; ANA MARIA CAMPOS
; LILIAN TAHAN
; MARIANA FLORES
Um dia depois de deflagrada a Operação Caixa de Pandora, que investiga suposto esquema de corrupção, integrantes do primeiro escalão do Executivo passaram o dia discutindo como agir diante da crise política. O GDF prepara uma reação para ser anunciada nesta semana, quando o governador José Roberto Arruda (DEM) deve fazer uma defesa pública contra as acusações contidas no inquérito do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Arruda passou o sábado reunido com conselheiros, estrategistas, advogados e recebeu em sua casa o presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ).
A ordem de Arruda é manter a máquina em funcionamento, apesar da desestruturação no governo, que teve quatro integrantes com status de secretários afastados em função da operação deflagrada pela Polícia Federal: o secretário de Educação, José Luiz Valente; o chefe da Casa Civil, José Geraldo Maciel;, o chefe de gabinete, Fábio Simão; e o assessor de imprensa, Omézio Pontes. O autor das denúncias que deram origem à ação da Polícia Federal, Durval Barbosa, foi exonerado da secretaria de Relações Institucionais. Ele ainda não apareceu publicamente desde que atuou como informante do Ministério Público e da PF em troca de redução de pena possível para 37 acusações que responde por suposta formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva e fraude em licitação.
De acordo com um assessor próximo a Arruda, a partir de segunda-feira, a equipe será orientada dentro do possível a cumprir a agenda e a rotina de governo até mesmo como estratégia na tentativa de superar os ataques. Na manhã de ontem, o GDF manteve o lançamento das obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Enquanto isso, boa parte do governo estava reunida em gabinetes reservados tentando analisar a extensão da crise. Uma frente de trabalho é a estratégia de defesa. Mas a outra será o contra-ataque político. Aliados de Arruda se concentram em reunir munição para atingir adversários, a quem responsabilizam pelo escândalo. Entre os estrategistas, há uma avaliação de que a delação premiada de Durval teve um enfoque político-eleitoral em benefício de outras candidaturas ao Palácio do Buriti.
Esclarecimentos
Um dos secretários afastados do governo por suposto envolvimento com o esquema de pagamento de propina, José Luiz Valente, negou ontem ao Correio participação no escândalo. Segundo afirmou, ele não tinha conhecimento da relação mantida entre Durval e o assessor da secretaria Adaílton Barreto, que teria prestado ontem depoimento à Polícia Federal confirmando ter recebido R$ 60 mil das mãos do ex-secretário de Relações Institucionais. ;Nunca recebi dinheiro algum de nenhum assessor e jamais soube da relação dele com Durval. Esse depoimento foi dado à Polícia Federal;, afirmou Valente, que ficará afastado do governo até o fim das investigações.
José Geraldo Maciel, que foi alvo da ação de busca e apreensão em sua casa e no anexo do Palácio do Buriti e aparece em vídeos recebendo dinheiro de Durval Barbosa, sustentou ontem por meio de sua assessoria que confia no esclarecimento dos fatos. ;Estamos ajudando e vamos continuar colaborando nas investigações, pedi o meu afastamento da Casa Civil para poder colaborar mais efetivamente como pessoa física nas investigações;, afirmou.
DEM avalia denúncias
Não foram só o Executivo e o Legislativo que passaram o sábado calculando o tamanho do desgaste causado com a revelação do suposto esquema de corrupção apontado pela Operação Caixa de Pandora. A cúpula do Democratas também avalia como se posicionará diante das denúncias que atingem o GDF.
Integrantes da direção do partido estão preocupados com a repercussão do caso e designaram advogados para destrinchar o relatório de 780 páginas do Superior Tribunal de Justiça que contém gravações sobre a suposta divisão de dinheiro de propina entre integrantes do governo e deputados distritais.
Diante das acusações, o partido está dividido entre tomar uma posição enérgica e se precipitar e sofrer um avaria maior com a demora numa reação. Optou ontem por dar 48 horas para os desdobramentos do caso. ;O governador tomou a decisão correta, afastou os secretários e colocou o governo à disposição da polícia, o que é fundamental para dar transparência ao processo. O partido vai aguardar o decorrer das investigações para que tudo fique mais claro e só então vamos nos pronunciar;, disse o presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia.
Maia cancelou uma viagem que faria a Espanha neste final de semana para acompanhar de perto os desdobramentos do processo contra a administração Arruda. Na manhã de ontem ele esteve na casa do governador levado pelo secretário de Transportes, Alberto Fraga (DEM). Maia e Arruda conversaram demoradamente sobre a crise. (LT e AMC)