Cidades

Sem respostas, caso Villela terá força-tarefa

Tribunal do Júri acata recomendação do MP e manda que a investigação passe para a Corvida, coordenação especializada em homicídios. Polícia Civil defende que a 1ª DP não fique totalmente de fora da apuração

Guilherme Goulart
postado em 12/11/2009 07:55

A Justiça do Distrito Federal determinou ontem a troca de unidade policial para a conclusão do inquérito responsável pelo triplo homicídio ocorrido na 113 Sul. O juiz Fábio Francisco Esteves, do Tribunal do Júri de Brasília, seguiu a recomendação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e tirou o controle do caso da 1; Delegacia de Polícia (1; DP), na Asa Sul. Na decisão, à qual o Correio teve acesso, ele encaminha a apuração para a Coordenação de Investigação dos Crimes Contra a Vida (Corvida). Apesar de não ter sido notificada oficialmente, a cúpula da Polícia Civil do DF anunciou que pretende criar uma força-tarefa para tentar resolver o mistério.


A delegada Martha Vargas, titular da 1ª DP, comandava as investigações do triplo homicídio desde 31 de agostoO magistrado deixa claro, no despacho registrado às 17h55 de 10 de novembro, os motivos para a decisão. Além de se basear na requisição do promotor Maurício Miranda, do Tribunal do Júri, ele optou pela alteração de delegacia, com o fim de garantir o sucesso das investigações, bem como evitar possíveis irregularidades. Os problemas passariam pelas próprias diligências realizadas pela equipe de investigadores sob o comando da delegada-chefe da 1; DP, Martha Vargas. Entre eles, prisões ilegais e falta de autorização para retirada de documentos.

O juiz descreveu no texto que ele mesmo constatou irregularidades no trabalho policial ao ir à 1; DP no último dia 6. De acordo com a decisão, verificou-se que os dois últimos presos foram detidos na noite da terça-feira da semana passada, sendo que a prisão temporária foi decretada somente na noite seguinte. Esteves cita que esses dois homens acabaram surpreendidos pela polícia com a chave do apartamento dos Villela.

O texto ainda aponta problemas na busca por provas, indícios e informações sobre as mortes do casal de advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Mendes Villela, 69; e a principal empregada da família, Francisca Nascimento da Silva, 58. Parentes das vítimas teriam afirmado que a polícia retirou documentos do escritório de advocacia da família, sem autorização judicial ou de qualquer um dos representantes da firma.

[SAIBAMAIS]O juiz faz também um balanço das quatro prisões desde o início das investigações e conclui que a autoridade policial não apresentou dado consistente acerca da autoria do crime. Sendo assim, baseia-se em norma de serviço da própria Polícia Civil do DF para passar o caso à Corvida. A de número 5 aponta que inquéritos de homicídio sem autoria definida no prazo de 30 dias devem ser redistribuídos para a unidade especializada. Os investigadores da 1; DP tiveram 72 para resolver o crime cometido em 28 de agosto. Os corpos só foram encontrados no apartamento 601/602 do Bloco C da SQS 113 em 31 de agosto.

Força-tarefa
Embora alegue não ter sido informada oficialmente sobre a decisão da Justiça, a cúpula da Polícia Civil do DF admite alterar o comando das investigações. O diretor da corporação, Cléber Monteiro, afirmou ontem ao Correio que um grupo de trabalho dará continuidade à apuração do triplo homicídio. A força-tarefa ficará sob a coordenação do corregedor da Polícia Civil do DF, delegado Luiz Andriano Guerra Pouso. Será formada pela Corvida, pela Delegacia de Repressão a Roubos (DRR) e por uma equipe da 1; DP, chefiada pela delegada Martha Vargas.

;Entendemos essa decisão (da Justiça) como uma recomendação. Por isso, vamos montar um grupo de trabalho para dar continuidade às investigações;, confirmou o diretor. De acordo com Monteiro, limitar o caso à Corvida, divisão especializada em homicídios, poderia atrasar ainda mais as apurações. Segundo ele, até o início da noite de ontem, a Corregedoria da Polícia Civil do DF não havia recebido os autos remetidos pelo Tribunal do Júri.

Monteiro negou qualquer irregularidade nas prisões dos dois suspeitos em Vicente Pires, ocorridas na noite do último dia 3. ;O primeiro foi preso em flagrante por uso de crack. O segundo foi levado à 1; DP como testemunha do flagrante;, justificou. De acordo com ele, horas depois, na madrugada do dia 4, a delegada Martha foi até o Bloco C da 113 Sul e confirmou que, entre as chaves encontradas com a dupla, estava uma do apartamento dos Villela. Por isso, os dois foram mantidos na 1; DP até a manhã do dia 4, quando foi pedida a prisão temporária com base em indícios.

Nota oficial
No fim da noite de ontem, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) divulgou nota oficial sobre a decisão da Justiça de tirar a 1; DP do caso e encaminhá-la à Corvida. ;A redistribuição dos autos do inquérito policial, no atual estágio das investigações, com prisões temporárias de dois suspeitos decretadas, análises complexas em andamento, provas materiais apreendidas, perícias em fase de conclusão, só causará um atraso desnecessário a conclusão do caso, não sendo hipótese afastada, após análise da Corregedoria Geral de Polícia;, expõe o texto, assinado pelo diretor-geral Cléber Monteiro. Ele reitera o apoio à delegada Martha Vargas e afirma que qualquer irregularidade apontada no processo não pode ser objeto de julgamento antecipado.


; Sem escutas telefônicas

Após 72 dias de investigação, a Polícia Civil do DF admite que faltam muitos elementos para elucidar o triplo homicídio ocorrido na 113 Sul. O diretor-geral da corporação, Cléber Monteiro, afirmou ontem que a única prova material obtida pela 1; DP é a chave do apartamento, encontrada na semana passada com dois suspeitos do crime. ;A investigação está evoluindo, mas o caso não está solucionado. Ainda temos que avançar muito mais;, afirmou. Monteiro negou que a polícia tenha realizado escutas telefônicas na cela onde os dois suspeitos estão na 1; DP. ;Não tem nada disso;.

O diretor do Departamento de Polícia Circunscricional (DPC), André Victor do Espírito Santo, também negou a existência de escutas na cela onde estão presos Alex Peterson Soares, 23 anos, e Rami Jalau Kaloult, 28. O delegado afirmou que possíveis escutas ambientais teriam de ser autorizadas pela Justiça. ;Nem cogitamos colocar algum tipo de instrumento de gravação na cela dos dois porque em outras ocasiões nós já tínhamos feito esse teste e percebemos que é uma medida infrutífera;, resumiu.

O promotor Maurício Miranda confirmou ao Correio que nenhum pedido de escuta telefônica passou pelo Tribunal do Júri de Brasília. O procedimento teria de obrigatoriamente ser analisado pela unidade do Tribunal de Justiça do DF especializada em julgamento de crimes contra a vida. ;Por aqui, não passou nada. E não acredito que tenha sido encaminhado a algum plantão. Nesses casos, é preciso passar pelo tribunal;, afirmou Miranda. Ele também disse que desconhece qualquer escuta conseguida com suspeitos presos no caso Villela.

Na edição de terça-feira, o Correio revelou que um policial ouviu os dois suspeitos combinando para não entregar nada porque senão a pena seria maior. O diretor do DPC negou ainda a existência de uma suposta informante na 113 Sul, que estaria repassando as movimentações no Bloco C para os acusados.

Colaborou Mara Puljiz

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