Numa eleição disputada, contada voto a voto, o advogado Francisco Caputo, da Chapa Questão de Ordem, se elegeu ontem presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seção Distrito Federal. Ele venceu por uma diferença de 400 votos, num eleitorado de 14.627 advogados. Com 4.783 votos, ou 32,69%, derrotou o candidato da situação, Ibaneis Rocha, atual vice-presidente da entidade, da chapa Unidos pela Ordem, que conquistou 4.383 eleitores. Esdras Dantas, da Chapa Ordem na Casa, ficou em terceiro lugar, com 2.725 votos, e Ulisses Borges, da Chapa Nova Ordem, terminou em quarto, com 2.054.
A abstenção foi alta. Mesmo com a obrigatoriedade de votar, 7 mil advogados ; ou seja 33% ; aptos a participar do processo não compareceram. Em uma campanha típica dos embates eleitorais para cargos públicos que ocorrem a cada quatro anos, com quase todos os recursos utilizados por políticos em busca de mandatos, os candidatos para Presidência da OAB distribuíram santinhos, participaram de debates em órgãos públicos, na televisão e em jornais, enviaram cartas com promessas e contrataram cabos eleitorais para o dia da votação, que ocorreu no Ginásio Nilson Nelson. ;Não houve nenhum contratempo. Foi muito tranquilo e limpo;, avalia o secretário-geral da OAB, Eduardo Roriz, que se afastou ontem da função de consultor jurídico do GDF para coordenar a estrutura da votação.
Os fiscais dos candidatos acompanharam a partir das 17h os boletins de urnas que eram divulgados pela comissão eleitoral da OAB-DF. O Tribunal Regional Eleitoral cedeu urnas eletrônicas para a votação, mas coube à entidade contabilizar os votos. Assim que os integrantes da chapa vencedora se deram conta da vitória, houve muita comemoração. Muitos advogados se abraçavam e gritavam: ;Fora, Ibaneis;.
Caputo foi carregado nos braços pelos aliados. ;Mudamos a forma de fazer política na OAB. Não tem poder econômico que compre o voto dos advogados;, discursou. Além de Caputo, os dois outros candidatos também fizeram críticas à atual gestão. Por volta das 20h, a atual presidente da OAB, Estefânia Viveiros, telefonou para Caputo e o parabenizou pela vitória. Também colocou toda a estrutura da entidade à disposição para uma transição aberta e transparente a partir de dezembro. A posse será em 1; de janeiro.
Depois de dois mandatos, a atual presidente não quis concorrer a uma nova reeleição, tampouco aceitou diversos convites para se candidatar a algum cargo político em 2010. O plano de Estefânia era se eleger na chapa de Ibaneis como conselheira federal da OAB, além de retomar o escritório de advocacia e se dedicar mais às aulas de direito. ;Foi um processo limpo e saio, segundo pesquisas, com mais de 80% de aprovação. Tenho certeza de que deixo uma OAB muito melhor do que encontrei;, disse Estefânia. Ela também rebateu acusações de uso da máquina. ;Não tive acesso ao mailing dos advogados antes dos candidatos. Ocorre que já disputei eleição e tinha endereços usados em outras campanhas;, afirmou, rebatendo acusações de que teve acesso a informações privilegiadas.
Entrevista Francisco Caputo
Órgão de defesa dos advogados
Novo presidente da OAB-DF pretende criar um mecanismo interno para lutar pelos interesses da classe e critica o abuso de poder econômico
Enquanto era carregado nos braços pelos apoiadores e integrantes de sua chapa logo depois da divulgação do resultado final, o futuro presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal, Francisco Caputo, 40 anos, fez um discurso em que criticou o abuso de poder econômico, os ataques ofensivos e a boca de urna nas campanhas eleitorais da entidade. Ele reclamou de adversários que teriam gasto muito dinheiro para tentar se eleger e criticou o uso da máquina administrativa pela atual direção, que apoiava o advogado Ibaneis Rocha. Em entrevista ao Correio, Caputo anunciou as duas primeiras medidas que adotará assim que tomar posse em janeiro: vai criar um órgão interno para defender as prerrogativas da classe e promover uma auditoria na Caixa de Assistência dos Advogados.
O senhor disse em seu discurso que o poder econômico perdeu.
O que quis dizer?
Chapas acharam que oferecendo cerveja para os jovens, fechando boates da moda, show com banda de fora, como foi o encerramento da campanha de um candidato, conseguiriam sensibilizar os advogados. Os advogados disseram não. Não tem poder econômico que compre a consciência da classe. Hoje saio envaidecido de pertencer à OAB.
Na campanha, o senhor falou muito de fortalecer a participação da OAB em debates sobre questões da sociedade. Como será isso?
A Ordem sempre foi referência para o Brasil. Tivemos vários fatos políticos em que a OAB tomou a frente. Em Brasília, a Ordem se apequenou. As coisas estavam acontecendo e a OAB não emitia uma única palavra. Dou exemplos ilustrativos: o Pdot (Plano Diretor de Ordenamento Territorial) que é um debate intricado com a população. A OAB nunca emitia opinião. Da mesma forma, nos últimos 14 anos, nós entramos com três Adins (ações diretas de inconstitucionalidade). É muito pouco.
