Cidades

Policiais investigam exploração sexual de menores em boate

Renato Alves
postado em 23/11/2009 08:25 / atualizado em 22/09/2020 17:22

Boate de striptease é requintada: cerveja custa R$ 17 a lata e uma dose de uísque dos mais baratos sai por R$ 35A mais cara boate de striptease do Distrito Federal está sob investigação da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Instalada no Setor de Indústrias Gráficas (SIG), a Parthenon Night Club abrigaria mulheres com menos de 18 anos, além de lucrar com a prostituição de adultas, o que é crime. A denúncia partiu de meninas dadas como desaparecidas pela família. Elas dizem ter sido contratadas para shows eróticos na casa noturna. Além dos depoimentos, agentes e delegados se baseiam em escutas telefônicas feitas com autorização judicial. Nelas, um suposto cafetão oferece adolescentes ao dono do estabelecimento e tenta convencer garotas a se exibirem na boate.

 

Em depoimento na DPCA, uma menina de 15 anos afirmou ter aceito o convite do homem acusado de cafetinagem e dançado nua em um chuveiro suspenso, cercado de vidro, instalado sobre o salão central da Parthenon. Outra garota, de 17 anos, também contou à polícia ter frequentado a boate com o intuito de arrumar clientes que pagariam por programas sexuais. Os interrogatórios e os grampos telefônicos fazem parte do inquérito que resultou na operação desencadeada terça-feira pela DPCA. Nela, agentes apreenderam documentos na casa noturna do SIG para investigar a suspeita de facilitação de exploração sexual de adolescentes. Um casal acabou indiciado pelo crime.

A polícia chegou aos suspeitos Davi Aparecido Pereira e Aldete Lopes de Barros por meio de uma investigação sobre o desaparecimento de uma adolescente. Os policiais localizaram a garota de 15 anos em 12 de junho. Na DPCA, ela alegou ter saído de casa porque a família não aceitava sua opção sexual. A adolescente disse ter ido morar com sua companheira, garota de programa agenciada por Davi, e também passou a se prostituir. Aos agentes, ela detalhou a exploração sexual supostamente facilitada pela Parthenon. Com base nas informações, a delegacia pediu (e ganhou) autorização da Justiça para grampear os telefones dos suspeitos.Investigação relacionada à casa noturna foi iniciada após a polícia ter acesso a escutas telefônicas, por meio de autorização judicial, e depoimentos de meninas que teriam sido exploradas

Faturamento

Não havia mandado de prisão contra o casal, mas os dois estão indiciados pela exploração sexual de menores, cuja pena varia de cinco a oito anos de prisão. Com um mandado de busca e apreensão, os policiais estiveram nos dois apartamentos que Davi, segundo testemunhas, alugava para os programas sexuais das meninas agenciadas por ele. Um imóvel fica no Sudoeste e o outro, na Asa Norte. Para receber clientes em um dos apartamentos, as meninas agenciadas por Davi tinham de pagar R$130 por semana. Além disso, Davi e a mulher cobravam metade do valor arrecadado nos programas, de acordo com os depoimentos na DPCA. Os programas variavam de R$ 100 a R$ 500.


Investigação

Na delegacia, Davi e a mulher disseram que só falam sobre o caso em juízo. O inquérito contra o casal já foi enviado à Justiça. A DPCA abriu outra investigação contra a Parthenon. (1);Com o material colhido na primeira investigação, decidimos aprofundar uma apuração em relação à casa noturna;, explicou a delegada Gláucia Cristina da Silva Ésper, chefe da DPCA. O dono da boate, Jonas Queiroz, negou qualquer participação no esquema de prostituição. Ele disse ao Correio não saber nem ter interesse no que seus clientes combinam dentro da casa noturna. ;Nós queremos vender uma boa bebida para o cliente e a cliente. Porque elas (as garotas) também são nossas clientes;, afirmou.[SAIBAMAIS]

As garotas que o empresário chama de clientes não pagam para entrar na Parthenon, onde o ingresso masculino custa R$ 100, e ganham comissão no consumo de bebidas do público masculino. A prática, segundo a delegada Gláucia, ficou comprovada com a apreensão de fichas de R$ 5, R$ 10 e R$ 20 e nomes de mulheres no verso, apreendidas na boate. Durante a semana, garotas de programa estiveram na DPCA em busca das fichas com seus nomes e contaram precisar delas para ganhar a participação na venda de bebidas da casa. Na Parthenon, uma lata de cerveja é vendida a R$ 17. Já a dose do uísque mais barato custa R$ 35. A garrafa da bebida mais cara vale R$ 990.


1 - Sem alvará
Fiscais do Governo do Distrito Federal interditaram a Parthenon em julho. Mas, segundo a Agência de Fiscalização do DF, ela continua funcionando sem alvará. Por isso, o dono acumula R$ 60 mil em multas. No entanto, o empresário garante ter licença para o seu negócio.

Memória
Operação no Setor Hoteleiro Sul
A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) cumpriu um mandato de busca e apreensão na boate Bona Pub, no Hotel Bonaparte (Setor Hoteleiro Sul), em 18 de junho. De acordo com a investigação, o local servia como facilitador para a prostituição de cerca de 15 adolescentes e mulheres adultas, que podiam entrar de graça e não pagavam as bebidas que ingeriam.

Os policiais encontraram na boate anotações contendo supostamente os nomes das meninas e uma lista de clientes. O que levou os agentes ao esquema foi a investigação de uma adolescente levada pela mãe para se prostituir. Com a mulher, que também era prostituta, sete pessoas acabaram indiciadas. Entre elas, o dono da boate, Neemias Carneiro, o irmão dele, o gerente Enéias Carneiro, e o manobrista, Francisco Vagner.

Esse último, segundo a investigação, era suspeito de atuar como uma espécie de cafetão, pois obtinha lucro a partir da exploração sexual das adolescentes. As meninas tinham que pagar R$ 50 a cada cliente que conseguiam na boate. Isac da Silva Soares, acusado de aliciar adolescentes no Setor Hoteleiro Sul, foi preso na semana anterior. Ele responde pelo crime de facilitação de prostituição, que prevê pena de 2 a 5 anos de prisão. (RA)

 

Ligações suspeitas



Menina ; O que foi?
Davi ; Se você quiser ir lá na Parthenon depois, eu te levo lá.
Menina ; Tá bom.
Davi ; Você vai gostar de trabalhar lá, bebê. Você pode trabalhar à noite e, quando terminar o expediente, você vai lá pra casa e dorme. Quando acordar vai para a sua casa.
Menina ; Tá. Te falo então, te ligo.
Davi ; Mas eu tenho que ir com você lá. Eu ganho uma comissãozinha.
Menina ; Pode deixar.
Davi ; Na segunda semana sua lá, eu ganho R$ 50. Aí, depois, eu pago um programa para você.



Davi ; Eu tô aqui na Rodoviária (do Plano Piloto) com a menina de Goiânia (menor de 18 anos, segunda a polícia). Busquei ela pra cá e não tem mais ônibus. Tem como mandar o menino buscar a gente aqui?
Jonas ; Mas já é uma hora da manhã;
Davi ; Ela é dançarina.
Jonas ; Ela veio para trabalhar?
Davi ; É, ela veio para trabalhar. Se quiser, você pode ver a apresentação dela.
Jonas ; Ela vai ficar na pousada?
Davi ; Não, ela vai ficar no apartamento meu, aí do lado, pertinho da boate.
Jonas ; A mulher é bonita, né?
Davi ; É. E dançarina também. Tem um aproveitamento bom.

 

 

 

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