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Aprendizado da cultura negra desperta nos alunos consciência de que preconceito é atraso de vida

Aprendizado da cultura negra leva a uma escola da cidade mais do que o conhecimento sobre o continente africano: desperta, nos alunos, a consciência de que preconceito é atraso de vida

postado em 27/11/2009 07:07
Estudantes no Teatro nacional: canto, dança e interpretação baseados em pesquisa de raízes culturais
As cores vivas do figurino, os movimentos bem elaborados e o uso de colares e penteados especiais demonstravam o grande conhecimento dos alunos de Santa Maria sobre a cultura africana. Esses elementos tomaram conta do palco da Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Claudio Santoro, na tarde de quarta-feira última. As vozes afinadas de estudantes e professores de escolas de Santa Maria entoaram versos de músicas de origem afro enquanto a plateia dançava empolgada. Mais de mil jovens matriculados em centros de ensino da rede pública assistiram à apresentação do Concerto Cultural Brasilieiro. O grupo de 25 integrantes, dedicado ao canto, à dança e à interpretação, nasceu em Santa Maria há sete anos.

O evento fez parte da programação do Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro. Seis anos depois da sanção da Lei Federal n; 10.639, de 2003, que inclui a história afro-brasileira no currículo escolar (leia O que diz a lei), os colégios do Distrito Federal ainda não se adaptaram totalmente. O titular da Diretoria Regional de Ensino de Santa Maria, Júlio Moronari, dirige também o espetáculo e garante que as escolas de Santa Maria são pioneiras. ;Somos a única cidade do DF que segue a lei. Trabalhamos o ano inteiro com esse tema;, explica. Semanalmente, os alunos ensaiam as coreografias. O musical desse ano levou o nome de Raízes culturais ; Batuques e canções.

Os professores e a diretoria dos colégios também se envolvem no projeto. Marco Marcantônio, diretor do Centro de Ensino Médio 404, em Santa Maria, fantasiou-se e dançou com os estudantes. ;É uma interação muito grande que muda toda a realidade dentro da escola. As atividades diminuem o preconceito e valorizam os estudantes;, afirma. As impressões de Marcantônio são verdadeiras. Kayque Pedro da Silva, 19 anos, aluno do CEM 404, encontrou sua vocação depois das aulas de dança e teatro. ;Vou cursar artes cênicas na Universidade de Brasília. Já passei na prova prática, agora falta o vestibular escrito. Antes de fazer parte do Concerto Cultural Brasileiro, eu não sabia o que queria ou se era capaz de ser um artista;, lembra o adolescente.

Além da apresentação artística, os envolvidos no programa participam durante todo o ano letivo de palestras e oficinas sobre a cultura afro-brasileira. As aulas de percussão e ritmo são algumas das mais concorridas. ;A escola tem o poder de difundir valores para toda a comunidade. Cientes disso, nós tocamos esse projeto com seriedade;, diz Moronari.

Outros exemplos
Antes do Concerto Cultural Brasileiro, o coral Oásis fez sua apresentação. Meninos e meninas cantaram o Hino Nacional em ritmo de batuque. Logo na entrada da sala, professores de vários centros de ensino público do DF expuseram trabalhos com temática afro. Lucilene Costa, educadora do Caic do Areal, alfabetiza crianças de, em média, sete anos. Durante as aulas, ela percebeu que o preconceito já morava dentro da cabeça de gente muito pequena. ;Uma aluna negra desenhou-se com a pele cor-de-rosa. Quando perguntei o porquê, ela me disse: ;Não pinto de marrom porque é uma cor feia;. Outras desenhavam a mãe, que é negra, banca e com cabelos loiros. A partir daí, notei a necessidade de trabalhar a aceitação da própria tonalidade de pele com essas crianças;, relata.

Depois dessa experiência, Lucilene decidiu unir literatura a bonecos para mostrar aos alunos a importância da diversidade e do respeito. ;Fiz várias bonecas negras. Elas são personagens de livros lidos em sala de aula. Os textos falam especialmente sobre o cabelo e a cor da pele. Os meninos e meninas levam a boneca para casa e aprendem a gostar dela, a cuidar bem. As crianças mostradas no livro são bonitas e têm autoestima;, explica Lucilene. ;Eu tenho sorte. Na escola em que leciono, a diretora me apoia. Mas, infelizmente, o DF ainda não acordou para a necessidade de ensinar a cultura e a história africana desde cedo;, conclui.


O QUE DIZ A LEI
De acordo com a Lei Federal n; 10.639, de 2003, o conteúdo programático de todas as escolas do Brasil deve incluir o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional. Cabe aos colégios resgatar a contribuição do povo negro pertinente à história do país nas áreas social, econômica e política. A determinação diz ainda que os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras. A lei institui também o dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra no calendário escolar.



"Uma aluna negra se desenhou com a pele cor-de-rosa. Quando perguntei o porquê, ela me disse: ;Não pinto de marrom porque é uma cor feia;. Notei a necessidade de trabalhar a aceitação"
Lucilene Costa, professora

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