Cidades

Vovó do crack presa novamente em São Sebastião

Juliana Boechat
postado em 13/11/2009 08:40
Ivonilde Messias Martins, 59 anos, conhecida pela polícia e pelos vizinhos como Vovó do Crack, foi presa em flagrante por volta das 14h de ontem por policiais da 30; Delegacia de Polícia (São Sebastião). Ela mora em uma casa apertada com nove netos, uma filha de 30 anos e um adolescente de 17, que alugava um dos quartos. Ivonilde cumpria prisão domiciliar desde 2006(1) por tráfico de drogas. Durante a operação, os policiais apreenderam uma trouxinha de maconha e quase R$ 400 em dinheiro no armário dela, além de cocaína, 12 pedras de crack, um cachimbo e um celular usado como pagamento da droga em posse do jovem. Ele foi encaminhado à Delegacia da Criança e Adolescente (DCA). Ivonilde foi indiciada novamente por tráfico e, agora, por corrupção de menor. Se condenada, poderá pegar de 6 a 20 anos, tempo a ser acrescido à pena atual.

Ivonilde Messias, indiciada por tráfico, garantiu não estar vendendo drogasA polícia chegou à casa, ponto de compra e venda das drogas, depois de quatro denúncias anônimas e quatro meses de investigação. ;A quantidade de droga não é grande. Mas o fato de nove crianças estarem sob a responsabilidade dela e de ainda ter um jovem envolvido agrava a situação. A rua em que mora é caminho da escola de outros jovens;, explicou o delegado-chefe adjunto da 30; DP e responsável pelo caso, Victor Dan. Segundo ele, a presença dos netos de Ivonilde na casa ajudava a disfarçar o que ali ocorria. A partir de agora, Dan pretende chegar a outros envolvidos no tráfico organizado na região.

Ivonilde mora em uma casa cor de rosa na Quadra 1, a 500m de uma escola pública e da delegacia de São Sebastião. Ela tem três filhos. Um deles está preso por tráfico na Papuda e deve ser liberado na próxima semana. A filha Catiane Messias, 30 anos, vive na parte dos fundos com quatro filhos ; o mais novo é portador de deficiência mental. Ivonilde cuida ainda de outros cinco netos. A mãe deles morreu há oito meses. Todos, segundo os policiais, estariam acostumados a ver a compra e venda de drogas na varanda, perto do quarto alugado, e na vitrine da lojinha que Ivonilde mantinha na residência. ;Esses dias, uma das crianças perguntou: Vó, você vai deixar ele (o adolescente) aqui?;, contou Catiane. ;Mas ela deveria decidir. A casa era dela. Eu só moro nos fundos;, completou a filha.

Uma faixa presa na fachada da casa chama a atenção para a venda de roupas íntimas, lençóis, sorvete e bijuterias. Em um pequeno cômodo, com janela virada para a frente da casa, estão dois freezers da sorveteria. Na sala principal, uma pequena vitrine de vidro expõe produtos de cabelo, chinelos e pulseiras coloridas. As bermudas e camisetas ficam expostas em um varal improvisado. Na parede do quarto de Ivonilde está preso um quadro com certificado de cumprimento do curso de prevenção contra as drogas, da Secretaria de Justiça do Distrito Federal.

Defesa
Vestindo blusa e saia floridas, chinelo, brincos e pulseiras ainda na cela da delegacia, Ivonilde tentava se defender. ;Não quero ficar presa porque não tenho motivo para isso. Meus netos precisam de mim;, disse em tom firme. Ela garantiu não ter envolvimento com maconha. E, segundo ela, o menino de 17 anos apenas morava na casa de aluguel e que não entra no quarto do jovem ou tem qualquer relação com ele. ;Eu já tentei mandar ele embora de lá várias vezes. Mas aí vem a mãe dele chorando, pedindo para eu ajudar. O que eu vou fazer?;, contou. Ivonilde acredita que está sendo perseguida pela polícia e que prendê-la é sinal de covardia. ;Eu vendo chinelos, sorvete, tenho nota fiscal de tudo. É disso que eu vivo;, garantiu.

Condenada à prisão pela segunda vez em 2006, Ivonilde foi transferida para a Penitenciária Feminina, no Gama. Os quatro tabletes de maconha, duas latas e duas trouxinhas de merla ; subproduto da cocaína ; haviam sido encontrados embaixo do piso da casa dela. A pena para o crime era de 15 anos de reclusão. Mas, na época, uma das filhas de Ivonilde estava muito doente. E como ela sofre de hipertensão e é diabética, conseguiu o direito de cumprir prisão domiciliar. Uma vez por mês, recebe visitas da Gerência Especializada de Operações Especiais (Gpoe) da Polícia Civil para garantir o cumprimento da decisão judicial. Desta vez, será difícil ganhar novamente o benefício. As crianças ficarão sob cuidados de Catiane.

1 - Detenção
O juiz responsável pelo caso decide se o acusado deve cumprir prisão domiciliar ou em centros de detenção. A determinação depende do tipo de crime cometido, das condições de infraestrutura da cadeia ou, ainda, do estado de saúde do condenado. Em caso de pena domiciliar, a pessoa fica proibida de sair de casa e ainda deve se apresentar em juízo periodicamente. Ivonilde recebia uma vez por mês a visita de agentes de Justiça.

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