Guilherme Goulart
postado em 20/11/2009 08:53

A promotora Márcia Rocha, uma das responsáveis pelo caso Ilal na Proeduc, disse ontem ao Correio que está evidente, por exemplo, a falta de credenciais da instituição para os serviços oferecidos. ;Há indícios fortíssimos de que nenhuma das unidades do Ilal tem credenciamento ou autorização para fazer supletivos;, afirmou. O nome da entidade não consta na lista das 25 autorizadas pela Secretaria de Educação do Distrito Federal para oferta de aulas, simulados e avaliações pelo programa de Educação de Jovens Adultos (EJA).
A Proeduc levantou ainda que o Ilal usava o nome de duas instituições cariocas para emitir diplomas e históricos escolares de ensino médio. Com base em documentos entregues pela Coordenação de Supervisão Institucional e Normas de Ensino (Cosine), comprovou a participação da Empresa de Pesquisa, Ensino e Cultura (Epec), do Rio de Janeiro. É a mesma que teve as atividades encerradas pelo governo carioca em setembro. ;Essas empresas do Rio nem mesmo poderiam oferecer diplomas no DF. Não têm validade;, disse Márcia.[SAIBAMAIS]
Para a promotora, as investigações também servem de alerta para a população. ;A comunidade deve tomar cuidado e se abster de fazer contratos com instituições não credenciadas.;
Liminar
Uma aluna da Universidade de Brasília (UnB) conseguiu liminar na 8; Vara Cível de Brasília para concluir o ensino médio no Centro de Ensino Tecnológico de Brasília (Ceteb). A universitária tem 17 anos, passou no vestibular no meio do ano e apresentou um certificado do Ilal para garantir vaga na instituição pública de nível superior. A decisão ocorreu em 17 de novembro. ;Alegamos que, se ela teve capacidade para passar no vestibular, tem o conhecimento adquirido. Usamos argumentos da própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional;, contou o advogado da estudante, Cristiano Finazzi.
O Ceteb havia negado a participação dela no supletivo por conta das regras da EJA, que não permitem menores de 18 anos. Caso a escola não cumpra a decisão, pode sofrer multa diária de R$ 10 mil. A esperança da garota é que a UnB segure a vaga até a conclusão do ensino médio. A universidade deu prazo para os 81 alunos com documentos do Ilal regularizarem a situação. Se não o fizerem até 24 de novembro, podem ter a matrícula cancelada. As principais faculdades do DF localizaram, no total, 138 casos em 2009.
As investigações
As atividades do Instituto Latino-Americano de Línguas (Ilal) na capital do país são investigadas por vários órgãos. Eles fazem levantamento detalhado sobre o suposto esquema de venda e emissão de certificados sem valor. Confira:
# Secretaria de Educação do Distrito Federal
A Coordenação de Supervisão Institucional e Normas de Ensino (Cosine) descobriu a fraude ao receber denúncias de pais, alunos e uma faculdade particular. Abriu apuração interna para investigar o Ilal, acusado de oferecer serviços de supletivo sem autorização e graduar estudantes no ensino médio.
# Promotoria de Defesa da Educação (Proeduc)
Duas promotoras receberam da Cosine documentos que apontam as irregularidades cometidas pelo Ilal.
# Promotoria de Defesa do Consumidor (Prodecon)
Também abriu investigação, mas está focada nas denúncias de propaganda enganosa. Já notificou o Ilal pelo crime e determinou a retirada da publicidade com expressões ;supletivo rápido; e ;reconhecido pelo MEC;.
# Instituto de Defesa do Consumidor (Procon)
O Procon no DF também denunciou o caso à Proeduc. Assim como a Cosine, o órgão recebeu denúncias de pessoas que se sentiram lesadas por conta do pagamento de certificados sem valor.
# Delegacia de Defraudação e Falsificação (DEF)
A unidade especializada abriu inquérito para apurar os indícios de fraude levantados contra o Ilal.
# Universidades
As principais instituições de ensino superior da capital do país iniciaram levantamento para descobrir alunos matriculados com certificados sem validade.