postado em 27/11/2009 07:35
Sessenta alunos portadores de necessidades especiais conseguiram enxergar a arte com outros olhos. São crianças e adolescentes com idades entre 9 e 14 anos que descobriram no pincel, nos materiais alternativos e nas cores a capacidade de criar as mais belas obras abstratas. A partir de palitos de picolé, CDs velhos, barbante, recortes de revistas e tinta, os pequenos deram asas à imaginação. E o resultado pode ser apreciado no Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul.
A exposição Uma arte muito especial nasceu de um projeto de inclusão da professora de artes do Centro de Ensino Especial 2 de Brasília, Tatiana Silva Rodrigues, 31 anos. No ano passado, ela viajou para o Canadá, onde passou a estudar formas para desenvolver atividades com deficientes. Até então, nunca havia trabalhado com a modalidade de ensino especial. ;Me apaixonei e resolvi levar adiante o que aprendi;, conta. De volta a Brasília, a professora não perdeu tempo e, em agosto do ano passado, já estava em sala de aula descobrindo a melhor forma de despertar a habilidade de cada um. ;É um trabalho desafiador porque rompe barreiras;, acredita.
Daniel Pinheiro e Souza tem oito anos e é portador de deficiência intelectual. Sempre gostou muito de recortar e colar desenhos de revistas. A mãe dele, a dona de casa Eliene Pinheiro, 38 anos, relata que, desde que começou a frequentar as oficinas, o filho se interessa ainda mais pela arte. ;Toda hora, ele pega um papel e começa a recortar ou desenhar. Ele também está menos agitado e fica feliz na hora de ir para a escola;, diz. Em casa, as surpresas não param de acontecer.
No último sábado, Eliene chorou de emoção quando o filho mostrou que tinha conseguido escrever o primeiro nome. ;Estava na cozinha fazendo comida e ele chegou e me mostrou que tinha conseguido escrever o nome sozinho. Estava muito legível e quase não acreditei. Saí correndo para mostrar para o meu marido e depois dei um beijo no meu filho falando que era para ele continuar. Fiquei muito emocionada porque a gente vê que, de lá para cá, ele tem apresentado um bom rendimento.;
Caroline de Oliveira Araújo, de 13 anos, tem a mesma deficiência de Daniel. Carinhosa, só deixa de abraçar a professora na hora de posar para a foto ao lado das obras artísticas que produziu. Com sorriso no rosto, não esconde a satisfação de ter feito algo que chamasse tanta atenção e despertasse interesse das pessoas. ;Vejo a arte como uma maneira de expressão e comunicação. Acredito que ele seja importante porque levanta a autoestima e ajuda na socialização também;, explicou a professora Tatiana.
Segundo ela, a produção de arte com alunos portadores de deficiência tem como um dos objetivos mudar a mentalidade das pessoas. ;É uma forma de mostrar para alguns pais que aquilo que eles fazem não é uma coisa feia ou lixo. Eles são artistas de verdade;, destacou. A mãe de Caroline está feliz em ver que a filha gosta de se sujar de tinta. ;Ela era menos interessada, mas agora passa o dia inteiro pintando o caderno. Até a coordenação dela melhorou;, contou.
CONHEÇA
A exposição Uma arte muito especial foi aberta ontem e segue até 12 de dezembro. As obras dos 60 alunos do Centro de Ensino Especial 2 de Brasília podem ser vistas de segunda a sexta-feira, das 9h às 21h. A entrada é gratuita.