postado em 20/11/2009 08:40
Mais de três anos depois do assassinato do médico brasiliense Fábio Henrique de Oliveira, 41 anos, o acusado de cometer o crime, o fazendeiro Flávio Parente Macedo, 59, vai a julgamento. Ele deve sentar-se no banco dos réus na próxima segunda-feira, às 7h, no Tribunal do Júri do Fórum do Paranoá. Flávio aguarda a sentença na prisão. O crime ocorreu em 27 de agosto de 2006, no condomínio Ville de Montagne, nas proximidades do Lago Sul, e teve grande repercussão. O fazendeiro não aceitava o fim do relacionamento com a ex-mulher, a enfermeira Roseneide Martins da Silva, à época com 31 anos e namorada do médico havia dois meses.Macedo invadiu a residência onde o casal acabara de chegar de viagem e agrediu Fábio com pauladas na cabeça e dois tiros. Em seguida, espancou Roseneide. A filha dela de 15 anos também estava no local. De acordo com a adolescente, Flávio a obrigou a praticar sexo oral nele sob a mira de um revólver. O fazendeiro foi casado com Roseneide durante nove anos. À época do crime, os dois estavam separados havia cinco anos e existiam medidas de segurança na Justiça para obrigá-lo a manter distância da ex. Macedo chegou a pagar R$ 5 mil a um borracheiro para dar sumiço em três corpos. Mas matou uma só pessoa. Com o corpo de Fábio no porta-malas de um Meriva, o acusado obrigou Roseneide e a adolescente a entrarem no carro em direção a Valparaíso de Goiás.
Durante a viagem, a enfermeira sentiu dores e conseguiu convencer o fazendeiro a levá-la ao hospital Santa Lúcia, no Setor Hospitalar Sul. Mas não sem aguardá-la armado. Ao sair do centro de saúde, por volta das 6h30 de 28 de agosto de 2006, Roseneide percebeu que Macedo dormia sentado na sala de espera. Ela se escondeu no banheiro com a filha, graças à ajuda de um funcionário do hospital, e telefonou para o pai da menina, um policial civil. Quando o socorro chegou, Macedo havia fugido.
Dois meses se passaram e Flávio ainda estava foragido. Pouco tempo depois, ele se entregou à polícia do DF. O Ministério Público o denunciou pelos crimes de homicídio triplamente qualificado(1), lesão corporal grave e leve, atentado violento ao pudor e tentativa de ocultação de cadáver. Em julho de 2007, a 2; Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, por unanimidade, decidiu que o fazendeiro deveria ser julgado pelo Tribunal do Júri.
1 - Tipificação
Para qualificar o homicídio, a lei usa critérios como o motivo da ação, se houve possibilidade de defesa da vítima, tortura e crueldade. No caso do assassinato de Fábio Henrique de Oliveira, o Ministério Público optou por classificar o crime como triplamente qualificado, por apresentar todos os itens de julgamento.
CRIMES GRAVES
Flávio Parente Macedo, 59 anos
Foi casado durante cinco anos com a enfermeira Roseneide Martins da Silva, que era namorada do médico Fábio Henrique de Oliveira, assassinado em 27 de agosto de 2006.
O fazendeiro é acusado de chegar na casa de Roseneide e matar a pauladas e tiros o médico, no condomínio Ville de Montagne, no Lago Sul.
Flávio Macedo se entregou à polícia, mais de dois meses depois do crime.
Ele responderá pelo crime de homicídio triplamente qualificado, lesão corporal grave e leve, atentado violento ao pudor e tentativa de ocultação de cadáver.
Família da vítima à espera de justiça
A família de Fábio Henrique preparou faixas e mobilizou amigos e ex-pacientes do médico para comparecem ao julgamento. Fábio era o mais novo entre três irmãos. Morreu no dia do aniversário da mãe, a modista Zilda Lara de Oliveira, hoje com 66 anos. Zilda não esquece a última vez em que falou com o caçula da família. O filho ligou para ela e avisou que iriam almoçar juntos no dia seguinte. Na noite do crime, o médico chegava de uma viagem a Belo Horizonte (MG), onde ia uma vez ao mês fazer uma especialização em dermatologia.Roseneide havia acompanhado o namorado. Os dois visitaram feiras na capital mineira e compraram presentes para Zilda. Peças que jamais puderam ser entregues. ;Fábio era muito popular. Tinha inúmeros amigos e pacientes. Era generoso e muito prestativo. Criei meu filho com todo carinho e cuidado para que ele não se tornasse uma pessoa ruim. É muito angustiante alguém acabar com a vida dele assim;, desabafa Zilda. O pai de Fábio, João Teófilo, morreu em junho último. ;Meu marido não suportou perder o filho. Esse assassino tirou duas vidas;, lamenta a mãe.
Luta constante
A perda mudou toda a rotina da família mineira que veio para Brasília em 1961. A funcionária pública Glivânia de Oliveira, 47 anos, irmã da vítima, classifica como ;insuportável; pensar na forma como a vida de Fábio acabou. ;Não suporto pensar no meu irmão, meu confidente, sendo morto dessa maneira cruel, por um motivo tão fútil. Somente a condenação à pena máxima vai terminar esse ciclo de luta e dor que é a vida de todos nós;, afirmou Glivânia. ;Fábio estava muito apaixonado, fazia planos para o futuro e tinha construído uma casa;, lembra a irmã.
Flávio contratou quatro advogados, entre eles um dos conselheiros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Cleber Lopes. ;Vou fazer a defesa apenas da acusação de homicídio. O júri ainda pode absolvê-lo, mesmo com a confissão. E ele nega o abuso sexual. Estamos diante de um crime passional típico de orelha de livro. O homem pode perder a cabeça. A paixão não é um sentimento repugnante, isso poderia amenizar a condenação;, alega Lopes. A acusação pretende pedir a pena máxima: 30 anos.