O oferecimento de supletivos ilegais no Distrito Federal vai além do Instituto Latino-Americano de Línguas (Ilal). Mais uma escola candanga, localizada no Setor M Norte, em Taguatinga, é acusada de enganar o consumidor com promessas de cursos rápidos e autorizados pela Secretaria de Educação do Distrito Federal e o Ministério da Educação (MEC). Como comprovou o Correio Braziliense, a Infor School garante a entrega de certificados de conclusão de ensino médio e ainda usa o nome de uma instituição devidamente credenciada para dar credibilidade à fraude. A terceirização, porém, é proibida.
As ofertas da Infor School, consideradas enganosas pela Coordenação de Supervisão Institucional e Normas de Ensino (Cosine) da Secretaria de Educação do DF, aparecem em materiais informativos e promocionais e cartazes. Uma faixa amarela toma conta de parte da fachada da escola e chama a atenção de quem passa em frente a ela. Em letras garrafais, anuncia: ;Supletivo. Conclua o 2; grau com rapidez e segurança;. Um folder entregue no local também revela ;certificado reconhecido pela Secretaria de Educação, emitido por instituição credenciada pela SEE/DF MEC;.
A reportagem ligou para a Infor School ontem à tarde (leia diálogo). Sem se identificar, perguntou detalhes do curso. A funcionária explicou que o serviço se trata de um supletivo a distância, em que os alunos agendam as 11 avaliações após estudar as apostilas fornecidas pela escola. Deixou claro que não há orientação ou aulas para o estudante. Além disso, deve-se pagar R$ 900 ; R$ 150 em seis vezes. ;Você vai receber os materiais, as apostilas. (;) Daí, você estuda em casa e, quando se sentir preparado para fazer a prova, faz um simulado pela internet.;
Segundo ela, os exames definitivos são aplicados em outro local. Mas não quis revelar o nome e o endereço da instituição por telefone. Garantiu que o aprovado recebe um diploma reconhecido pelo MEC. ;Essas provas não são feitas aqui. É como se a gente fosse uma terceirizada;, disse. A reportagem esteve pessoalmente na Infor School, na EQNM 38/40. A recepcionista anotou em um informativo a escola que forneceria os certificados de ensino médio. Confirmou que ela aparece na lista das credenciadas pela Secretaria de Educação do DF para oferta de supletivos.
Convênio inexistente
O Correio entrou em contato com a empresa informada pela funcionária. O representante administrativo disse que não mantém convênios com a Infor School. ;Não há relação com eles. Eles usam o nosso nome indevidamente e não damos autorização para ninguém aqui usar o nosso nome;, afirmou. O funcionário protocolou ofício na Cosine em que comunica as tentativas de fraude sofridas no DF. E não só por conta da Infor School.
A reportagem também conversou com o dono da Infor School, identificado como João Bosco. Ele reiterou as informações passadas por telefone pela funcionária. Entre elas, a oferta de supletivos a distância e a parceria com a tal instituição credenciada pela Secretaria de Educação. ;Não tem só eu como parceiros deles, não;, denunciou. ;O que a gente faz é a parte da captação de alunos e indica o curso deles;, admitiu. Contou ainda que os estudantes usam a estrutura da Infor School para atividades como simulados.
A coordenadora da Cosine, Leila Pavanelli, abriu ontem apuração contra a Infor School. Mas adiantou que a prática de terceirização é proibida pelo Conselho Nacional de Educação e o Conselho de Educação do DF. ;Não existem polos de captação no Distrito Federal. Não há captação de funcionários e de alunos para se oferecer um supletivo credenciado por outra instituição. Onde está a proposta pedagógica de um curso desses, em que nem há acompanhamento? A Cosine vai tomar providências.;
A atuação da Infor School lembra a do Ilal ; coincidentemente, a sede da primeira funciona há dois meses na mesma loja onde existia uma das cinco unidades do concorrente. O Ilal é acusado de esquema de emissão de certificados de conclusão de ensino médio, como denunciou com exclusividade o Correio. Usava o nome de uma instituição do Rio de Janeiro para vender diplomas. Sofre agora investigação de duas promotorias e da Delegacia de Defraudação e Falsificação (DEF). Na última sexta-feira, acabou notificada pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Procon) por publicidade enganosa.
Por telefone
Na tarde desta terça (17/11), o Correio entrou em contato com a Infor School. Confira os principais trechos da conversa.
Paula: Infor School, Paula,
boa tarde.
Luiz: Boa tarde. Quem está falando é o Luiz. Eu queria terminar meu segundo grau (ensino médio). Eu estava vendo que vocês têm supletivo aí, e estou pesquisando preços e condições em várias escolas.
Paula: Você precisa fazer só o segundo grau?
Luiz: Isso.
Paula: No caso, você faz 11 avaliações e tem, no mínimo, 180 dias para realizar essas 11 avaliações.
Luiz: Eu vou ter que fazer 11 avaliações para conseguir o diploma, é isso?
Paula: Isso. É um ensino a distância. Aí você recebe o material, estuda, agenda as provas, para fazer quando se sentir preparado.
Luiz: Mas aí sou eu que agendo as provas?
Paula: Isso. Agenda conosco. Você tem no mínimo 180 dias, que é o que o MEC exige da gente.
Luiz: Ah, o MEC exige?
Paula: Isso. Você pode fazer até quatro provas por vez. Aí, no caso, o valor das mensalidades sai a R$ 150.
Luiz: Então, por seis meses, dá R$ 900, né? Tem outro valor se eu quiser pagar tudo de uma vez?
Paula: À vista, R$ 800.
Luiz: E me diz uma coisa, as aulas são aí na M Norte mesmo? Onde é que são as aulas?
Paula: As aulas são a distância. Você estuda em casa.
Luiz: É pela internet?
Paula: Não. Você vai receber os materiais, as apostilas, o CD-Rom ; tem todo o conteúdo que cai nas provas. Daí você estuda em casa e, quando se sentir preparado pra fazer a prova, você faz um simulado pela internet. Se você achar que tirou uma nota boa, que vai dar pra você passar na prova, aí você agenda a prova.
Luiz: Primeiro eu faço um simulado pela internet?
Paula: Isso. Aí, a média dessas provas é cinco. Lembrando você que nosso certificado é reconhecido pela Secretaria de Educação e pelo MEC.
Luiz: Vocês estão há quanto tempo aqui na cidade?
Paula: Aqui?
Luiz: Isso.
Paula: Olha só, essas provas não são feitas aqui na nossa escola, no nosso curso. É como se a gente fosse uma terceirizada, entendeu? Você vai fazer essas provas em outro colégio. Não estou autorizada a dizer onde nem o nome do colégio, por enquanto.
Luiz: Mas então é de outro colégio?
Paula: É. Você faz a prova em outro colégio.
Luiz: Eu não vou aí para fazer a prova?
Paula: Não. Mas você vem aqui e faz o agendamento com a gente.
Luiz: Aí vocês me dizem: ;Você vai ao colégio tal, em Taguatinga ou no Plano;?
Paula: Isso. É só você vir fazer a matrícula aqui que a gente já te informa tudo.
Luiz: Mas não tem como me dizer onde faz essa prova?
Paula: Não. Dá uma passadinha aqui, a gente funciona das 7h30 às 21h.
Luiz: Tá ótimo, obrigado.
Paula: Obrigada a você.