Como a OAB pode participar?
Fui muito criticado por receber o apoio do governador José Roberto Arruda, do vice-governador e do presidente da Câmara Legislativa e de outras lideranças políticas. Mas o que eu já estava antevendo é uma grande parceria com o Governo do DF para que a Ordem atuasse não apagando incêndio, mas prevenindo que o incêndio ocorresse. O governador Arruda está promovendo um choque de legalidade e a Ordem deveria estar do lado dele aplaudindo. Do mesmo jeito que a Ordem vai apontar os equívocos do governo. Só não pode a OAB estar alheia ao debate.
Teve uso da máquina pela OAB?
Nossa senhora! Basta dizer que nós tivemos que pagar R$ 20 mil para ter acesso à lista de advogados e mesmo assim incompleta, sem os telefones. Ao passo que a atual presidente fez contato com todos os advogados por telefone. E já mandava os jornais para nossas casas muito tempo antes de o candidato dela comprar a lista também.
Qual a primeira coisa que o senhor vai fazer?
Vou implantar a Advocacia-geral da OAB, que será um grupo de advogados contratados para defender as prerrogativas dos advogados. E também promover uma grande auditoria na Caixa de Assistência dos Advogados. Temos de equacionar as dívidas que a Caixa tem.
Boca de urna sem restrição
; Luísa Medeiros
; Rodolfo Borges
Durante todo o dia de ontem, o movimento de boca de urna foi intenso no Ginásio Nilson Nelson e nas subseções espalhadas em seis cidades do Distrito Federal. Os quatro candidatos que disputaram à presidência da OAB-DF chegaram antes das 9h ao ginásio, local de maior concentração de votantes, com cerca de 20 mil inscritos. Eles receberam os eleitores na entrada principal e não dispensaram apertos de mãos, abraços e pedidos de votos. O forte calor e o grande fluxo de pessoas não impediu que os representantes das chapas apelassem ao corpo a corpo com o eleitorado. O objetivo era conquistar os indecisos e mudar a opinião dos advogados que foram participar das eleições. Apesar do tumulto, a Polícia Militar não registrou ocorrências.
Os cabos eleitorais estavam animados. Usaram apitos, gritaram frases ensaiadas com o nome dos concorrentes e tentavam influenciar a todo custo os eleitores. Foram distribuídas centenas de santinhos, panfletos, abanadores e adesivos. Na maioria das vezes, o material era descartado no chão ; o que causou um acúmulo de lixo ao fim do dia. A advogada Gislene Fernades Jacinto, 26 anos, reclamou da sujeira. ;Não é sujando a cidade que os eleitores irão mudar de opinião. Sou contra a boca de urna;, afirmou.
Alguns cabos eleitorais acompanhavam o eleitor com um guarda-sol até o portão do Nilson Nelson. Outros davam orientações sobre o melhor caminho para chegar à seção de votação. Para o advogado Leandro Carvalho, 26, a ;atenção; ao eleitor se mostrou exagerada. ;Nas eleições para governador, não é permitido esse tipo de manifestação. Além de incomodar, essa boca de urna causa tumulto;, reclamou. Nas redondezas do ginásio, principalmente nos sinais de trânsito, os candidatos afixaram placas e banners. Nesses locais, mais cabos eleitorais balançavam as bandeiras.
Cada chapa teve direito de montar uma tenda de 10 metros quadrados do lado de fora do ginásio. O ponto era usado como suporte para atender as pessoas envolvidas na campanha dos quatro candidatos. Lá eram entregues lanches e materiais de divulgação. Essa organização fez com que os ambulantes não faturassem muito. A autônoma Neodenes de Almeida, 60, vendeu pouco. ;Eles ofereceram um supercafé da manhã para os funcionários. Ninguém vai comprar almoço;, disse.
Dentro do Nilson Nelson, a boca de urna era proibida. Mas alguns cabos eleitorais fizeram o trabalho de forma discreta. Por sua vez, os fiscais de chapa (cada uma das 53 seções no ginásio tinha um fiscal de chapa) representaram ativamente o cargo. A fiscal Maria Denise Ribeiro, por exemplo, não deixou passar o problema de duplicidade de voto, constatado na seção 24. Dois eleitores não conseguiram votar porque a urna eletrônica mostrou que os votos já tinham sido computados. Quando o mesário José Washington, 46 anos, digitou o número da identificação do advogado Jairo Ramos, 48, a máquina informou a duplicidade. ;Alguém votou no meu lugar;, disse ele. O mesmo problema ocorreu na seção 3. A Comissão Eleitoral irá investigar os casos.
Mobilização
Na subseção de Taguatinga, a maior da seccional da OAB-DF, a votação correu tranquilamente. Poucos dos 591 membros da ordem que optaram por votar apareceram pela manhã. A maior movimentação foi à tarde, quando começou o expediente nos fóruns.
A campanha deste ano foi a primeira grande mobilização na subeção da cidade, segundo a advogada Luciene Bessa, que integrou a comissão eleitoral. Luciene estampava adesivos de uma das três chapas concorrentes em Taguatinga, mas garantiu isenção durante todo o processo. Cada uma das chapas da cidade estava ligada a uma pleiteante à seccional do DF.