Ana Maria Campos
postado em 20/11/2009 09:15
O governador José Roberto Arruda tem o aval da direção do DEM para disputar a reeleição. Em decisão tomada ontem, a cúpula do partido aprovou deliberação do presidente nacional, Rodrigo Maia (RJ), de delegar ao vice-governador Paulo Octávio o comando do processo eleitoral no Distrito Federal. Ele, por sua vez, abriu mão oficialmente do acordo fechado em 2006 pelo qual teria a preferência para disputar o Executivo local no próximo ano. Os caciques democratas confirmaram, então, a repetição da chapa pura, exatamente como na última eleição: Arruda sairá candidato a governador e Paulo Octávio como vice.A confirmação da dobradinha a mais de sete meses das convenções partidárias tem motivo claro. A direção do DEM quer encerrar as discussões sobre alianças com outros partidos, especialmente com o PMDB, em que a vaga de vice esteja na mesa de negociações. Os peemedebistas de Brasília tentam costurar uma composição em que o deputado Tadeu Filippelli integre a chapa de Arruda como o segundo nome mais importante. Ele tem a garantia de apoio para concorrer ao Senado, mas os peemedebistas acham pouco pelo desgaste que a legenda enfrentou ao fechar as portas para a candidatura ao GDF de Joaquim Roriz.
Por ora, no entanto, qualquer discussão de mudança da chapa está encerrada. Numa reunião com o secretariado, Arruda agradeceu ontem o gesto de Paulo Octávio de abrir mão dos planos de disputar o governo em 2010 e anunciou a repetição da dupla nas próximas eleições. O vice-governador só pretende voltar a entrar no páreo se Arruda optar por um novo plano, como integrar na condição de vice uma chapa na disputa presidencial. Essa possibilidade se torna real caso o PSDB opte pela candidatura do governador de Minas, Aécio Neves, à Presidência da República. Mas Arruda já vinha dizendo em conversas reservadas que seu plano A é concorrer à reeleição.
A deliberação do comando nacional do DEM foi tomada depois de muitas conversas nesta semana. O governador do DF reuniu ontem a executiva nacional do DEM para pedir unidade nas negociações com os tucanos em torno da candidatura presidencial. Mais tarde, a sucessão no Distrito Federal foi tema de reunião entre Arruda, Paulo Octávio e Rodrigo Maia. Em nota divulgada ontem à noite, o presidente nacional do DEM anunciou a decisão e elogiou a postura de Paulo Octávio em ceder espaço para a reeleição do único governador do partido. ;Agradeço ao vice-governador pela sua dedicação e sua generosidade no exercício da vida pública;, disse Rodrigo Maia.
Paulo Octávio explicou ao Correio que não desistiu dos planos de concorrer ao governo, mas não queria provocar um racha em seu grupo político. ;Para evitar a confusão, prorrogamos o acordo de 2006 para 2014;(1), afirmou. ;Todas as pesquisas indicam que devemos manter a chapa;, acrescentou. Para Paulo Octávio, não há mais margem de negociação com os partidos aliados para mudanças nessa composição. ;A executiva nacional do DEM já fechou questão. A vaga de vice não tem mais chance de entrar em discussão. Vamos negociar as duas vagas ao Senado e as vagas de suplente;, analisou.
Governabilidade
Tadeu Filippelli não quis comentar o anúncio da posição eleitoral do DEM, mas deixou claro seu descontentamento. ;Entendo que essa é uma decisão interna do Democratas. Eles sabem o que é melhor para o partido deles e o PMDB seguirá o melhor caminho para o nosso partido e para o Distrito Federal;, afirmou. ;Nosso compromisso com Arruda é com a governabilidade;, acrescentou Filippelli. Suplente do PMDB na Câmara dos Deputados, o presidente da Codeplan, Rogério Rosso, também expôs sua preocupação. ;A chapa puro- sangue ao quadrado do DEM tem pouco espaço para os aliados, já que o secretário de Transportes, Alberto Fraga, e o senador Adelmir Santana serão candidatos ao Senado. O que resta aos demais partidos que marcham com o governador Arruda é avaliar os espaços que sobram;, disse Rosso.
Um peemedebista ligado a Arruda, no entanto, avalia que a decisão de ontem foi um avanço porque garantiu o apoio da cúpula do DEM para o projeto de reeleição do atual governo. Há uma expectativa de que muitas negociações ainda estão por vir. Filippelli passou o dia ontem recebendo telefonemas de solidariedade de integrantes de outros partidos. Um dos que ligaram foi o presidente do PT-DF, Chico Vigilante, que sonha com uma aliança com o PMDB, aos moldes da chapa presidencial. Filippelli almoçou com o deputado Rodrigo Rollemberg (PSB). Ao comentar a chapa pura do DEM, o ex-governador Joaquim Roriz (PSC) foi monossilábico, mas não quis fechar as portas para o antigo aliado. Disse que só vai pensar em alianças no ano eleitoral.
1- Chapa vencedora
Caso a chapa de José Roberto Arruda e Paulo Octávio seja vitoriosa em 2010, o vice-governador deverá assumir definitivamente o governo em abril de 2014. Nessa data, Arruda deverá se desincompatibilizar para concorrer a outro cargo público, já que não poderá disputar uma nova reeleição. Dessa forma, Paulo Octávio seria candidato na condição de chefe do Executivo.
MEMÓRIA
Acordo fechado há quatro anos
Nas discussões para definição das candidaturas em 2006, José Roberto Arruda e Paulo Octávio, ambos do PFL, lideravam as pesquisas de opinião e se apresentavam como os nomes mais fortes para a corrida ao GDF. O problema é que ambos eram do mesmo partido e não havia espaço para as duas candidaturas. Arruda chegou a ser convidado a se filiar no PMDB para concorrer ao Executivo, mas ele avaliava que a divisão dos dois líderes nas pesquisas seria ruim para ambos.
Coube ao então presidente nacional do DEM (antigo PFL), Jorge Bornhausen (SC), resolver a questão. Ele propôs uma chapa pura, para que os dois saíssem como candidatos a governador e a vice. Os pefelistas escolheram Arruda para encabeçar a chapa porque liderava as pesquisas de intenção de votos. Para não desagradar ao então senador Paulo Octávio, Bornhausen foi o avalista de um acordo assinado e avalizado pelos caciques da legenda, segundo o qual Arruda cederia a vez para o companheiro de partido em 2010, caso a chapa fosse vitoriosa na eleição de 2006. O acerto foi registrado em documento assinado pela direção nacional do DEM.
Com esse acerto, Arruda garantia que não seria candidato à reeleição e faria um governo compartilhado em que seu vice teria participação nas decisões. Paulo Octávio, então, renunciou a quatro anos de mandato como senador e assumiu a Vice-Governadoria. Obteve a promessa de que teria possibilidade de comandar a área de desenvolvimento econômico e turismo. Nos últimos meses, ele teve mais poder para as questões burocráticas do governo porque Arruda passou a se afastar para andar nas ruas, conversar com as pessoas, discutir alianças com partidos e organizar a sua campanha à reeleição.