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Cadeirante processa faculdade particular por falhas em elevadores

Os elevadores estão lá. No entanto, frequentemente apresentam falhas. Portadora de distrofia muscular, Mariana Rodrigues Veloso Costa, 32 anos, utiliza cadeira de rodas para se locomover. A Constituição Federal garante a ela e a qualquer outra pessoa com dificuldade de locomoção o acesso a locais públicos ou de uso coletivo. Mas, para isso, é necessário pelo menos um acesso disponível, sem obstáculos.

Vítima recorrente dos problemas nos elevadores do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb), na L2 Sul, a estudante de Jornalismo tomou a decisão de processar judicialmente a faculdade. De acordo com Mariana, os elevadores apresentam falhas pelo menos uma vez a cada semana, impedindo-a de frequentar as aulas e causando constrangimento diante da turma e de funcionários da instituição.

Na semana passada, por exemplo, faltou uma peça para manutenção e o elevador do prédio onde estuda, o Bloco H do campus Sul, ficou sem funcionar desde quarta-feira (04/11). Não há previsão para voltar à normalidade.

Segundo a aluna, houve uma ocasião em que precisou descer as escadas carregada por funcionários. ;É um risco, tanto para mim quanto para as pessoas que estão me levando, que não têm o costume disso;. Enquanto era ajudada, a estudante diz que encontrou a diretora-geral do Iesb, Eda Coutinho, que garantiu não saber da situação e que resolveria pessoalmente o caso.

Mariana conta que já entrou em contato com a ouvidoria da faculdade quatro vezes, a última nesta semana. Todos os dias ela precisa ir até a recepção de outro bloco do campus para pedir uma chave que abra o elevador. ;Eu tenho que ir a outro prédio avisar que cheguei e o funcionário com a chave vai até meu bloco para abrir. Se funcionasse, o funcionário também não precisaria ficar esperando até as 22h para abrir a porta para mim;, afirma.

A estudante já é conhecida na ouvidoria da instituição. Ainda neste ano, reclamou de vendedores ambulantes que ocupavam vagas destinadas a deficientes na porta da faculdade. A reclamação deu certo e as vagas foram desocupadas. Quanto aos elevadores, as queixas não têm resolvido.

Ação judicial

De acordo com o advogado de Mariana, Pedro Ivo Cordeiro, a ação contra o Iesb busca ressarcir danos morais e inibir novas falhas no elevador. Mariana pede R$ 100 mil de indenização e tutela inibitória (ação jurisdicional com o objetivo de impedir que um ato ilícito se repita). ;Queremos que o Iesb faça esse elevador funcionar, sob pena de multa diária;, diz o advogado.

O valor da multa é fixado pelo juiz de cada caso, mas Pedro Ivo diz que na ação pedirá algo em torno de R$ 1 mil por dia. Foi dada entrada no processo na última sexta-feira (6/11), na 13; Vara Cível de Brasília. De acordo com a Promotoria de Justiça da Pessoa Idosa e da Pessoa com Deficiência do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), não há outros processos contra instituições de ensino por causa de problemas com acessibilidade.

Iesb

Ao correiobraziliense.com.br, a diretora-geral do Iesb, Eda Coutinho, afirmou que foi procurada pela aluna uma única vez e que o problema foi resolvido. Ela disse desconhecer o fato de a situação ser recorrente. Segundo Eda, a instituição responderá à questão em juízo, mas desde já entrará em contato com a aluna para tomar conhecimento da reclamação e providenciar soluções. ;Já tivemos um problema parecido em que mudamos a sala para não prejudicar o aluno;, afirmou.

Segundo o diretor-adjunto do Iesb, Ricardo Pimentel, em uma avaliação recente, as instalações da instituição de ensino foram consideradas suficientes para atender às necessidades de alunos com deficiência. ;Mesmo assim, os alunos têm liberdade para vir até a direção e expor os problemas. O fato de estarmos adequados às necessidades não nos furta de resolver as questões que apareçam;, declarou.

O que diz a Lei

A Lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000, determina que todo edifício público ou privado destinado ao uso coletivo deve ser acessível a pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. De acordo com o coordenador do Fórum Permanente de Apoio e Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência no DF e Entorno (Faped), Michel Platini, o fórum recebe entre 10 e 15 reclamações todo mês. ;A gente chega a receber mais denúncias que o próprio governo;, afirma.

As denúncias recebidas são encaminhadas ao Ministério Público para possíveis vistorias e punições. O coordenador do fórum diz que falhas em elevadores são comuns, prejudicando não só pessoas com deficiência, mas também aquelas com dificuldade provisória de locomoção. ;Outro problema são os elevadores velhos, que vivem quebrando. Isso é triste de lidar. A justificativa é de que existe o elevador, mas está só quebrado temporariamente; diz Michel.