.

As lagoas do DF

Nos limites da capital federal existem apenas três lagoas naturais: Jaburu, localizada próximo ao Palácio do Jaburu ; onde mora o
vice-presidente da República, José Alencar ;, Lagoa Bonita e Joaquim Medeiros, ambas localizadas em Planaltina.

Lagoa do Jaburu ; Recebeu este nome em razão da presença de grandes pássaros conhecidos como jaburus. A lagoa está ameaçada com a redução do espelho d;água estimada em 5%. Localizada na área nobre de Brasília, dentro da residência oficial do vice-presidente da República e distante alguns metros da orla do Lago Paranoá.

Lagoa Bonita ; Está protegida por lei desde que passou a integrar a área da Estação Ecológica Águas Emendadas, unidade de conservação sob responsabilidade distrital. É o maior espelho d;água natural do DF, com 193 hectares de área. Tem sido prejudicada pela expansão de lavoura de soja e pastagens.

Lagoa Joaquim Medeiros ; É uma pequena lagoa natural na parte norte do DF, ao lado da DF-230, em área protegida por legislação local. Integra um parque ecológico que pode ser visitado por qualquer pessoa.

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